O Homem nas Trevas
Filme constrói uma narrativa que cresce do início ao fim e que traz nas reviravoltas o seu ponto forte; quem será o vilão?
Ah, mas como é boa a sensação de sair de uma sessão de cinema e estar completamente realizado com uma experiência sensorial das mais intensas que um somente um filme pode proporcionar. E o bom filme em questão é O Homem nas Trevas, em cartaz ainda em muitas salas Brasil afora (confira aqui programação).
Na história temos três adolescentes que sempre escaparam de seus roubos, todos perfeitamente planejados. No entanto, quando realizam seu último crime, assaltando a casa de um senhor cego, o jogo muda.
Essa premissa, das mais interessantes, só se torna plausível, entretanto, por conta do cego em questão ser um ex-soldado americano, destes que foram à guerra e que tem muitos truques na manga, sabendo se defender como poucos.
Ainda assim, em um primeiro momento, soa fácil demais para os três adolescentes, encabeçados aqui por Money (vivido pelo ator Daniel Zovatto), mas que tem justamente nos outros dois os grandes protagonistas. E destes dois, é Rocky, personagem de Jane Levi, quem comanda a história. É a sua perspectiva, no fim das contas, que é a que se sobrepõe.
O roteiro de O Homem nas Trevas é bem engenhoso, e faz tudo certo para que o espectador vá criando uma conexão um tanto louca com os personagens. Num primeiro momento torcemos contra os garotos, uns delinquentes. Depois, na primeira virada da história, o jogo muda. E mais para o final, com todas as cartas postas, há um equilibrio de emoções: ninguém é mocinho, todos são vilões. Ou melhor, todos são humanos, com as suas escolhas erradas, mas sempre compreensíveis por algum ponto de vista.
A tensão é a principal qualidade do filme. Desde os primeiros momentos, onde há o silêncio inicial, para que o homem cego não acorde, a tensão se faz presente, e chega a sufocar quem assiste. A sensação é das mais fortes, com o silêncio, os barulhos, que são, em contrapartida, potencializados, o escuro. Se tivermos que escolher uma palavra para definir O Homem nas Trevas esta palavra certamente seria sensorial.
O Homem nas Trevas
As reviravoltas, que podemos até achar em um primeiro momento exageradas demais, só dão ritmo ao filme, fazendo-o ser aquelas histórias que não dá para piscar os olhos, pois já se perde alguma parte importante. Esse clima de urgência, onde cada cena é importante, seja quando vemos uma nova personagem na história, seja quando o cão do homem cego entra em cena, esse clima de urgência é arrebatador.
O incrível é que a trama anda sozinha, o roteiro carrega o filme de tal forma que nem precisamos de atuações grandiosas. Talvez o que mais se aproxime de uma grande atuação seja justamente o do Blind Man (Stephen Lang). De resto, os personagens estão em um nível aceitável somente, e até mesmo a linda Jane Levi, figura famosa no universo das séries de televisão americana, só entrega um trabalho ok.
Porém o roteiro e a direção de Fede Alvarez, cineasta uruguaio da nova safra bastante festejado, e que também dirigiu o terror A Morte do Demônio, fazem de O Homem nas Trevas um dos filmes mais intensos de 2016. Tenso, denso, recheado de suspense, reviravoltas e um final satisfatório.
É daqueles filmes que é bom assistir no cinema, na tela grande, com uma qualidade de som compatível com a beleza do filme.
Filmão.