Crítica

Crítica Império: novela promete ser uma das melhores da década

Novela Império

Império estreou semana passada apresentando tudo que uma boa novela deve possuir: história interessante, personagens bem construídos e ótimas atuações

Por Luis Fernando Pereira

Claro que ainda é uma avaliação preliminar, afinal de contas, afirmar categoricamente que uma novela de duzentos capítulos será ótima tendo como base somente os quatro primeiros é bastante arriscado. Mas ao menos já dá para cravar que a primeira semana de Império, novela de Agnaldo Silva elevou e muito a qualidade do produto novela na Rede Globo. Esse nível de qualidade, que cria um abismo entre as novelas da Rede Globo e as das outras emissoras, já vinha acontecendo há algum tempo, desde Avenida Brasil que esta atmosfera cinematográfica e esta atenção aos detalhes vêm tomando conta das produções da empresa. Entretanto, a julgar pelos primeiros capítulos, Império jogou ainda mais para cima tudo isto, provando que dá para inserir qualidades narrativas e técnicas em um produto tão popular e abrangente como novela.

E foram vários os elementos que fizeram da novela uma obra digna de aplausos, a começar pelo começo, como diria a famosa frase, logo na primeira sequência, que mostra o personagem José Alfredo (Alexandre Nero) sobrevoando aquele que é o local onde toda sua história começou: uma enorme mina de exploração de pedras preciosas. As imagens abertas, com um plano geral do local, já dá a ideia de grandiosidade que a novela proporciona no primeiro capítulo. É tudo um tanto épico, desde os takes, até a trilha incidental que serve como complemento à cena. Ali já sabemos que se trata de um milionário que nem sempre fora assim, e que sua chegada ao local também serve para visitar alguém muito importante em sua vida, que ali está enterrado. Sem muita demora a direção do capítulo, a cargo de Rogério Gomes, volta no tempo, para quando José Alfredo ainda é um jovem (interpretado pelo ator Chay Suede) pobre saído de Recife e que tentava ganhar a vida no Rio de Janeiro, se hospedando na casa de seu irmão (Thiago Martins).

Lá conhecemos duas das personagens principais da novela: a esposa de seu irmão Eliane (Vanessa Giácomo) e sua irmã Cora (Marjorie Estiano). Na primeira cena já percebemos que a troca de olhares de Alfredo e Eliane seria o indicativo de uma relação de amor entre os dois. Também se percebe facilmente que Cora, com suas tiradas sarcásticas, seria alçada ao posto de vilã da história. Nos dois casos, estamos certos, e esses, no fim das contas, são dois dos pontos fortes da novela: a relação de amor impossível entre Eliane e seu cunhado (combustível para dezenas de bons acontecimentos na história) e a chegada de mais uma personagem no estilo de Carminha, a mítica vilã vivida por Adriana Esteves em Avenida Brasil.

As interpretações também foram dignas de aplausos. Difícil escolher quem se sobressaiu nos primeiros capítulos da novela: Marjorie Estiano trouxe toda a carga de uma pessoa pragmática, racional e que não mede esforço algum para conseguir o que achar melhor para a sua vida (e de sua irmã também); Chay Suede, depois de conquistar as adolescentes em seu antigo projeto (Rebelde), entra com tudo no mundo adulto da teledramaturgia. Uma novela em horário nobre não é trabalho para qualquer um e ele mostrou ter o talento necessário para segurar tranquilo um capítulo que foi todo centrado em sua história; Vanessa Giácomo e Reginaldo Faria (em participação especial) já são atores tarimbados e por isso suas boas atuações já eram esperadas. Ao fim do primeiro capítulo e início do segundo, somos apresentados a outras duas personagens, fortes e bem construídas: a empresária portuguesa Maria Joaquina Braga, interpretada pela brilhante Regina Duarte e Maria Marta, vivida por Adriana Birolli. Esta última por sinal foi uma mistura muito bem construída de drama com alívio cômico e sua relação com José Alfredo foi o bem sucedido plote do segundo dia da novela.

Novela Império

Outro grande destaque da novela é, indiscutivelmente, a trilha sonora, que vai desde o momento da abertura, com a mágica canção dos Beatles Lucy in the Sky with Diamonds, na voz de Dan Torres, passando pelas canções que embalam os dois capítulos iniciais, como a linda Aonde quer que eu vá, dos Paralamas do Sucesso, Enrosca, que originalmente pertence ao cantor Fábio Jr e Magic, do novo álbum da banda britânica Coldplay.

Cravar aqui que a novela será um sucesso ainda é muito arriscado. A primeira semana, entretanto, deu esperanças, sobretudo aos fãs de novelas que estavam decepcionados com o último projeto em horário nobre da Rede Globo, a insossa Em Família, de Manoel Carlos. Resta-nos agora esperar, acompanhar e voltar daqui há algumas semanas com um veredito um pouco mais concreto e não tão passível de falhas. Mas uma coisa já pode-se afirmar com toda a certeza: os primeiros capítulos de Império já entram para a história da teledramaturgia brasileira como os melhores até então.

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