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Crítica O Garoto da Casa ao Lado: já vimos este filme antes

O Garoto da Casa ao lado filme

Mais novo filme protagonizado pela cantora/atriz Jennifer Lopez peca pelos clichês em excesso; ainda assim, pode entreter

Por Luis Fernando Pereira

É bem interessante analisar a carreira da atriz/cantora Jennifer Lopez, e isto pelo fato de que, quando observamos mais atentamente a sua filmografia, percebemos que ela já pode ser considerada uma atriz experiente. No seu currículo, vemos filmes atraentes como Selena ou A Cela, vemos também filmes deliciosamente trash, como Anaconda, e vemos por último uma quantidade bem razoável de comédias românticas. Em suma, é uma filmografia que deve ser respeitada.

Suas atuações também devem ser, pois se pensarmos bem, nós temos ai uma grande quantidade de filmes onde a sua atuação foi o ponto forte do mesmo. A questão é que muitas dessas vezes somente a sua atuação se destaca, sendo uma qualidade solitária em um filme. O Garoto da Casa ao Lado segue esta ideia, com Jennifer fazendo um trabalho bastante crível, mesmo com as derrapadas do roteiro, mas o resto do filme deixando muito a desejar.

Entendendo
Para entender um pouco melhor a história: Jennifer vive na trama a professora suburbana Claire Peterson, que está em vias de se divorciar do marido, por conta de suas traições. Ela vive sozinha com o filho adolescente, até perceber que um jovem acabara de se mudar para a casa ao lado. Este jovem é o sedutor Noah Sandborn (Ryan Guzman), que rapidamente (mesmo) oferece ajuda nas tarefas da casa e se torna o melhor amigo do filho de Claire.

Logo o inevitável acontece: o vizinho passa a seduzi-la, levando a uma noite de amor entre os dois. A partir do dia seguinte, temos a virada da história, pois Claire está decidida que tudo foi apenas um erro, mas Noah não pretende abandoná-la tão cedo. O caso de amor torna-se uma perigosa obsessão.

Problemas
O principal problema de O Garoto da Casa ao Lado é o roteiro que se apressa em mostrar o contexto: vemos rapidamente que o marido a trai, que ela está confusa, ai logo entra em cena Noah, segundos depois ele já está na casa dela e com mais alguns minutos eles transam. No seguinte o roteiro já mostra que o comportamento do garoto não é aquele dos minutos iniciais e trata logo de torná-lo um personagem perigoso, tudo sem a mínima sutileza. Digo mínima mesmo.

O Garoto da Casa ao lado filme

A vontade que a roteirista Barbara Curry  tem em logo apresentar os sinais do comportamento obsessivo do garoto acaba tornando o filme frágil, pois ficamos reféns dos velhos (e nem sempre bons) clichês: ele a chantageia, joga o filho dela contra os pais, filma a relação amorosa, tira fotos, a segue, faz outras coisas que quem assistir perceberá, ela arma para conseguir o vídeo de volta… e por ai vamos seguindo, sem fluidez narrativa, e sim com cenas separadas, como se fossem esquetes.

Jennifer Lopez
O trabalho da atriz pode ser visto de duas formas: primeiro, é complicado concebermos sua interpretação com uma professora claramente suburbana, esse não é, definitivamente, o perfil de personagem para a atriz. Porém, numa segunda perspectiva, vemos uma Jennifer Lopez bastante dedicada, proporcionando cenas de tensão e suspense na parte final da história. Uma das cenas finais, a mais chocante, mostra a atriz em seu melhor momento, fazendo o espectador realmente se importar com o que vai acontecer com ela.

Outra coisa interessante é que o roteiro não abusou do fato de ter como protagonista uma das mulheres mais sexy do planeta. Claro que há uma sequência de apelo sexual, mas ela acontece no momento adequado e depois a história já migra para o gênero suspense/terror. Provavelmente os meninos que forem assistir não vão gostar deste fato, mas para o filme esta escolha foi muito positiva.

O resto do elenco funciona como mais como escada para os protagonistas, Jennifer Lopez e Ryan Guzman. Ryan não traz nada de novo em seu personagem, um típico e clichê revoltado que se torna um psicótico. O filho, marido e melhor amiga de Claire são personagens que por mais que o roteiro busque dar importância, se tornam secundários e esquecíveis. O tio de Noah e a garota pela qual o filho Kevin (Ian Nelson) é apaixonado inclusive são esquecidos na história.

A direção de Rob Cohen, conhecido por filmes de ação como Triplo XA Múmia 3, é focada na ideia de entreter com o máximo de simplicidade possível. As cenas são previsíveis, o som é previsível, a fotografia passa despercebida, é tudo produzido para que o público preste atenção na relação de obsessão entre o garoto e a professora.

O Garoto da Casa ao Lado no fim das contas oferece o típico entretenimento jovem: uma trama focada em uma premissa interessante, mas que vemos aos montes todos os anos, com suspense, um pouco de terror (psicológico e físico), cena de sensualidade e uma edição bem dinâmica, bem corrida, para não deixar o espectador bocejar. Razoável, mas digestível.

Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site

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