Longa-metragem dirigido por Matheus Souza conta história de duas meninas que buscam se encontrar e que se encontram uma na outra; nos cinemas do país
Uma das estreias do cinema no último fim de semana atende pelo título de Ana e Vitória, é uma produção nacional, tem o DNA do diretor Matheus Souza e no fim das contas é uma delicia de filme.
Vamos agora aprofundar cada uma destas sentenças.
Ana e Vitória: Rio de Janeiro. Ana (Ana Caetano) e Vitória (Vitória Falcão) já haviam até mesmo estudado juntas (há um diálogo que até revela que Ana salvou Vitória em uma prova ao lhe dar cola), mas apenas se aproximam de fato em uma festa realizada muito longe de sua cidade natal, a pequena Araguaína, no Tocantins. Após se apresentar na festa, Ana fica impressionanda com a informal cantoria de Vitória, em uma rodinha de violão. Logo surge a ideia de gravarem algo juntos, que rapidamente explode na internet e chama a atenção do produtor Felipe Simas (Bruce Gomlevsky). A fama repentina as traz de volta ao Rio de Janeiro, para um show transmitido pela internet e a produção de seu primeiro CD.
Poderíamos dizer que este é um resumo bem completo do longa nacional Ana e Vitória, lançado nos cinemas nesta última leva de estreias e que se encontra na Rede UCI Orient de Cinemas. A produção, que tem uma vibe bem alternativa, tem em seu DNA o estilo Matheus Souza de fazer filmes: diálogos rápidos, bem construídos, com referências, humor jovem e conectado integralmente ao público alvo. Matheus é (ainda) um dos diretores jovens mais interessantes do cinema brasileiro e mesmo que sua grande obra até aqui ainda seja o seu trabalho de estreia, o brilhante “Apenas o Fim”, sua carreira é de longe uma das mais criativas do cinema nacional.
Isto colocado, agora é hora de destrinchar um pouco o filme, e tudo que o cerca.
Sim, porque assistir Ana e Vitória é uma experiência que pode ser descrita sob duas perspectivas diferentes: a de fã e a de cinéfilo. Como não as conhecia antes do filme, a primeira que usaremos é exatamente esta, a de alguém que foi assistir a um filme.
E pensando no filme, dá para observar de imediato que o roteiro de Matheus, que transformou uma história bem despretensiosa em um filme de quase 2 horas, ficou prejudicado por não ser tão enxuto. “Apenas o Fim”, por exemplo, possui 80 maravilhosos minutos. Há muitas sequências na trama que são parecidas, que somente buscam reafirmar a vibe do filme, que é construir uma amizade de duas meninas ímpares, talentosas e que estão em busca de algo que as preencha. O amor, basicamente.
O amor é a palavra que preenche o filme, e que dá sentido a tudo. Graças ao amor, e a procura por ele, uma procura bem libertária, natural e intensa, que Ana e Vitória constrói um fio condutor que dá algum sentido real ao filme. É bonito vê-las correndo atrás da felicidade, mesmo que num primeiro momento esta busca soe forçada, quase como naquelas séries onde todos se pegam (Barrados no Baile, alguém lembra?).
Ana e Vitória – O filme
Mas como disse, essa busca soa tão natural nas duas meninas que a única coisa que resta ao público é torcer para que no fim sejam felizes. E essa felicidade está intimamente ligada ao futuro profissional delas, já que Ana faz questão de deixar claro que suas letras são sobre estes amores. É a essência da dupla, então seria um erro o roteiro amenizar esse lado do filme.
Se os diálogos de Matheus são ótimos, para variar, as atuações são curiosas. Sim, todas as sequências envolvendo a dupla, seus diálogos, as interações entre elas, são perfeitas: ambas se conhecem, há uma naturalidade absurda, que compensa sobremaneira o fato delas não serem atrizes profissionais.
Essas sequências são prejudicadas quando a interação acontece com outras personagens. Neste momento quem foi ver somente o filme, percebe. Já os fãs, bem, esses não estão nem ai, e de fato não precisam estar mesmo, pois não há nada decepcionante, há somente pequenas falhas.
Podemos falar também da estrutura do filme. Sim, ele peca em não ter momentos de tensão narrativa. Por tensão narrativa entenda-se através da pergunta: pra onde vai esta história? Duas amigas que se conhecem, começam a cantar, buscam o amor… mas e ai? Uma das respostas a seguir é a de sugerir que a dupla quase não aconteceu para o mundo. No primeiro show delas, no terraço de um prédio, Vitória quase desiste. A cena, que dura alguns minutos, é o epicentro de todo o roteiro. Ali temos carga emocional, temos o objetivo, temos a reviravolta. O problema é que demora bem pouco e é rapidamente resolvido.
Com um roteiro não tão enxuto, diálogos maravilhosos, objetivo um tanto confuso, e sequências musicais que abrir sorrisos, Ana e Vitória é um filme gostoso de assistir. Leve, não desmerece o amante de cinema. É um filme sim, e se colocarmos dentro do grupo de estreias do ano (nacionais e importados), ele estará em uma boa posição.
Agora tudo isso falamos enquanto adoradores do cinema. Pois se você for fã de AnaVitória, então o filme é alçado ao status de perfeito. E ai o objetivo é claro: o filme consegue conectar ainda mais a dupla aos seus fãs, elas se abrem, se deixam vulneráveis, e não há nada mais importante para um fã do que ver seu ídolo se mostrando sem máscaras.
Em Ana e Vitória este feito é alcançado.