Filme falha por não conseguir oferecer sequências de suspense e terror, mas em alguns momentos chega a entreter e arrancar risadas do público
Por Luis Fernando Pereira
A primeira sequência do remake de Poltergeist – O Fenômeno é bem curiosa, e por dois motivos: primeiro que ela nos faz lembrar que de fato estamos diante da refilmagem de um dos maiores clássicos da história do terror; porém ela também nos traz aquela angustiante sensação de que o filme será dali para a frente uma sucessão de clichês do gênero.
Acontece que estes clichês na década de 1980 ainda não estavam absolutamente saturados, e o clima e o contexto até ajudavam na ambientação da trama. Hoje em dia, milhares de filmes depois, não aguentamos mais ver uma família se mudando para o meio do nada, comprando uma casa problemática e barata, e com crianças seguindo aquela ordem: a revoltada, a estranha e, no caso do garoto, o mal compreendido. Poltergeist apresenta isto, sem muito vigor narrativo, mas que em alguns momentos entretém pelas razões mais frágeis.
A história
Temos a família Bowen, que acaba de se mudar para uma nova casa. O pai, a mãe e os três filhos parecem se adaptar bem ao novo lar, até começarem a perceber estranhas manifestações em casa, atingindo principalmente a filha pequena. Um dia, ela é sequestrada pelas forças malignas, fazendo com que os pais procurem a ajuda em especialistas no assunto, para recuperar a criança antes que seja tarde demais.
Para não seguir uma linha amargurada demais, começaremos falando do que pode ser considerado o ponto forte do filme, que é aquela mesma vibe irônico-sarcástica dos filmes de terror dos anos 1980, equilibrando sempre o suspense com tiradas cômicas. No caso aqui, isso muito se deve à fisionomia bem charlatona de Sam Rockwell, que interpreta Eric Bowen. Demorou até ele entrar no clima do pai que havia acabado de perder a filha para algo sobrenatural; até então ele ainda conseguia brincar com a situação.
E quando Jared Harris, que faz o famoso Carrigan Burke entra em cena, ai o clima de Caça-Fantasmas adentra de vez na história.
Entretanto um filme de terror vive de sustos, e neste quesito Poltergeist – O Fenômeno é um tanto falho, principalmente por antecipar as ações e reações para quem assiste. Isto se deve bastante ao trabalho de câmera, que transforma o público num pleno observador da situação. Sabemos onde a trama está, no que vai dar, temos controle do que vemos. Pegue filmes como Invocação do Mal, por exemplo, e perceba a diferença. Nele, há um clima de estranhamento, de medo do desconhecido, que agrega muito ao resultado final.
Poltergeist – O Fenômeno
O elenco também fica aquém do esperado, sobretudo a parte infanto juvenil. O garoto, Kyle Catlett (da série The Following) poderia ter uma maior presença na trama, se impor mais como o menino que sabe o que está acontecendo, mas que ninguém acredita nele. Rosemarie Margaret DeWitt, que interpreta Amy Bowen, apresenta aquela mãe que largou tudo para cuidar dos filhos, mas não consegue fazer com que o público de fato se importe com ela.
Outro problema do filme atende pelo nome de Gil Kenan, o diretor. Fazer terror hoje em dia é uma faca de dois gumes: ou você apresenta alguma novidade, seja tecnica, seja narrativa, ou você faz o feijão com arroz de forma eficiente. Navegar por um meio termo normalmente não dá certo, e é exatamente o que acontece aqui. Gil ora tenta apresentar um visual moderno, que flerta com filmes de sci-fi, trazendo até drones à trama, e ora busca seguir a linha mais tradicional de terror, com ênfase na trilha sonora e nos sustos pré-programados. Não dá certo em nenhum dos casos.
Poltergeist – O Fenômeno chega aos cinemas já sofrendo de um mal: o da expectativa desmedida. Atualizar um dos maiores e mais emblemáticos clássicos do cinema (tem uma série de histórias sobre os atores que morreram ou tiveram vidas sofríves) é um trabalho árduo. Para quem teve o prazer de ter assistido ao original, a experiência é um pouco frustrante, pois aqui nada de novo foi construído. Entretanto, para quem descobriu o título por conta da nova versão, pode se divertir em algumas cenas, e colocar o filme no mesmo grupo de tantos outros terrores medianos que foram lançados nos últimos tempos.
Poltergeist merecia mais que isso.
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site