Marielle Franco
Enquanto documento histórico, Marielle é de uma relevância ímpar; pensando na série, ela é um tanto arrastada do meio pro fim
Quem mandou matar Marielle Franco? Esta pergunta, que segue sem resposta, faz parte da segunda etapa de um doloroso processo, que antes teve a pergunta que parou o país por cerca de 1 ano. A pergunta era: quem matou Marielle e Anderson naquele fatídico 14 de março de 2018 no Rio de Janeiro?
Esta primeira pergunta o documentário Marielle, que a Globoplay disponibilizou neste mês de março, responde. Mas antes de responder o doc contou de modo bem sensível um pouco da vida tanto de Marielle, e de sua família, quanto de Anderson, sua esposa e seu filho.
O primeiro episódio é de uma sensibilidade tamanha, e de uma precisão técnica bem interessante. Voltamos a infância, e, sobretudo a adolescência de Marielle. Não que a infância tenha sido menos importante, mas percebe-se que foi na adolescência que percebemos que ela era uma pessoa especial, que de alguma forma iria fazer alguma diferença no mundo. Seu olhar vibrante em sua festa de 15 anos dava uma pista de que aquela garota iria longe, independente da escolha profissional.
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Mulher negra, bissexual e favelada, Marielle ganho o mundo enquanto era vereadora no Rio de Janeiro, pelo Psol, partido de esquerda, com uma agenda progressista de inclusão racial e social.
Sua vida pessoal, apesar de não ser o foco do documentário, era rica em detalhes – todos contados por sua mãe, sua irmã e sua esposa, personagens centrais do projeto. Não menos rica era a história de Anderson, e principalmente de sua relação com a esposa, que se transforma em figura central para contar a sua trajetória, e também para seguir com o legado, que é cuidar do filho especial que ambos tiveram no mesmo ano em que ele e Marielle morreram.
Esta primeira parte do documentário, centrada em contar as histórias de ambos, e suas famílias, mexe muito com o espectador, que compreende um pouco do porque aquela vereadora era tão especial. O crime bárbaro sofrido por ela e Anderson ganha contornos ainda mais dramáticos por conta do contexto apresentado, porém somente o fato de uma parlamentar ter sido assassinada já se torna fato mais que relevante para a consternação do mundo.
Dito isto, já refutamos o discurso de ódio apresentado por setores da sociedade que dizem que a morte de Marielle é tão importante quanto a de A ou B. A questão aqui não é quantificar importância, mas trata-se de simbolizar o que ela representava. Marielle era uma representante de nossa democracia, que foi gravemente ferida com a sua morte. A mensagem deixada naquele dia foi das mais preocupantes para o nosso país, e por isso sua resolução mostrava-se ainda mais urgente.
E o documentário volta-se então para contar todos os detalhes da investigação que culminou na prisão de Roni Lessa. Toda a história que envolve a sua prisão e o seu entorno (o coincidente fato dele morar no mesmo condomínio do atual presidente Jair Bolsonaro é só um exemplo). Todo o caminho percorrido até chegar em Roni foi mostrado no documentário, e ai, numa visão de roteiro, o projeto se arrasta.
Não que não seja relevante mostrar todos os detalhes, mas enquanto documentário a história parece ficar repetitiva, com várias informações sendo repetidas. Nesse sentido, o documentário perde fôlego dramático, mas ganha em elementos técnicos que no futuro servirão como documento histórico.
No último episódio voltamos a equilibrar a vida de ambos (Marielle e Anderson) com mais fatos do crime, e a pergunta que abre o texto: quem mandou matar Marielle?
Um documentário imperdível.