Luzia ( Giovanna Antonelli)
Rede Globo aposta em trama ambientada na Bahia, dentro no universo da música Axé e do estilo soteropolitano para se viver
Todo mundo meio que já sabe que muitas vezes para você se deleitar com uma obra de ficção, seja no cinema, na televisão ou na literatura, é necessário que o espectador abra a mente para um possível festival de elementos surreais. É a licença poética tomando forma. Pois bem, o espectador que assistiu ao primeiro capítulo de “O Segundo Sol” nova novela das 21 horas da Rede Globo, teve que exercitar ainda mais essa tolerância a coisas absurdas.
O argumento inicial, que dá o pontapé para o começo da história, é muito doido: um cantor decadente, que não é mais conhecido nem reconhecido por ninguém, é dado como morto em um acidente de avião, e a sua marca, seu nome, passa a ser valorizado a partir daí. O problema é que o cantor não morreu, mas vai continuar fingindo a sua morte para tentar faturar em cima desse acontecimento. Para ficar longe de tudo ele vai passar umas semanas numa ilha paradisíaca na Bahia, lá conhece rapidamente uma bela e ingênua baiana, se apaixona, e começa a viver uma nova vida, com outro nome.
Entendeu? Nem nós.
O cantor em questão se chama Beto Falcão (Emilio Dantas). A mocinha se chama Luzia (Giovanna Antonelli), e o casal de vilões, num primeiro momento é formado por Remy (Vladimir Brichta, como irmão de Beto) e Karola (Deborah Secco, como ex noiva de Beto). Esses foram basicamente os personagens apresentados na estreia da novela.
Claro que ainda é bem cedo para falarmos do roteiro, das atuações, e das tramas de O Segundo Sol, mas pelo que foi apresentado neste primeiro capítulo teremos um show de tentativas esquizofrênicas de imitar o mais natural possível à fala, os trejeitos e o estilo de vida do soteropolitano. Foi um festival de gírias mais contemporâneas, diferentes daqueles tradicionais “meu rei”. Quem é baiano certamente percebeu que tivemos um show de termos usados por baianos de Salvador. O problema é que o uso foi em excesso, em cada frase, para melhor dizer.
É preciso que os roteiristas saibam que o baiano médio, assim como o paulistano, carioca, etc., tem um estilo de falar normal, e aos poucos, durante uma conversa, ele vai liberando sua munição de palavras peculiares. Os roteiristas de O Segundo Sol decidiram metralhar cada personagem com dezenas de gírias por minuto.
Mas este é somente um problema que pode ser resolvido com o tempo. Outra questão foi a polêmica com a falta de atores negros na trama. No primeiro capítulo nem tivemos, acredito. Não que seja tão necessário, afinal de contas, se pegarmos a nata da música baiana, ela é formada por nomes como Ivete, Claudia Leitte, Daniela, Saulo, Bell… e nenhum deles é negro.
Mas esta tentativa de defender a Rede Globo acaba sendo falha, pois mesmo pensando desta forma, é incrível como houve uma falta de sensibilidade da produção da novela para encontrar personagens que conseguissem representar de forma mais plural o povo de Salvador. Mas novamente, esta é uma questão que também pode ser melhorada com o passar dos meses.
Quanto à história, bem, vamos pensar em alguns acontecimentos: um avião cai, e só se fala em um cantor, uma espécie de subcelebridade que teve somente uma música de sucesso? E mais: Luto por 3 dias por conta somente desse cantor? O presidente mandando condolências para a família do cantor? Esta foi provavelmente uma das maiores ‘forçações’ de barra dos últimos anos na teledramaturgia da Rede Globo (novelas mexicanas não contam).
Toda a rapidez que transformou o astro Beto no pacato Miguel foi forçada demais e nem deu para o espectador se conectar com o personagem, seja ele qual for. Já o romance com Luzia foi ainda mais rápido, mostrando o porquê o brasileiro ainda é um povo que se engana facilmente: em poucos dias Luzia conhece um homem misteriosos, e este homem já dorme em sua casa, se tornando quase que o pai substituto de seus filhos.
Analisar as atuações se torna até desnecessário, pois capítulos de estreia normalmente são corridos, e o tom dramático se perde em prol de contar de forma mais didática a história. Foi exatamente isto que aconteceu com O Segundo Sol: pouco drama e muito didatismo.
Quem vai gostar muito da novela são os amantes da música baiana: a trilha sonora viaja pelo axé music, mas tira a personalidade de todas as músicas, que ganham arranjos de música de elevador. Ainda assim, algumas soam bem bacanas e podem agradar aos ouvidos.