Magnifica 70
Criada por Cláudio Torres, Renato Fagundes e Leandro Assis, a série Magnífica 70 é a nova aposta do canal HBO Brasil para 2015; promissora
Por Luis Fernando Pereira
Que a HBO se especializou em produzir uma estética diferenciada em seus projetos, isto todos sabem. O estilo HBO de criar uma série, de produzir um filme, tornou o canal famoso no mundo inteiro e construiu uma marca forte entre os espectadores. Magnífica 70, da HBO Brasil (HBO Latin America), segue esta linha e apresenta um trabalho de arte que salta os olhos, e transforma a ambientação da série (anos 1970, São Paulo) em um dos grandes destaques da nova produção do canal.
Mas a série é muito mais que um trabalho de arte bem feito; e essa perspectiva é mais uma bola dentro da equipe do projeto, liderada pelo talentoso Cláudio Torres (Redentor, Homem do Futuro) e que constrói um universo recheado de possibilidades, que vão desde a ideia de revisitar um icônico pólo cultural paulistano na década de 1970 (a Boca do Lixo) até crítica ao regime militar e todas as suas ferramentas esquizofrênicas de censura.
E é exatamente da censura que Magnífica 70 começa a contar a sua história.
Trama
A série acompanha Vicente (Marcos Winter), um homem entediado com sua realidade, que trabalha no departamento de censura do governo de São Paulo. Ele é casado com Isabel (Maria Luiza Mendonça), mas acaba se apaixonando por Dora Dumar (Simone Spoladore), atriz de um dos filmes que ele tem como obrigação censurar. Querendo conhecê-la, Vicente ai até a Boca do Lixo, onde se produziam os filmes da pornochanchadas e alguns filmes independentes. Ao conhecer Dora e seu trabalho, ele fica encantado, e começa então a querer fazer mais parte desse mundo.
Logo no primeiro episódio somos apresentados bem detalhadamente a Vicente, ele acaba sendo o fio condutor da trama e por conta disto é necessário tecer bastante elogios ao trabalho de Marcos Winter, que conseguiu transmitir toda a angústia de um personagem que não tem até aquele instante nenhuma aspiração profissional, nem sequer pessoal. Vicente é casado com Isabel, mas a relação estabelecida entre os dois é quase que de indiferença.
Vicente então, em mais uma canetada visando vetar o lançamento de um filme, conhece Dora Dumar (Simone Spoladore, belíssima como sempre). Seu olhar, sua expressão facial, todo o seu trabalho de corpo faz o espectador perceber que ela despertou nele algo que até então estava adormecido. E neste instante a história de fato aperta o play e apresenta duas vertentes de desenvolvimento: a primeira é a relação dele com Dora, que acabará em sua entrada em todo o universo da produção de filmes na Boca do Lixo; e a outra diz respeito às suas lembranças, a morte de sua então cunhada (irmã de Isabel) e a sua participação (possível) neste acontecimento.
Assim, Magnífica 70 traz em seu episódio piloto uma perspectiva política, com críticas (ou não) ao regime militar e todas as suas ferramentas de atuação, outra perspectiva de revisitação de uma época, principalmente ao icônico lugar paulistano pólo do cinema erótico (pornochanchada) e uma terceira perspectiva, essa mais narrativa mesmo, que apresentará um mistério para ser desvelado durante a temporada. Afinal de contas, o que aconteceu com a irmã de Isabel?
Magnifica 70
A HBO, e a equipe da série, estão de parabéns, pois entregou ao espectador um produto altamente bem feito, sofisticado e plasticamente bem bonito. A ambientação e a reprodução de uma época foram trabalho que merecem aplausos e que nunca é fácil e ser feito. Quanto ao roteiro, ele traz boas possibilidades para os próximos episódios, mas é claro que a premissa, e a sua evolução, foram bem apresentadas, deixando no espectador aquele gosto de quero mais.
Magnífica 70 é mais uma bola dentro da empresa já marcada por apresentar projetos diferenciados. Mesmo ainda estando em seu primeiro episódio, já foi possível notar as suas inúmeras qualidades. Os próximos episódios confirmarão esta percepção.
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site