Crítica

Crítica Dupla Identidade episódio dez: Rede Globo boicotando a própria série

Mesmo sendo uma das séries mais comentadas da emissora, ela insiste em jogar os episódios para cada vez mais tarde

É bem interessante observarmos a diferente visão que a televisão brasileira possui se comparada com a americana em termos de séries. Enquanto que nos Estados Unidos este produto pertence ao horário nobre (20h, 21h e 22h), aqui no Brasil, especificamente na Rede Globo, ela é jogada para quase de madrugada, mostrando que ainda está longe de ser tão valorizada quanto às novelas. É até compreensível em alguns casos, mas em outros chega a ser inaceitável.

Dupla Identidade foi relegada pela emissora ao último horário da noite, sendo que o décimo episódio teve seu início já próximo da meia noite de sábado. Cobrar uma audiência significativa neste caso se torna uma injustiça imposta pela emissora carioca. E não vale responder com o argumento de que a série possui conteúdo impróprio para o horário nobre, pois há uma diversidade de programas, filmes e outras séries que são exibidas antes deste horário nada comercial.

Dito isto, vale a menção de que o décimo episódio da série frustrou um tanto as expectativas de quem acreditava que a história já seria finalizada na última sexta. Gloria Perez foi esperta em prolongar a descoberta derradeira da culpa de Edu, porém pecou em não apresentar nada de muito interessante para o espectador ver.

Até já imaginávamos que a fase de caça de Edu teria os dias contados, pois à medida que a história fosse chegando ao seu desfecho, ele teria menos espaço para praticar seu lado serial killer. Com isto, a partir de agora só nos resta a perspectiva de um gran finale para Edu, que seria uma última vítima de impacto, podendo ser Ray, Vera ou a que se mostrava mais provável até aqui: Tati, a filha adolescente de Dias.

Dupla Identidade

Também imaginávamos que o núcleo político, especificamente a personagem da atriz Marisa Orth, teria mais destaque, podendo exercer inclusive papel significativo em alguma sequência crucial para os rumos da série. Isto aconteceu neste décimo episódio quando Dias mostrou ao Senador Oto o que seria uma grande prova da culpa de Edu, mas ela conseguiu tomar o objeto das mãos dele, jogar no fogo e assim destruir a principal evidência que ligaria Edu aos assassinatos.

A cena foi bastante forçada e mostrou que o núcleo policial ainda é (já estamos quase no final) um ponto fraco da história. Foram muitas conveniências forçadas que o roteiro utilizou para que a vida de Edu fosse facilitada ao máximo e um deles foi criar uma equipe policial formada por incompetentes e ignorantes. É só lembrar o descrédito pelo qual Vera foi vítima em todos os momentos até aqui, sendo muitas vezes motivo de piada entre os detetives da equipe policial.

Entretanto não só de pequenos problemas vive a série. Um momento de destaque foi a sequência feita para estreitar de vez os laços de Edu com Tati, que foi bem realizada, e criou uma expectativa muito grande em quem assistia. A cada aproximação de Edu, acreditávamos que ela seria enforcada, ou algo do tipo. Porém nada aconteceu, e agora será bem difícil pensar em uma situação que permita um novo encontro entre a garota e Edu. Os roteiristas terão bastante trabalho em criar um contexto que faça Edu voltar a ter espaço para matar, já que para Vera e Dias não há a mínima chance de Edu não ser o assassino.

Bruno Gagliasso continua entregando atuações dignas de prêmios e suas expressões faciais são por vezes tão intimidadoras que ele nem precisa usar força física para meter medo no espectador. Bruno, junto com Débora Falabella, merece indicações em todos os tipos de premiações sobre televisão que acontecem no país. O mesmo não se pode dizer de Luana Piovani e Marcelo Novaes, que não conseguiram impor um tom natural aos seus personagens. Luana até cresceu bastante a medida que sua personagem foi ganhando respeito na delegacia. Já Marcelo desde o início impôs uma atuação burocrática para um personagem burocrático.

Dupla Identidade

Falando um pouco do desfecho do último episódio, será bem curioso ver como a narrativa conseguirá fazer que Edu volte às ruas e cometa mais alguns assassinatos. Neste exato momento da história ele tem uma série de provas contrárias a si e tem, acima de tudo, a certeza por parte de Vera e Dias de que ele é o assassino. Dificilmente os dois policiais deixarão esta ideia de lado. Dias, agora que teve conhecimento da relação de Edu com sua filha, irá intensificar ainda mais a caça ao serial killer. O roteiro ainda tem alguns trunfos, como a história do cadarço, que pode livrar Edu de algumas acusações, mas ainda assim é pouco tendo em vista todo o contexto atual.

Dupla Identidade chega a sua reta final com um saldo bastante positivo. Os personagens continuam coerentes em seus comportamentos, o protagonista continua brilhando e a história continua valendo a pena. Acompanhá-la tem sido um prazer bem grande, principalmente para os amantes de uma boa trama de suspense.

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