Crítica

Crítica “O Escândalo”: seria uma mensagem positiva para o feminismo?

O Escândalo

Dirigido por Jay Roach. Roteirizado por Charles Randolph. Elenco: Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie, John Lithgow, Allison Janney, Kate McKinnon, Malcolm McDowell, Mark Duplass, Alice Eve, Alanna Ubach, Nazanin Boniadi.

O Escândalo é um longa-metragem baseado em fatos reais acerca das acusações de assédio sexual realizadas ao então CEO do canal televisivo norte-americano Fox News, Roger Ailes (Lithgow), por repórteres e outras jornalistas, cujos casos começaram a surgir a partir de um processo judicial iniciado por Gretchen Carlson (Kidman) em 2016, uma âncora que havia sido demitida.

Em meio aos movimentos contra os assédios perpetrados em Hollywood, como #metoo entre outros, um filme como este é importantíssimo porque são passos que damos para denunciar um crime, são passos para que cada vez mais a voz de vítimas sejam ouvidas e creditadas. Essa história era um meio perfeito de transmitir essas dores e essas vozes, pena que nem o diretor Roach nem o roteirista Randolph alcançam isso.

É uma pena que uma mulher não esteve à frente desses dois cargos para fazer seu público sensibilizar com os relatos, pois o retrato pintado por ambos é superficial demais. Às vezes, a impressão é que apenas um olhar feminino talvez consiga transparecer algo mais decente. Quem sustenta a narrativa com certeza é o grande elenco de talentosíssimas atrizes composto por Kidman, Robbie e Theron que tentam ao máximo extrair algo disso tudo e conseguem, pois são maravilhosas em tela e merecem ser nomeadas pelo seu trabalho, porém é inevitável notar a complicada visão masculina que resulta em não representar uma luta feminista que já é tão degradada, tão desgastante pelos preconceitos. Pois parece tão simples mulheres lutarem por usarem calça (???) no trabalho que chega a ser insultante. Claro que é muito mais do que calças, o problema é que o longa não mostra muito mais do que isso.

Isso sem mencionar que todos os personagens parecem estar completamente fora dessa narrativa, andando em círculos. Carlson passa o tempo inteiro esperando por um milagre, Kelly (Theron) decide ou não decide falar sobre o que aconteceu com ela e Ailes, Kayla (Robbie) apenas serve para se mostrar um caso novo, e sua amiga interpretada por McKinnon é um desperdício de oportunidade para explorar outros aspectos tóxicos da Fox News como homossexualismo e reputação da carreira jornalística. Neste aspecto, a narrativa deixa a desejar inclusive em relação a outros temas que ele aborda.

O trabalho da montagem também não ajuda quando não se imprime em tela uma sensação de perigo profissional ou corrida contra o tempo ou qualquer outra coisa que justifique a hesitação de Kelly. Ao invés disso, a edição pula de arco para arco dramático sem aprofundar em nada, especialmente quando se trata dos relatos complicados de assédio sexual e do temperamento de Ailes e outros superiores, os quais absolutamente suavizam a gravidade do assunto. Isso porque o roteiro dá a entender que o comportamento de Ailes não é só sexista, mas arrogante, assediando moralmente inclusive os próprios donos do canal, o que passa negligenciado pelo roteiro e sequer desenvolve isso apesar de sugerir uma rivalidade entre o vilão e os irmãos Rupert. Roger apenas fica a maioria do tempo sentado em sua sala olhando pernas, o que, mesmo sendo repulsivo, é 1/3 do problema.

Em suma, o longa indicado a três categorias do Oscar pode até estar acreditando em passar uma mensagem positiva para o feminismo. Eu, como mulher, não concordo com essa visão.

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