Crítica

Crítica Julho-Agosto: vale a pena assistir mais uma comédia romântica?

Julho-Agosto

Dirigido por Diastème. Roteirizado por Diastème e Camille Pouzol. Elenco: Luna Lou, Pascale Arbillot, Alma Jodorowsky, Patrick Chesnais, Délia Espinat Dief, Jérémie Laheurte, Lou Chauvain, Ali Marhyar, Ludivine de Chastenet, Blandine Pélissier, Thierry Godard   Arthur Choisnet, Edern Cario, Stéphane Caillar e Frédéric Andrau

Por Gabriella Tomasi

Esta comédia romântica que teve sua estréia no Festival Varilux de Cinema Francês em 2017 no Brasil faz um estudo das relações familiares a partir das experiências de duas irmãs Laura, de 14 anos e Joséphine, de 18 anos, que dividem suas férias para passar com seus pais divorciados: em julho com sua mãe, a qual acaba de receber a notícia de estar grávida do novo parceiro e; seu pai solteiro em agosto que vive um amor com uma mulher mais nova. Assim, testemunhamos um período na vida das duas jovens cheio de confusões, encontros e descobertas entre família.

O longa, em suma, possui uma premissa interessante e desenvolve bem sua narrativa na primeira metade de projeção quando as irmãs se encontram na casa da mãe e do padrasto em julho, com uma paleta de cores vivas para enaltecer o verão europeu e as desavenças que ocorrem entre os personagens, como a notícia da gravidez e como ela afeta principalmente a caçula da família; as brigas entre irmãs; as descobertas que cada uma das personagens principais acaba fazendo e as aventuras que se envolvem, ainda que as vezes se transmita de maneira quase indulgente em relação aos atos de Joséphine. O drama familiar realmente é palpável e as situações são relacionáveis com o espectador, tanto para aqueles que são pais; quanto os mais jovens.

No entanto, o filme gradualmente perde força ao tratar todos os problemas das irmãs com os pais, com resoluções fáceis e muito pouco desenvolvidas e, por conseguinte, abandona praticamente o que a trama tinha de melhor, como por exemplo, a provável aceitação de um novo irmão por Laura e a reconciliação com a mãe (que mesmo assim não fica clara sua posição ao final em relação ao assunto). Isto também se dá pela maneira como trata a segunda parte da projeção com a visita das irmãs em agosto para a casa do pai, quando o entorno familiar é deixado um pouco de lado para colocar o foco no conflito estabelecido entre Joséphine e seu amor de verão lá em julho. Dessa maneira, não somente se cria uma reviravolta pouco provável do retorno (in)conveniente do amado, mas se esquece completamente das subtramas e dos personagens ao redor disso, como o novo romance do seu pai que tem uma solução repentina com uma elipse muito mal explicada; a nova namorada e os amigos que Joséphine fez em julho tampouco são mal explorados, estes últimos taxados apenas como “bandidos”; Laura tem crises episódicas da idade, como a primeira menstruação desenvolvida brevemente e; uma “rivalidade” entre Laura e a nova namorada do pai que não é concluída.

Por outro lado, é visível que a intenção é de que os segredos que estabelecem se prestam para aproximar as duas irmãs, e para que elas se tornem cúmplices nos problemas que ocorrem na idade e como elas são específicas da fase que estão vivenciando – Laura entrando na adolescência e Joséphine na vida adulta – assim como evidenciar o lado adulto e criança de cada um dos personagens, principalmente os adultos, os quais muitas vezes possuem comportamentos infantis. No entanto, é indefensável o fato de que o roteiro se perca ao longo do caminho e deixe de aprofundar questões muito mais essenciais do que o pífio relacionamento de Joséphine, e, inclusive, com uma resolução bastante imprudente para um crime daquela magnitude.

Julho-Agosto é, portanto, um resultado incompleto desse estudo que gira em torno das relações de família, permanecendo apenas muito boas intenções.

Gabriella Tomasi é crítica de cinema e possui o blog Ícone do Cinema

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