Crítica

Crítica Paixão Obsessiva: um filme bom, ótimo, ruim ou esquecível?

Paixão Obsessiva

Dirigido por Denise Di Novi. Roteirizado por Christina Hodson, David Leslie Johnson. Elenco: Katherine Heigl, Rosario Dawson

Por Gabriella Tomasi

Grandes filmes de suspense ou de terror são difíceis de serem executados com eficiência, principalmente quando se tratam de dois gêneros que possuem os elementos mais reconhecíveis por parte do público. Assim, o maior obstáculo de um cineasta sem dúvidas é evitar os clichês e desenvolver os elementos “surpresas” ou plot twists de modo a manter o espectador entretido. Alguns filmes foram bem sucedidos, enquanto outros nem tanto, resultando em verdadeiros desastres. No ano de 2017, após o excelente Fragmentado, chega ao cinema Paixão Obsessiva, outro thriller que de “thriller” acaba não tendo nada e, ao invés disto, se torna uma briga ridícula entre duas mulheres.

O grande pecado na estrutura da narrativa do filme é que ela denuncia o final antes mesmo de começar, desconstituindo por completo a natureza de seu gênero, contudo, sem intencioná-lo. No início, Julia Banks (Dawson) se encontra machucada, sendo interrogada por um policial em tom inquisitório, como se ela tivesse cometido um ato grave. Portanto, qualquer um que tenha visto o trailer ou até mesmo lido a sinopse que são divulgados poderá deduzir em segundos o que aconteceu, já nos primeiros minutos de projeção. Porém, a narrativa inteira se comporta como fosse um mistério e, para tanto, esconde a identidade de Tessa Connover (Heigl) como a real bully, mostrando planos em detalhe de suas luvas, ou sombras sutis que passam pela casa de Julia subtraindo objetos ou colocando objetos para perturbá-la. Ainda, em um determinado momento fez questão de justificar a origem de um barulho de um telefonema anônimo, criando portanto um suspense que simplesmente não existe.

Paixão Obsessiva

Por outro lado, Hodson e Johnson realmente colocaram seus esforços em seu roteiro para tentar estabelecer uma história com arcos completos. Tessa tem um lado sombrio, sem dúvidas, mas que é acompanhado de um relacionamento bastante complicado com sua mãe (Ladd) que agora repassa as mesmas exigências à sua filha Lily (Rice). O lado perfeccionista e narcísico da personagem então é transmitido pela forma como se comporta diante do espelho, alisando quase de forma exagerada o cabelo, portando roupas claras como reflexos de sua polidez superficial. Julia, em contrapartida, é delineada de forma mais vulnerável, e a atriz transmite, até onde consegue pelo material lhe dado, mais leveza, se opondo à vilã pelo cabelo cacheado e roupas estampadas e coloridas. A protagonista possui igualmente um passado que a tormenta e a narrativa inclusive indica uma possível dúvida acerca de sua sanidade mental, já que uma notícia de seu ex-marido e a desconfiança das intenções de Tessa realmente fazem com que Julia literalmente veja “fantasmas”. No entanto, essa é uma abordagem que nunca se concretiza ou sequer tem efeito no espectador, já que, mais uma vez, sabemos o que realmente acontece com a personagem.

Geoff Stults, por sua vez, interpreta o atual marido de Julia e ex da antagonista, David. Ele é de fato um personagem mais presente e até certo ponto da história revela-se mais ativo do que simplesmente servir de pano de fundo como se não tivesse noção nenhuma do que acontece em sua volta e, portanto, ele se envolve também. Mas ainda é de uma forma bastante sutil e tardia. Neste contexto, o roteiro além de não desenvolver uma relação profunda entre ele e Julia (mostrar cenas de sexo não são suficientes), coloca-o, aliás, em uma posição distante com desculpas clichês como trabalhar até tarde ou partir para uma viagem de negócios só para deixá-la sozinha e criar – obviamente – a oportunidade para a vilã. E se não bastasse, permanece convenientemente desacordado durante uma briga. O que não se explica, ainda, é como o comportamento “obsessivo” de sua ex já era conhecido por uma amiga quando ela comenta a experiência da antiga relação de David com Tessa à Julia, mas o próprio insiste em afirmar que nunca presenciou atitudes tão graves da ex-esposa, o que é completamente contraditório.

Paixão Obsessiva

Difícil, por conseguinte, falar qualquer aspecto do trabalho da direção da estreante Di Novi, já que temos aqui um roteiro que não traz nada de novo, que é previsível e traz todas as informações possíveis que você precisa saber já inseridas no material de marketing, fazendo com que qualquer esforço de manter a tensão em sua audiência falhe. Todavia, ainda encontramos certa imaturidade na forma de conduzir os atores nos cenários como sustos gratuitos (ou jumpscares), ou em cenas que deveriam ter mais impacto, como a utilização ineficaz de dois planos (um que mostra o golpe e outro que mostra a ferida no personagem que o recebe) tornando muito artificial qualquer confrontação física, salvo uma excelente cena com a faca.

Com cenas finais extremamente anticlimáticas que conduzem a um desfecho pobre e fácil para a trama, Paixão Obsessiva é um filme esquecível e melodramático que não tem nada a acrescentar além de subjugar suas personagens femininas em uma disputa pífia por um homem.

Gabriella Tomasi é crítica de cinema e possui o blog Ícone do Cinema

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