Cena do filme Nosso Mal (Our Evil)
Mal Nosso (Our Evil) representa o cinema independente que vem dominando a cena de terror no mundo inteiro e no Brasil não é diferente
Talvez não seja tão perceptível a olho nu, mas o fato é que o cinema de terror, gênero que estava entre os mais saturados na última década, ressurgiu de maneira grandiosa, graças principalmente a produções independentes e alternativas. São muitos os exemplos, e podemos citar entre os mais marcantes produções como Corra!, It Follows, A Autópsia, Invasão Zumbi, isso para nos ater aos mais atuais. O cinema nacional segue esta mesma vibe, com filmes como O Rastro, Isolados, Trabalhar Cansa, e agora, o maravilhoso, que beira o genial, Mal Nosso (Our Evil), de Samuel Galli.
Mal Nosso (Our Evil) conta a história de Arthur (Ademir Esteves), um homem com poderes mediúnicos, que recebe a mensagem de que uma entidade demoníaca está retornando para destruir a alma de sua filha, Michelle (Luana Pepita). E ele toma medidas drásticas para evitar que isso aconteça, entre elas, contratar um serial killer, Charles (Ricardo Casella), para protegê-la.
A trama é basicamente esta, com a ressalva de que em meio a esta premissa temos cenas aterrorizantes, um roteiro eficiente e um desfecho que mexe com o espectador, dando aquele sentimento maravilhoso, e nem sempre comum, de ser surpreendido com algo que faz sentido e ao mesmo tempo é bom. Sim, esta união quase sempre é falha no cinema de gênero.
Cena do filme Nosso Mal (Our Evil)
Logo na primeira sequência, o choque. Ficamos sabendo, logo no início, que o roteiro não pretende poupar o público de imagens fortes, como a de uma garota sendo esfolada, praticamente. Do choque começamos a entender a trama (ou achar que estamos entendendo). Há toda uma construção de diálogo entre os dois personagens centrais, para então acharmos que estamos diante de um filme sobre vingança. Bem, não é de um todo mentira, mas Mal Nosso (Our Evil) trabalha com uma ideia um pouco mais elaborada.
Passamos a conhecer Charles, serial killer, que através da deep web encontra clientes que o buscam para encomendar assassinatos, normalmente com requintes de crueldade. A proposta de Arthur vai de encontro ao seu trabalho, então num primeiro momento a ideia é que estejamos diante de um filme sobre vingança, no caso de Arthur para com alguém, que logo sabemos quem é. Esta parte da trama é importante pois oferece o gatilho para que a segunda parte do filme de fato comece. E esta parte é a que mais fascina.
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A partir daí, entramos em uma atmosfera fantasiosa, que flerta de vez com o cinema de gênero, que traz um clima bem Twin Peaks, e que insere os elementos espirituais. Tudo isso junto fornece a quem assiste uma experiência única. Quem é habituado a filmes de terror certamente vai perceber algumas influências, todas boas. A inserção de um personagem palhaço, como central na segunda parte da história, é bem interessante, mesmo que ele quebre em alguns momentos o ritmo da trama.
O desfecho é maravilhoso, didático na medida certa. Poderia ser um pouco menos, já que o público do filme certamente vai se revirar para acompanhar tudo. Qualquer outra informação que demos agora é desnecessária, cabendo ao espectador assistir. Vale a pena.
A fotografia do filme, bem sombria, com destaques para as cenas na boate (no encontro inicial dos dois personagens principais, Arthur e Charles, e na sequência final). A trilha sonora segue o ritmo do filme, e casa perfeitamente com as cenas. É difícil encontrar elementos falhos na trama, e mesmo que queiramos colocar alguns diálogos como superficiais, o fato é que em filmes e propostas como esta de Samuel Galli, funciona.
Primeiro filme
Este é o primeiro longa-metragem do diretor e produtor Samuel Galli foi exibido no Marche du Film em Cannes, Moscow International Film Festival, foi premiado como o Melhor Filme de Terror da América Latina no Macabro – Festival de Cinema de Horror, em agosto no México; e foi destaque nos principais festivais do gênero, entre eles FrightFest – Inglaterra, Grossman Fantastic Film and Wine Festival – Eslovênia, But Film Festival, – Holanda, New York Horror Film Festival, Dublin Horrorthon, A Night Of Horror – Austrália. Recentemente foi exibido no SITGES, o mais importante festival de cinema de fantasia e terror do mundo, em Barcelona – Espanha.
Samuel Galli
Formado em Direito e proprietário de um restaurante em Ribeirão Preto – SP, Galli fez um curso de cinema na NYFA, em Los Angeles. Desde então, até 2015, se dedicou aos estudos de roteiro, direção, direção de fotografia, edição e produção. Juntou suas economias, adquiriu os equipamentos e se uniu à produtora Kauzare Filmes, também de Ribeirão Preto, e produziu o filme. Ele aposta em Mal Nosso (Our Evil), seu filme de estreia, como um cartão de visita no cinema independente de terror. E já trabalha no roteiro de seu próximo longa, um thriller com toques de horror.