Crítica

Crítica O Apocalipse: Nicolas Cage é deixado para trás em trama sobre o fim do mundo

Série de livros apresenta o primeiro filme de uma trilogia de história sobre o arrebatamento; o resultado é trágico, na pior acepção

Por Luis Fernando Pereira

É bem interessante vermos como de tempos em tempos surge alguma temática bem específica que toma conta do mercado por um tempo. Ora são histórias sobre grandes catástrofes, ora são histórias sobre o apocalipse zumbi… e neste sistema de rodízio parece que a bola da vez são as histórias sobre o arrebatamento, ideia que traz interpretações da Bíblia a respeito da salvação da alma. Trata-se – em resumo – de um momento no qual Jesus resgataria os salvos para a Nova Jerusalém, deixando na Terra os demais seres humanos que não o aceitaram como salvador.

A história, difundida em diversos livros, foi levada para televisão este ano por Damon Lindelof na ótima série da HBO The Leftovers, que é baseada no livro do escritor Tom Perrotta. E agora foi a vez do cinema se apropriar, novamente, entregando no circuito comercial O Apocalipse, filme estrelado por Nicolas Cage e que já está em cartaz desde a semana passada nos cinemas brasileiros.

História
O Apocalipse
traz como plano de fundo a história da família Steele, e se inicia quando Chloe, interpretada pela bela atriz Cassi Thomsin, filha do casal Rayford (Nicolas Cage) e Irene (Lea Thompson) vai passar alguns dias com eles. Logo no aeroporto – onde o pai trabalha como piloto – Chloe conhece o escritor e jornalista investigativo Buck Williams, interpretado pelo badalado ator Chad Michael Murray (da série teen One Tree Hill), com quem inicia conversa. Por uma coincidência, Buck estará no mesmo voo que seu pai, rumo a Londres.

Já em casa, Chloe encontra sua mãe, uma religiosa fervorosa que crê fielmente na ideia do arrebatamento. Em meio a discussões, o voo para Londres segue normal, até que instantaneamente alguns passageiros do avião desaparecem, numa ação que se repete por todo o mundo. Sem saber o que está acontecendo, Rayford tem que fazer de tudo para não deixar o avião cair, e também tentar entender o que aconteceu em seu avião.

O Apocalipse

A história lida através de sinopse soa infinitamente mais atraente que o filme propriamente dito. Isto porque a narrativa imposta pelo diretor Vic Armstrong é tão falha que em muitos momentos temos aquele sentimento de vergonha alheia, de virar a cara ao lado, para não ver uma cena que se mostra tão embaraçosa tecnicamente. Um dos principais problemas de O Apocalipse é o ritmo que o roteiro impõe ao desenvolvimento da trama. Os primeiros 30 minutos servem somente para plantar o terreno para a cena do desaparecimento. Isso é tempo em demasia, principalmente porque foi usado sem eficiência alguma. Neste longo período vimos alguns diálogos bobos, cenas de espera para o voo ser iniciado e falsas discussões sobre o apocalipse.

A partir do momento que o filme engrena, a falha apresentada é outra, e um tanto mais grave: as atuações são ridículas. É impressionante como todo o elenco está preguiçoso no filme, e nem atores talentosos, como Cage e Murray salvam a história da catástrofe anunciada. Óbvio que as atuações são reflexos de um roteiro simplista, que buscou reunir em um voo todos os tipos de estereótipos possíveis. Vemos um casal de idosos, um anão bem invocado, uma imigrante com problemas, um gordo em fase de obesidade mórbida… tudo para tentar iniciar uma discussão sobre uma ideia por trás do arrebatamento, que é resumida pela pergunta: por que eu não fui salvo?

O filme, que começa trabalhando uma perspectiva mais religiosa, no final se transforma numa história de ação, onde o principal objetivo é a sobrevivência dos passageiros do voo rumo a Londres. Neste sentido, a escolha de fazer de Chloe uma espécie de heroína soa tão inverossímil que somente abraçando a ideia da liberdade total e irrestrita de imaginação que podemos aceitar tal sequência, que ao menos joga um pouco de tensão no filme, que até então servia mais como sonífero audiovisual.

O Apocalipse chega ao fim com a garantia de haverá uma continuação, provavelmente será uma trilogia, já que o projeto inicial sempre foi este. A julgar pela primeira parte, o filme não tem nada de interessante para entregar aos espectadores, que se realmente desejarem assistir uma obra digna sobre o arrebatamento, devem procurar pela série da HBO The Leftovers. Essa sim vale muito a pena ver.

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