A censura novamente deu o ar das graças no jornalismo baiano
“Os assassinos da inteligência e o analfabetismo funcional como instrumento de doutrinação ideológica.”
Por Elenilson Nascimento
Quando se trabalha pesquisando, explorando, arriscando, saímos da eterna e cinzenta zona de conforto com o perigoso caminho de criar inimizades, para ousar, descobrir, arriscar, informar, surpreender e surpreender-se com o próprio caminho. E uma pessoa exposta a constantes estímulos contraditórios pode acabar vítima de profunda dissonância cognitiva. É a própria capacidade de raciocinar que sai afetada neste processo, quando alguém – especialmente um jovem aluno cotista – escuta um idolatrado professor dizer “A” e, no instante seguinte, negar o mesmo “A”. A confusão é enorme e o coitadinho pode até não se recuperar nunca mais.
Se no meio acadêmico a coisa anda tão tenebrosa, imagina o que anda acontecendo no meio político e na imprensa deste país, onde as pessoas normalmente não têm opinião, são bajuladoras e não passam de projetos de trypanosoma cruzi. Mas hoje é muito mais fácil para quem já nasceu on-line, podendo escrever no Facebook o que bem entende (ou quase), e podendo falar mal de um político em seu blog (até o Google deletar tudo), achar exagero este papo todo de preocupação com a liberdade de expressão. Mas acredite, só valorizamos aquilo que nos falta. E para mim a liberdade é um bem inegociável.
Contudo, ao contrário do que muitos pensam, NÃO EXISTE LIBERDADE DENTRO DA INTERNET E FORA DELA. Muitos países já têm se preocupado em regulamentar a Internet. Os provedores, empresas de telecomunicações e prestadores de serviços têm usado a desregulamentação na Internet para abusar dos consumidores. Nos Estados Unidos as empresas têm manipulado a velocidade de acesso para inibir usuários que baixam muitos vídeos e músicas. Aqui no Brasil as empresas de telecom têm artificialmente mudado a prioridade e o roteamento dos pacotes para piorar a conexão e garantir que o usuário use o celular ou o telefone convencional. O Google tem usado e vendido informações sobre o perfil de acesso dos usuários para fins de publicidade, além de excluir sites e blogs que tenham supostamente “conteúdo perigoso” – como foi o caso do Literatura Clandestina e de todos os meus espaços na rede vítimas dessa censura vergonhosa.
Mas os petistas, que acusam o PSDB de querer retirar todos os posts ofensivos das redes sociais, que se dizem defensores das liberdades democráticas, que esquecem que toda a base da política social que o governo do PT hoje prática, foi conceituada por uma verdadeira socialista(?), Dra. Ruth Cardoso, e ainda escrevem que quem não concorda com o que eles pensam não merecem nenhum crédito. Na Bahia, todos os veículos de comunicação, batem nessa mesma cartilha. Os três jornais impressos não passam de empresas para adestrar porcos: vendendo classificados, CDs por 0,75 centavos, fofocas de artistas decadentes do axé e de políticos medíocres da província. E viva ao Hino Nacional executando pela Neojiba no TCA, no último domingo, para emocionar as massas alienadas. E detalhe: vaiar qualquer manifestação desse tipo é caso de execração virtual e edição urgente pela TVE.
E depois de eu mesmo ter tido mais um texto censurado, dessa vez no jornal Tribuna da Bahia por, segundo o editor, conter “adjetivações contra o Lula”, a última vítima desse manipulação retrograda do pensamento foi a excelente escritora, ativista cultural e colunista da revista Muito (do grupo A Tarde), Aninha Franco (*que ainda não enviou uma única linha da nossa faminta entrevista tão aguardada), onde o tema do seu artigo que não foi publicado no último domingo, 15/06, vinha condenando justamente essa doutrinação ideológica deliberada pelo PT nos últimos anos, alertando essa máquina de produzir imbecis. É o velho duplo padrão da esquerda, já bastante conhecido pelos mais atentos.
Aninha Franco
“Pode dizer-me que caminho devo tomar?” “Isto depende do lugar para onde você quer ir.” – disse o Gato. “Não tenho destino certo…” – disse Alice.
“Neste caso qualquer caminho serve.”
Esse diálogo foi retirado do livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol, num exemplo bem sintomático, pois o vemos diariamente no discurso esquerdista. As milhões de mortes produzidas pelo comunismo, por exemplo, nunca são de responsabilidade direta do comunismo, ou são relativizadas, como se contar cadáveres em fatias e vender as partes nos frigoríficos do Extra fosse desnecessário ou mesmo insensível. Por outro lado, os menos de 500 mortos pelas duas décadas de regime militar são provas da violência, crueldade e agressão do anticomunismo. Mas a censura que está implementada no Brasil atual é ainda mais violenta porque emana uma carga de demência mortal.
