Crítica

Crítica O Céu é de Verdade: até onde vai a sua fé?

Lane Styles (esquerda) e Kelly Reilly O Céu é de Verdade

Filme que retrata experiência de quase morte trabalha questões de espiritualidade de modo simples, mas eficiente

Quem somos? Para onde vamos? Estas são duas das questões existenciais mais significativas do ser humano, que volta e meia sentimos a necessidade de discutir, seja com seus pais, seja com o padre de sua igreja, seja com acadêmicos e cientistas. Se a primeira pergunta descamba para o lado da filosofia, o que é ao menos mais palatável e viável do ponto de vista lógico, a segunda questão trabalha com um tema que dos mais difíceis: a fé. É sobre esta segunda perspectiva que O Céu é de Verdade, filme que está em cartaz nos cinemas do país, desenvolve sua história.

O Céu é de Verdade conta a história do menino Colton Burpo, filho de um pastorevangélico, Todd Burpo (Greg Kinnear), que após passar por uma delicada cirurgia de urgência, diz aos pais que durante o tempo em que estava sendo operado ele havia visitado o céu e conhecido Jesus Cristo. Será a partir deste fato que toda a história se desenvolverá, levando o tema à igreja onde o pastor realiza suas pregações, e também ao seio da família do garoto, fazendo o pastor questionar toda a base de sua fé espiritual.

Buscar o elemento principal da história pode em um primeiro momento soar confuso, pois o grande acontecimento do filme – uma experiência de quase morte que culminou na ‘certeza’ de que há um céu nos esperando, de que há alguma forma de vida no pós-morte e na existência de anjos e de Jesus – é questionado justamente pelos mesmos membros da igreja que pregam estas ideias desde o principio. Isso nos faz perceber que talvez não estejamos preparados para confirmar uma série de crenças que possuímos sobre questões religiosas. Acreditamos cegamente na existência de Jesus, mas ao nos confrontar – hipoteticamente – com ele a primeira reação que teríamos seria a de incredulidade e desconfiança. Soa estranho, não?

Essa é a grande questão de O Céu é de Verdade: trabalhar o acontecimento vivenciado pelo garotinho, a possibilidade de existir algo depois da morte, no âmago da igreja, com seus membros e, sobretudo, pelo seu pastor, também pai do menino. Será esse diálogo, estes questionamentos sobre o que acontece quando nossa vida termina, o ponto forte da história. É o medo de se confrontar com o que de fato ainda nos é desconhecido que faz a história valer a pena de ser vista.

Falando um pouco sobre elementos técnicos do filme, o primeiro destaque vai para a atuação da dupla de crianças, tanto a garotinha quantoo pequeno Colton. Além de bastante talentosos, eles conseguem transmitir uma empatia que é bem difícil de acontecer em atuações infantis. A sequência da viagem de carro, que o garotinho pede para cantarolar o hino We Will Rock You, o hino da banda de rock Queen, é de muita fofura. Naquele instante o espectador passa a se importar de fato com a vida daquele garotinho, criando uma carga dramática que pode não ser intensa, mas que inegavelmente está lá.

A direção de Randall Wallace não compromete, mas também não traz novidade alguma. Qualquer filme que possui temáticas religiosas, ou que trabalhem ideias como céu, anjos, paraíso… utilizam-se dos mesmos elementos que Randall se utilizou: a fotografia, que volta e meia dá o tom de paraíso, focando ambientes abertos como grandes fazendas, plantações, paisagens que nos fazem lembrar – ou ao menos sentir – espiritualidade; temos também a trilha sonora, recheada de canções religiosas, como a linda Amazing Grace. Temos também o fato da história se passar numa pequena cidade, e não em um grande centro urbano. Notem que é mais fácil captar esta atmosfera de simplicidade, de religiosidade, de ingenuidade até, quando o ambiente lhe transporta para um lugar que transmite essa pureza necessária para embarcar na história.

O Céu é de Verdade certamente não é um primor de filme. Mas sua proposta é bem clara: trazer à telona um tema que tem um público cativo, e munir este público com mais elementos que comprovem de alguma forma que existe sim, novas perspectivas no pós-morte. Claro que a ideia abraçada na história é por demais complexa, e será por muitos e muitos anos ainda passível de discussões. E no fim das contas o que o filme busca é saber até onde vai a nossa fé. Será ela que permitirá – ou não – a crença de que o céu existe… e é logo ali.

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