Crítica

Crítica: “Operação Overlord” – Os terrores da Segunda Guerra Mundial

Dirigido por Julius Avery. Roteirizado por Billy Ray, Mark L. Smith. Elenco: Jovan Adepo, Wyatt Russell, Mathilde Ollivier, John Magaro, Gianny Taufer, Pilou Asbæk, Bokeem Woodbine

Operação Overlord foi um codinome que designou o episódio da Batalha de Normandia, na qual os países aliados da França, como Reino Unido e Estados Unidos invadiram o território francês ocupado pelos alemães na Segunda Guerra Mundial no ano de 1944 para a liberação de sua população do regime nazista. A verdade, no entanto, é que a trama deste longa não visa em nenhum momento traçar fielmente os acontecimentos históricos deste evento, como Dunkirk (2017) o fez, mas sim narrar uma ficção própria, dentro de um contexto real.

No enredo, uma tropa de paraquedistas norte-americanos é lançada atrás das tropas nazistas, com o intuito de cumprir uma missão: destruir a base nazista estabelecida em uma igreja católica de uma pequena vila. É assim que conhecemos o soldado Boyce e acompanhamos a difícil jornada de concretizar o objetivo por sua equipe.

Para tanto, o diretor Avery faz um excelente trabalho em incorporar os sentidos da audição e da visão do protagonista no espectador. O olhar inocente e inexperiente de Boyce (Adepo) fora crucial para que possamos refletir sobre os eventos e o impacto deles na narrativa, principalmente quando o personagem julga as ações de seus companheiros. Assim sendo, o cineasta utiliza de focos com a lente, assim como de efeitos de som ecoante para simbolizar as consequencias físicas de uma bomba que explode por perto, ou de um avião em chamas, ou então a câmera subjetiva para selecionar e direcionar o olhar, criando um suspense latente, como por exemplo, a revelação da condição física da tia de Chloe (Olivier) ou então os assédios de um nazista na personagem, vistos a partir de frestas do chão de madeira.

Da mesma forma, Avery se apropria de alguns bons plano-sequencias para acompanhar os passos de Boyce dentro do labirinto que é a Igreja e como cada caminho traçado se torna fundamental para o desfecho final. Uma escolha bastante inteligente, inclusive por parte do roteiro, para evitar coincidências e saídas óbvias para narrar a lógica dos atos de sobrevivência de certos personagens, em especial de Chloe, que traz uma forte personalidade e presença feminina totalmente independente de seus parceiros masculinos, que apenas é excetuada como parte do espírito de equipe entre todos.

Esse realismo que traz a narrativa da guerra é muito impactante, também quando se aborda o “heroísmo norte-americano” ou o típico “mocinhos americanos” contra os “malvados europeus”. Há sutis referências históricas em relação à essa imagem que são elegantes sem precisar recorrer a clichês, como por exemplo quando Tibbet (Magaro) oferece goma de mascar para o pequeno Paul (Taufer), o qual cria um laço com o soldado quando o imita ou se aproxima querendo jogar beisebol, simbolizando a cultura norte-americana que na Segunda Guerra Mundial foi amplamente difundida na Europa e nos remetem também às imagens históricas de soldados desfilando pelas ruas distribuindo produtos americanos, entre eles o chiclete. Essa imposição cultural também reflete nos pequenos detalhes irônicos de europeus que dominam muito bem o inglês e, em contrapartida, os nativos deste sequer sabem uma palavra ou conhecimento sobre a cultura dos demais, rendendo momentos engraçados.

Por outro lado, também temos o calejado capitão Ford (Russell), cujas cicatrizes no rosto dizem mais do que suas palavras.  O embate de egos entre ele e o alemão Dr. Wafner provam que a guerra não tem um lado certo o errado, assim sendo, da mesma forma com que os nazistas são responsáveis pelas incontestáveis torturas e atrocidades, os norte-americanos não estão muito longe disso, fazendo com que Ford inclusive entre “no jogo sujo deles”.

Outro aspecto maravilhoso é o fato de que Operação Overlord possui camadas de filme de terror gore típico de filmes B, assim como camadas de zombie thriller quando se aproxima de seu desfecho, trazendo influencias de famosas narrativas como a série The Walking Dead. Talvez a mistura de fantasia e realismo da guerra não impressione tantos, mas é inegável que este escapismo ao mesmo tempo traz importantes reflexões, como a ambição do próprio ser humano e falta de humanidade perante o próximo na forma de absurdo, mas ainda é tão presente e atual mesmo no século XXI.

É uma pena, no entanto, que no terceiro ato o impacto da narrativa diminua por uma montagem paralela pouco dinâmica entre as várias linhas narrativas que se formam quando os personagens se separam. Algumas são deixadas de lado e são abordadas tardiamente por meio de elipses, muito embora os eventos ocorram concomitantemente. Um equívoco que, felizmente, não prejudica o conjunto da obra.

Operação Overlord é, por fim, um criativo e instigante resultado sobre os terrores da Segunda Guerra Mundial.

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