Mas quando um petista de camisa vermelha com a estrela do partido esperneia contra o que chama de “contabilidade macabra de direita”, tem, é claro, uma boa razão para fazê-lo. Contados os cadáveres de outrora, é impossível negar que o comunismo foi um dos flagelos mais mortíferos que já se abateu sobre a humanidade. Diante disso, só resta apegar-se ao subterfúgio insano de que o macabro não reside em fazer cadáveres e sim em contá-los. E o que é pior: transformá-los em bestas virtuais e sem formação crítica.
A escritora Anna Carvalho já escreveu que a censura, antes velada, agora está escancarada através de um partido assistencialista com uma natureza ditadora que não consegue se esconder, pois comete a garfe contra a liberdade de pensamento:
“Que história é essa de que escritores, atores e artistas não podem se manifestar contra o PT porque são emporcalhados? Não basta o PT se espalhar feito câncer nas estruturas até então soberanas e fazê-las ficar a mercê de seu ostracismo? Quando foi conveniente, requisitaram artistas, agora calcinam aqueles que se levantam. Vão ameaçar de morte, vão tirar do ar como fizeram com o Literatura Clandestina? Pois, estamos aqui e eu não sobrevivi nos últimos anos de ditadura com bedéis nos corredores da minha escola para vê este circo impunemente. Diante de mim, o seu cinismo e dos seus comparsas não pega, pois covardia é acabar com o direito de ter oposição no país, é barrar gente com camisa em estádio. Covardia é colocar a pobreza numa espécie de aquário para que o partido à venda, a pilhe descaradamente porque é incapaz de resolver problemas”.
Somando à insanidade o fingimento desses jornalecos provincianos, a proibição do texto de Aninha Franco é mais uma manifestação de autoritarismo e ignorância, quando falamos de regimes “de direita” ou “de esquerda”, donde se conclui que os mortos no regime militar – a maioria deles de armas na mão – são um placar muito mais hediondo e revoltante do que os civis desarmados e virtuais do Facebook que os “heróis” do PT e do comunismo tupiniquim continuam tentando assassinar.
…
Lelo Filho
“Em se tratando de censura, artistas são os primeiros que dançam. É como se fôssemos visados desde o momento em que damos o primeiro passo na carreira artística, em qualquer que seja a forma de expressão. Sou ator e comecei no palco num tempo em que ainda se ensaiava para um ‘censor’, que poderia aprovar, cortar ou suspender a temporada que ainda daríamos início. Milhares de textos, músicas, livros desapareceram, viraram fogueira. Artistas, jornalistas, escritores foram perseguidos, sumiram ou foram exilados. No momento escrevo FORA DA ORDEM, um espetáculo solo onde pretendo falar, também, de momentos como aqueles que o Brasil viveu. Viveu? Sei, hoje já não temos obras censuradas como naqueles tempos. Mas há um clima no ar que parece dizer: tenha muito cuidado ao discordar ou apontar problemas no país atualmente. As redes sociais estão repletas de postagens indignadas, mas ao se expor o artista pode ter seu projeto totalmente afetado pelo mau humor de quem recebe a crítica. Admiro quem tem a coragem e a liberdade de se colocar e essa foi a condição para escrever uma coluna sobre Cultura num jornal de bairro, o Fatos&Points, que circula entre a Barra e a Graça. Sem independência jamais o faria. E lá se vão oito meses da coluna, um exercício para que FORA DA ORDEM entre em cena.” (Lelo Filho, ator e diretor teatral)
Anna Carvalho, escritora
“O meu medo é que esse sonambulismo social nos remeta à década de setenta, enquanto o futebol em nada ingênuo se arrastava épico nos estádios. Brasileiros emudecidos eram empalados pela arrogância de um poder em mãos de chumbo, agora o PT, com suas mãos de chumbo tão ou mais perigosas quanto, exalam o poder de censura. Blogs, sites, páginas virtuais, Facebook, todos rastreados numa espécie de arremedo de ditadura e os imbecis de plantão, os censores de costumes, do patrulhamento ideológico, se locupletam no seu ensejo de mutilar a pátria. Quem se levanta contra o PT, um partido acostumado a ser ditador, sem negociação ou com uma negociação metódica e unilateral, com populismo barato, nacionalismo de hierarquia tal qual o nacionalismo patife do nazismo, das cruzadas e expansionista, é literalmente limado. Dilma que se levanta e se regozija em formol de sua porção guerrilheira para combater vaias é incapaz de esconder que é tentada ao jogo