Crítica

Crítica 12 Anos de Escravidão: abordagem necessária e relevante

12 Anos de Escravidão

Só por conseguir o feito de fazer o povo refletir tas temas o projeto de Steve McQueen já merece milhares de elogios e todo o respeito de todos, sejam cinéfilos ou não

O cinema americano vem aos poucos se apropriando de um dos temas mais complexos e conturbados de sua história: o racismo, e suas ramificações, como escravidão ou o Apartheid. Neste processo, Spike Lee foi um grande entusiasta no trabalho de jogar para as telas todos os males que a sociedade americana produziu e reproduziu nas últimas décadas. Mas ainda faltava um boom de produções que realmente fizesse da temática algo relevante e popular o suficiente para incitar reflexões realmente necessárias na sociedade.

Em 2013 podemos dizer que este boom aconteceu. Filmes como O Mordomo da Casa Branca e Fruitvalle Station ajudaram muito o iniciar do debate, mas foi com 12 anos de Escravidão, dirigido pelo cineasta Steve McQueen, que o tema realmente foi parar no seio de uma sociedade ainda confusa com o que aconteceu com os negros na história de seu país.

12 Anos de Escravidão é uma adaptação da autobiografia de 1853 de Solomon Northup, um negro nascido livre no Estado de Nova Iorque que foi sequestrado em Washington no ano de 1841, e vendido como escravo. Ele trabalhou em plantações no estado de Louisiana por 12 anos antes de finalmente ser libertado.

Steve McQueen e o roteirista John Ridley são em grande parte responsáveis pelo sucesso que o filme vem obtendo ao longo dos últimos meses mundo afora, pois conseguir impor elementos diferenciais em um tema que constantemente aparece em alguma produção cinematográfica é algo admirável. Eles conseguiram isto ao decidir construir uma abordagem que se destaca pela coragem de mostrar uma situação onde todos são cruéis; todos os brancos retratados de alguma forma desejam que este estado permaneça. Não há espaço para brancos apaixonados por negras, aqui a relação é somente sexual, e é desenvolvida através da subordinação da mulher negra ao homem branco, muitas vezes sendo o estupro a forma utilizada.

Chiwetel Ejiofor, que interpreta Solomon Northup, é a outra parte responsável pelo sucesso de 12 anos de Escravidão. Sua atuação consegue extrair do mais frio espectador um sentimento de piedade, dor, remorso ou compaixão. Estes sentimentos talvez nos tocassem mesmo se ele tivesse nascido escravo, mas não há dúvidas que o fato dele ser um homem livre, talentoso e letrado potencializa ainda mais estas emoções.

Além do estupendo trabalho de Chiwetel, 12 anos de Escravidão proporciona também excelentes atuações de um núcleo muito importante para o crescimento da história: Michael Fassbender como Edwin Epps, Lupita Nyong’o como Patsey e Sarah Paulson como Mary Epps constituem o esqueleto do filme enquanto narrativa histórica. Eles apresentam ao espectador todas as características que envolveram a escravidão americana nos últimos séculos: o inexplicável ódio, nojo e pavor que um branco pode sentir por alguém de outra cor é transmitido intensamente pela personagem Mary Epps. E aqui há espaço para elogios aos montes para Sarah Paulson, atriz que ultimamente vinha sendo sempre subaproveitada em séries de televisão. Já a relação entre Edwin e Patsey representa uma das maiores crueldades que cercam esta época: a relação de subordinação, de todas as formas, que as mulheres negras possuíam com os homens brancos. Lupita Nyong’o, séria candidata ao Oscar de atriz coadjuvante, consegue mostrar toda a dor, no sentido mais profundo possível, que a personagem carrega ao longo dos anos. Suas falas, seu choro, suas expressões, tudo nela é carregado de tristeza, de angústia e de sofrimento.

Medir a importância que 12 anos de Escravidão terá futuramente talvez seja uma tarefa difícil ainda, mas não restam dúvidas que o filme abriu de vez um diálogo sobre um dos temas mais pesados que a história americana (e mundial) terá que abordar. Só por conseguir este feito o projeto de Steve McQueen já merece milhares de elogios e todo o respeito de todos, sejam cinéfilos ou não.

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