Crítica

Crítica Boi Neon, de Gabriel Mascaro: uma obra fascinante

Boi Neon


Mascaro convida o espectador a visitar aquele mundo, a perceber como aqueles indivíduos se adaptam às suas ambições em seus sonhos impossíveis e os modos como a vida os castra

Por João Paulo Barreto

Em Boi Neon, o universo bruto dos vaqueiros traz uma diferente aura.

Vaqueiro com aparência bruta, suja, quase violenta, mas que esconde uma sensibilidade disfarçada. Nem mesmo ele sabe que a possui. Apesar de não parecer pertencer àquele lugar, soa como algo natural, nada que seja alheio àquele seu universo.

No sonho de ser estilista, Iremar cata em meio à lama de um depósito de materiais descartados de uma fabrica de tecidos, partes de um manequim que o ajudam, mesmo que de forma pequena, a tornar aquela ambição mais palpável.

O diretor Gabriel Mascaro traz no construir daquele ambiente toda uma reestruturação de seus personagens, retirando-os da obviedade e da previsibilidade que suas aparências supostamente trariam como bagagem. Aqui, a mulher, Galega, é a caminhoneira a levar o pesado veículo repleto de bois de vaquejada em vaquejada. Na boleia do veículo é onde encontra sua privacidade feminina. Onde serve de modelo para que Iremar retire suas medidas para as roupas e onde ela se depila para transar com Júnior, o vaqueiro de chapinha no cabelo e que usa aparelho nos dentes não porque precisa, mas “porque acha massa, mesmo”.

Nesse ínterim, Galega cria sua filha sem um pai por perto. A menina, Cacá, sonha em possuir um cavalo e os desenha nas páginas ejaculadas de uma revista pornô que Zé, um dos vaqueiros, carrega consigo. Naquele ambiente, é o único lugar onde ela consegue desenhar para ilustrar seus pequeninos sonhos. Na mesma revista, Iremar rabisca suas peças de roupas por cima das mulheres nuas, gerando uma raiva quase cômica em Zé, que “paga dez reais pra ver buceta”, mas encontra as páginas riscadas. São personagens presos àquele mundo hostil que, apesar de não maltratá-los, os restringe, castrando-os de suas ambições…

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