comunista macabro, pérfido, unilateral e déspota de seus frátrios da América Latina. Espero que quando o Brasil acordar de seu sono profundo, esses patifes já não tenham colocado de vez a democracia no formol da sua ameaça vermelha numa espécie de paráfrase instituída: Brasil, ame-o ou deixe-o! Mas não nos esqueçamos de que toda ditadura em seu silêncio ou tentativa de reclama o seu cinismo é burra. Agora espero que os defensores truculentos da legenda se apresentem, com seu marxismo retórico de teia de aranha incapaz de se tornar real, e me tache de elite, e chupem meu sangue porque este é meu, dele sei eu. Ah! Esqueci: ditadura pode se manter com urnas, veja o caso da Venezuela, o populismo barato, nacionalismo de hierarquia, tudo isso já coexiste nesse país emudecido. (Anna Carvalho, escritora, professora e blogueira)
“Não concordo com uma palavra do que do que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-la”, disse Voltaire, poeta, ensaísta, filósofo, dramaturgo e iluminista francês. O debate precisa amadurecer e encontrar caminhos de discordância plena para exercício do livre pensar. Só à partir disto teremos uma sociedade democrática, republicana e um Estado de Direito. Até lá, se optarmos por censurar as vozes discordantes, estaremos exercendo uma concordância servil. Nosso pacto social tem que ser com a liberdade de expressão, sempre. E sobretudo, com a lucidez!” (Nadja Turenkko, atriz e diterora teatral)
“O jornal soteropolitano A Tarde censurou o texto da colunista Aninha Franco, na edulcorada revistinha Muito, do último domingo. Ela, brava guerreira da cultura baiana (faz muito – e o ‘muito’ aqui se aplica ao contrário da publicação que atende por este nome – pelo teatro e literatura baianas, escreveu apenas boas verdades sobre o desgoverno Wagner. O medo venceu a liberdade. Triste jornalismo baiano!” (André Setaro, escritor, crítico de cinema e professor universitário)
Antonio Mateus Soares, sociólogo
“Lamentavelmente, ainda não nos libertamos do ranço dos anos de chumbo. A censura como forma de violentar a liberdade de expressão e disseminação de processo criativos na fala e na escrita, ainda se manifestam de forma voraz. Na Bahia, ela é amplamente utilizada pelos meios de comunicação, alguns meios escritos que por algum tempo tentaram driblar o aprisionamento reflexivo, atualmente conseguem ser tão draconianos na aplicação da censura quando a televisão. O fato é que em ambos as formas as capturas e asfixias acontecem e o escritor revolucionário, que intervém fugindo do óbvio e dos “frames”, como forma de enquadramento, é obrigado a sobreviver na marginalidade, na subterraneidade, na clandestinidade. Não aguento mais abrir o jornal A Tarde e ler tantos textos frios e pasteurizados; o Correio da Bahia se transformou em uma revistinha de vendas de classificados, o jornal Tribuna da Bahia, quando não vende seus espaços para políticos, se auto propagandearem de forma mitomaníaca, utilizam a sensacionalização da miséria e da violência como elementos de atrair uma massa de leitores cada vez mais anêmicos intelectualmente. Que saudades dos PASQUINS, que além de comunicar mobilizava as interlocuções! E não me venha dizer que a virtualização das noticias são imunes às censuras, as grandes redes sociais também fazem o jogo das capturas, censurando genialidades e produções que provocam a reflexividade. Sou contra a censura, sou contra ao aprisionamento e a subjugação de ideias.” (Antonio Mateus Soares, sociólogo, professor universitário e escritor)
“Século XXI, era da informação, da comunicação e tudo que temos são dados irreais, notícias duvidosas. Mas quando se toca na ferida do poder, a mordaça ataca. Não existe democracia num país em que a liberdade de expressão é cerceada, quando o repórter investigativo perde espaço e o único gesto possível é o balançar de cabeça em sentido positivo, afirmando o que foi mandado, não o que faz sentido. (Renata Rimet, escritora)
Rosa Campos
