Godzilla 2014
Nos cinemas já há algumas semanas, a nova roupagem que os americanos deram ao icônico monstro japonês Godzilla pode ser considerada um grande sucesso dentro das perspectivas de bilheteria e dos efeitos especiais, mas nos outros quesitos vemos as queixas de sempre neste tipo de filme: personagens mal desenvolvidos, diálogos pífios, roteiro raso e clichês atrás de clichês. Porém, há de se questionar o porquê destas queixas e se elas realmente condizem com a verdade e, também – por que não dizer – com a proposta do projeto.
Mas primeiro de tudo: por que trazer de volta o Rei dos Monstros às telas de cinema? Bem, porque o mercado americano está cada vez mais carente de textos originais e também pelo fato de outras produções do gênero (Cloverfield e Pacific Rim) terem sido bem sucedidas comercialmente. E, além disto, o filme de estreia de Gareth Edwards (o diretor de Godzilla) além de ser do mesmo gênero, foi sucesso de publico e crítica. Chamá-lo para o projeto daria um ar de novidade em um tema dominado até então pelos Roland Emmerich e Michael Bay da vida.
Agora me diz: o que trouxe de volta o temido Godzilla? Bem, a história, escrita por Max Borenstein, começa nas Filipinas, quando escavações trazem à tona a existência de uma criatura devoradora de radioatividade (M.U.T.O. = Organismo Terrestre Maciço e Não Identificado). Esse monstrengo, já no Japão, acaba destruindo uma enorme área, matando muitas pessoas, incluindo ai a esposa do cientista Joe Brody (Bryan ‘Breaking Bad’ Cranston), interpretado pela magnífica (mas subaproveitada) Juliette Binoche. 15 anos após, Ford Brody, o filho deles, agora um rapaz (interpretado por Aaron ‘Kick Ass’ Taylor-Johnson) é chamado para soltar o pai, preso no Japão, por invadir o local antes destruído. O pai, certo de que algo havia matado sua esposa, leva o filho ao local, e descobrem parte da verdade.
Mas cadê o Godzilla? Esse é o grande problema do filme, realmente o Rei dos Monstros não apareceu ainda, por isso não há menção. O que há de fato até aqui é a destruição de meio mundo de lugares pelos monstrengos não identificados. Aliado a isto, toda essa longa primeira parte tem como foco básico a construção (equivocada) dos personagens principais – Ford e seu núcleo familiar (esposa e filho) – além da tentativa de explicar o surgimento dos monstros. É sabido que em filmes como Godzilla, a construção aprofundada de personagens tende a dar errado, já que desde a premissa sabemos que o filme nasceu para nos entreter, divertir e mostrar criaturas gigantes destruindo tudo pela frente. Demorar em entregar ao público o que ele de fato queria ver talvez tenha sido o maior erro da história.
Bryan Cranston e Aaron Taylor-Johnson
CADÊ O GODZILLA? Ele chega já na parte final, depois de uma entrada à lá Tubarão, do Steven Spielberg, ou seja, vemos bem aos poucos, e somente no fim a sua figura imponente é mostrada por completo. Mas devemos dizer que ele chega chegando, disto não há dúvidas. Os 30 minutos finais, que mostram a épica batalha no mar de Godzilla com os monstrengos M.U.T.O. são de tirar o fôlego e de valer o ingresso. Sabe aquele jogo de futebol que está bem morno, mas que no final alguém faz um gol de placa que vale o ingresso. Pois bem… mesma coisa.
Então o filme é bom? Por vezes é presunção demais tachar um filme de bom ou ruim. O filme possui elementos muito interessantes, como toda a parte técnica, com efeitos especiais que realmente são sensacionais. A batalha final, que acontece durante a noite, com pouca luz, bem dark, com uma trilha sonora (Alexander Desplat ataca novamente) eficiente faz a ida ao cinema valer a pena. Por outro lado, é meio vergonhoso para quem gosta de cinema ver grandes atores como Bryan Cranston, Juliette Binoche, Sally Hawkins e Ken Watanabe sendo tão mal aproveitados. A questão não é nem desenvolver os personagens com mais profundidade, é somente dar aos personagens alguma personalidade, pois daí surge a empatia do público e bingo, o filme está ganho. Godzilla falha neste sentido.
Então é ruim? Como dizem aqueles: se quer ver profundidade, vai assistir a um filme do Stanley Kubrick. Claro que a ideia é tola e dá sim para ter densidade narrativa em blockboosters (e não é só o Christopher Nolan quem faz isso não). Mas sejamos francos, desde o início que sabíamos que a refilmagem de Godzilla penderia para o lado do entretenimento, então há também um problema de expectativa do espectador. Se você for esperando um filme bem consistente em termos de narrativa, com uma história densa e personagens bem desenvolvidos, irá – provavelmente – se frustrar. Mas se for ao cinema se divertir, com aquele sacão de pipoca com refrigerante zero caloria na mão e um monte de amigos ao lado, ai a diversão é quase que garantida.
Godzilla entrega o que promete. Cabe a você decidir se o que ele promete é suficiente para te fazer feliz. Se for, vai fundo! Se não for, ta passando uma maratona do Bergman em algum lugar que não lembro agora…