Crítica

Crítica O Primeiro Homem: extremamente emocionante e impactante

O Primeiro Homem

Dirigido por Damien Chazelle. Roteirizado por Josh Singer. Baseado no romance First Man: The Life of Neil A. Armstrong por James R. Hansen. Elenco: Ryan Gosling, Jason Clarke, Claire Foy, Kyle Chandler, Corey Stoll, Ciarán Hinds, Christopher Abbott, Patrick Fugit, Lukas Haas, Shea Whigham

O diretor vencedor do Oscar de 2018 pelo seu filme La La Land, Damien Chazelle, retorna com sua nova produção sobre a trajetória dos Estados Unidos e sua corrida espacial contra a Rússia na década de 60, na qual culminou na chegada do primeiro homem a pisar na lua, o engenheiro Neil Armstrong. Independentemente do teor verídico que paira ainda sobre essa missão, este longa-metragem é mais uma incrível obra, fruto do talento de Chazelle.

Isto porque em todos os seus aspectos técnicos O Primeiro Homem brilha. A direção de fotografia confere uma naturalidade incrível, cuja granulação da película e os tons pastéis nos remetem à época retratada. Da mesma forma, há uma grande variedade de ângulos utilizados que conferem dramaticidade ímpar às cenas, como por exemplo, os planos fechados que sempre estão presentes nos momentos mais íntimos do protagonista; as shaky cams que incorporam as experiências sentidas pelos astronautas, assim como a utilização constante da câmera subjetiva para tanto; a pan utilizada para intensificar o vazio e a solidão da experiência na lua; a câmera na mão que faz com que a instabilidade emotiva do protagonista esteja presente; entre outros recursos que trazem uma experiência muito palpável para seu espectador.

É incrível o trabalho de Chazelle na narrativa, pois ao mesmo tempo em que sua audiência pode saber ou já prever o final da trajetória de seu protagonista, o cineasta sabe muito bem imprimir o suspense nos momentos certos, esticando ou retardando o desfecho de algumas cenas para criar tal impacto. A título de exemplo, podemos mencionar as turbulências vivenciadas pelos astronautas, em especial quando um problema ocasiona em um desmaio temporário de um dos co-pilotos de Armstrong (Gosling) em um teste de uma das missões. Isso sem mencionar o espaço claustrofóbico de seus planos fechados dentro das cabines que fazem com que sejamos diretamente afetados pela sua restrita mobilidade dentro delas.

O design de som, por sua vez, contribui enormemente para o trabalho imagético. O silêncio do vácuo da atmosfera, as respirações pesadas ou o som ensurdecedor dos equipamentos da NASA são os pontos chaves da narrativa e apenas reforçam o perigo da missão e traz um realismo muito importante sobre a tarefa daqueles profissionais, o que visa demonstrar ser nem um pouco glamourosa.

Essa é inclusive uma característica essencial de O Primeiro Homem. No roteiro assinado por Singer, não nos deparamos com um heroísmo puro do cinema hollywoodiano, ao contrário, ele é motivado e impulsionado pelas emoções e muitas vezes trazem custos altíssimos. É o que observamos não somente com a perda da vida de profissionais durante as missões, mas também com o desgaste emocional da esposa de Armstrong, Janet (Foy), demonstrando que o papel de “dona de casa” que cuida de seus filhos está longe de ser uma tarefa fácil, já que ela é a responsável por manter o clima estável da relação familiar. Isso se evidencia cada vez mais quando ela recorre à amigas (esposas de colegas de Armstrong) para desabafar de sua situação. Seu arco dramático, portanto, se torna extremamente relevante para a narrativa e apenas agrega para o caráter e imagem humanizadores da jornada de seu protagonista.

Por outro lado, a narrativa falha ao recorrer a repetições de símbolos que a partir de certo momento, se apresentam exaustivas. A repetição do mesmo plano com as lembranças da filha caçula de Karen, ou então os constantes focos mostrando a lua no céu em inúmeros momentos são exemplos de uma reiteração desnecessária, mas que insistem em estarem presentes a todo momento.

Mesmo assim, O Primeiro Homem é extremamente emocionante e impactante que, ao mesmo tempo em que homenageia os feitos corajosos de uma pessoa, traz reflexos grandiosos sobre a ambição desmesurada da política internacional estadunidense.

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