“Esse era e, ainda é, um brado do povo! Longe da antiga ditadura e tão perto dela, atualmente, sob a ‘batuta’ dos ‘Creontes’ da vida, é que percebo o quanto o mundo político nos aprisiona, como d’antes em períodos sombrios dos Médices contemporâneos. Ao me deparar a cada dia, seja em textos, internet, vídeos subtraídos, custo acreditar que estamos em 2014. O texto de Aninha Franco, capturado pela Redação do jornal A Tarde e censurado descaradamente me remete à longínquos Calvários, percorridos pelo “BOCA DO INFERNO” – Gregório de Mattos. Considero a própria Aninha Franco, um espelho de Gregório, pois tamanha é a sua lucidez e ampla visão das coisas que chega assustar realmente. Aninha é pertinente, geográfica, dá nome aos bois ou melhor, aos cordeiros. A esse “rebanho”, um NÃO! Estamos fartos de jogos de cartas marcadas, da fanfarronice de jornalecos que se dizem, JORNAIS, de fato! Imprensa, “companheiros”, tem de ser livre e é na sua natureza, genuíno como um juramento de Hipócrates na Medicina, ou será que esqueceram? É sacerdócio! Os escritores são intocáveis e irretocáveis, porque são formadores de opinião. São os nossos filósofos contemporâneos, ou vocês preferem cultuar a mais nova filósofa brasileira do funk carioca?! Quanta hipocrisia, nós, o POVO, não precisamos de vocês, mas, vocês precisam de nós, sim! Para poder sentar a bunda na cadeira e noticiar suas medíocres amenidades do mundo da moda, das socialites ou mesmo do quão trágico foi o assassinato do zelador de São Paulo. Até quando a BAHIA vai viver sob a custódia do clã desse jornal? Sem falar do outro, que também, viveu do seu ostracismo à sombra do nada. Será que teremos novamente que ludibriar a censura como antes, transformando textos em músicas e ‘metaforar’ pessoas para que eles não percebam? (Rosa Campos, numeróloga)
…
Agora, leiam o texto censurado de Aninha Franco na revista Muito (do jornal Tarde), do último domingo:
“Os petistas estão furiosos com esse “ódio” de um terço dos eleitores brasileiros ao PT, que tampouco querem o PSDB, e buscam uma terceira via. Acusam esse desejo legítimo de “direita”, mas quando falam das “mudanças” instaladas no país pelo PT, em quase 12 anos, param na diminuição da desigualdade, que não há; na diminuição da pobreza, que não resiste sem bolsa; e nas universidades que, diante do ranking da educação, foram criadas para marketing. Como eleitora desejosa da terceira via, proponho pensar na gestão do PT na Bahia via Secretaria da Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, de Secretário afastado por suspeita de assediar, sexualmente, funcionárias.
O primeiro secretariado de Jacques Wagner (2007-2010) recebeu secretários impróprios aos cargos: o de Cultura, Marcio Meirelles, que em quatro anos destruiu tudo que nunca foi capaz de criar; e o de Turismo, Domingos Leonelli, que miserabilizou os negócios da pasta em oito anos. Eles são responsáveis, acompanhados de João Henrique, pela situação de indigência cultural da Salvador contemporânea.
Mas neste mesmo secretariado de vultos nefastos, havia Marília Muricy, pensadora jurídica, a mais brilhante aluna do filósofo baiano Machado Neto (1930-1977), pronta para propor soluções à sociedade delas carente, que há pouco mais de 100 anos era legalmente escravista, e sempre foi violenta e injusta. Em maio de 2009, Muricy foi apeada do cargo e a sua secretaria desmontada para receber a equipe de Nelson Pelegrino, candidato à prefeitura de Salvador em 2012, necessitado de visibilidade que a Câmara não lhe deu. Mas deu a seu oponente.
A partir daí, nada se sabe de significativo realizado por Pelegrino na Secretaria, até sua saída, e a entrega da pasta ao PRB, responsável pela indicação de Almiro Sena, acusado de assédio. O PRB, aliado do PT, é liderado, na Bahia, pelo ex-radialista Márcio Marinho, e realiza na área de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos ações expressivas para um presidente de associação de bairro. Pouco populoso. É só conferir no site da Câmara os projetos de Marinho, deputado federal pela Bahia, e seus discursos em datas comemorativas. Por que alguém de bom senso sentir-se-ia compelido a votar nisso? Para quê?”
P.S. O engraçado é que Aninha Franco lembrou, numa matéria do próprio A Tarde, sobre o jornal Verbo Encantado, de 12/04/2014, que, “embora todos estivessem subjugados pela ditadura, a censura não atacava apenas as manifestações políticas: “Em relação ao comportamento ela era extremamente facínora e careta”. Pior: proibia a inteligência. “O Pasquim, A Flor do Mal e o Verbo Encantado eram fundamentais porque diziam: a inteligência existe, está sendo massacrada, mas está aí”.” Mas parece que o A Tarde não segue aquilo que eles mesmos publicam. Viva a ignorância desse país!
Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Culturale possui o excelente blog Literatura Clandestina