Qualquer Gato Vira-lata 2
Filme entrega exatamente o que promete: cenas leves, sequências cômicas e desenvolvimento narrativo superficial; resultado final é interessante
Por Luis Fernando Pereira
Em primeiro lugar, devemos saber, desde o segundo inicial do filme Qualquer Gato Vira-Lata 2, que se trata aqui de mais uma comédia boba com atuações nada convincentes e um roteiro frágil, sem perspectiva alguma de fazer o espectador refletir ou discutir técnicas cinematográficas depois da sessão.
Com isso em mente – e deixando-se levar pela arte de abraçar uma história, por mais surreal que possa parecer – você poderá dar muitas risadas com a nova trama da comédia que foi o maior sucesso em 2014. E isso porque muitas das cenas do filme conseguem produzir aquela sensação de comédia pastelão, e nos fazer rir com gosto, mesmo que ao final da risada, venha àquela vergonha por rir de algo tão bobo. E é nesta dinâmica que o filme, dirigido por Roberto Santucci e Roberto Antunez, se sustenta.
História
Na nova história, temos Tati (Cléo Pires) e Conrado (Malvino Salvador), que terminam juntos o primeiro filme, viajando para a cidade de Cancún, no México, onde ele participa de uma conferência para o lançamento de seu livro. Lá, ela aproveita a ocasião para pedi-lo em casamento, com transmissão via internet para todos os amigos no Brasil. Porém, a resposta dele não foi a esperada , decepcionando-a. Assim, Marcelo (Dudu Azevedo), ex de Tati, volta a ter esperanças. Para complicar, Ângela (Rita Guedes), a ex de Conrado, também é convidada para o mesmo evento no México, onde também está lançando um livro, cuja tese bate de frente com a dele.
Já perceberam qual era a intenção do roteiro desde o início do filme, não?
Vamos arranjar algum jeito (verossímil ou não) de juntar todos os personagens em um único lugar, no caso do filme, em Cancún, no México.
Feito isso, chegou o momento de preparar a premissa, o ponto de virada e o desfecho. Tudo começa com o pedido de casamento de Tati. A resposta de Conrado faz a história andar: Marcelo vai ao México lutar por Tati, seu amigo solitário também; a amiga solitária de Tati já está lá; imaginem o que vai acontecer com estes dois? A ex de Conrado também. Enfim… foi criada uma narrativa para que todos os personagens fossem ao México e dividissem as sequências.
Sequências estas que muitas vezes pareciam esquetes de humor de qualquer um destes programas televisivos. E por mais estranho que possa parecer, boa parte destas ‘esquetes’ funcionavam, pois de fato o público ria muito das situações criadas, que beiravam sempre o pastelão.
Tivemos o grupo musical mexicano, o desafio da pimenta, as mentiras com a criança, foram várias as cenas que de fato empolgaram, e isso para uma comédia é algo louvável. Lembremos que a grande parte das comédias da Globo Filmes sequer conseguem arrancar um sorriso amarelo.
Qualquer Gato Vira-lata 2
Falar das atuações soa desnecessário, pois não há arco dramático que exija maior empenho dos atores, exceto a parte que reúne pai e filha já no final do filme. Os diálogos entre Tati e seu pai (Cléo Pires e Fábio Junior) foram bastante tocantes, e bem deslocados da história, devemos lembrar. Era como se aquela sequência fosse uma criação à parte no projeto. Como foi bonita, podemos até relevar.
Os personagens soam fúteis, os atores, preguiçosos (entretanto, deve ser bem divertido para o elenco filmar um projeto assim) e o roteiro bem frágil. Porém não eram estes os elementos centrais da produção de Qualquer Gato Vira-Lata 2.
A ideia era somente dar continuidade a trama que fez muito sucesso e rendeu dinheiro. Isso já é motivo mais que suficiente para dar continuidade ao filme. E desta constatação concluímos que,
1 – É uma pena que ainda aconteça isso e,
2 – Ao menos a experiência aqui não foi trágica, e cá entre nós, até divertida.
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site