O Acampamento
Dirigido e roteirizado por Damien Power. Elenco: Aaron Pedersen, Aaron Glenane, Harriet Dyer, Ian Meadows, Maya Stange, Tiarnie Coupland
O longa metragem do gênero terror estreante do diretor australiano Damien Power no festival de Sundance em 2017, O Acampamento, chega no mesmo ano nos cinemas brasileiros e conta a história de um casal que vai até um lugar remoto da cidade para passar o ano novo juntos, acampados ao lado de um lago e uma floresta vasta ao redor. Lá, passam a questionar a presença de outra família na barraca – aparentemente abandonada – ao lado, até que a pequena “investigação” se torna uma jornada muito mais brutal e perversa do que antes imaginavam.
Este é um daqueles filmes que surpreendem o espectador. Ao revelar todos os clichês narrativos do gênero já no primeiro ato nós temos a falsa impressão de estarmos diante de tudo o que já vimos em tantas outras produções: o casal apaixonado que pretende casar; o local deserto onde acampam; o conselho de um desconhecido duvidoso; a sensação de perseguição; o celular sem sinal de operadora; a mocinha em desespero e preocupada. Contudo, é interessante como a construção da narrativa e, portanto, o desenvolvimento da história subverte toda a previsibilidade do longa e o torna uma experiência de certa forma agradável.
O cineasta se mantém bastante coerente ao nos mostrar três histórias diferentes em tempos distintos e que posteriormente se conectam: temos a do casal principal, a família dona da barraca encontrada; e dois sujeitos questionáveis. Da mesma forma, ao beber da fonte de clássicos filmes terror slasher e torture porn, mais comuns nas décadas de 70-80, como por exemplo, Wolf Creek (2005), O Massacre da Serra Elétrica (1974) e Acampamento Sinistro (1983), a direção de Power se pauta por uma abordagem extremamente natural e realista que não visa utilizar de artifícios ou os mesmos efeitos especiais para se estabelecer um clima de tensão e mistério, mas sim empregar os elementos da natureza para criar um sentimento de luta e sobrevivência inerente ao instituto humano; que seja palpável e, principalmente, relacionável.
A intenção é realmente eficiente durante boa parte do filme, no sentido que essas três partes de história constituem meras peças do que virá acontecer posteriormente. Contudo, o que faz da narrativa ser interessante se torna igualmente um problema, pois a trama como um todo se torna gradualmente previsível (o que se havia contornado antes). Quando todas as histórias finalmente se conectam já sabemos o que esperar, como um plot twist que não faz efeito. A revelação precoce do elo central desses fragmentos, portanto, faz com que uma ideia interessante não se concretize de uma forma inteligente como esperávamos, pois as atitudes dos personagens, em especial a dos dois sujeitos já mencionados, podem ser deduzidas, muito embora a mise-en-scène realizada crie uma atmosfera inicial de mistério em torno deles.
Os atos cruéis são realmente bem feitos, como por exemplo, a perspectiva da arma que visa atingir seu alvo, mas não são suficientemente ousados para impactar o espectador mais acostumado e apreciador de filmes mais perversos a ponto de chocá-lo como em o recente Grave (2017) ou Funny Games (1998) ou Hellraiser (1987). Mesmo assim, tampouco são desastrosos a ponto de perder nosso interesse. O terceiro ato se recompõe nos minutos finais entregando um desfecho bastante honesto.
Por fim, O Acampamento nos deixa com o sentimento de que algo faltou, após os créditos finais. Mas isso não quer dizer que a experiência seja totalmente decepcionante.
Gabriella Tomasi é crítica de cinema, graduanda em letras, membro do coletivo de mulheres críticas de cinema – ELVIRAS, e possui o blog Ícone do Cinema