Sergio, Netflix
Netflix lança filme sobre a vida de um dos maiores nomes da diplomacia mundial; por acaso ele é brasileiro e foi morto no Iraque em missão de paz
Este fim de semana a Netflix lançou um dos filmes mais interessantes para o público brasileiro, e a sua relevância deveria ser levada em consideração por todos que abrirem a plataforma para escolher o filme do dia para ver.
O filme – Centrado no livro “O homem que queria salvar o mundo”, de Samantha Power, e produzido pela Netflix, o filme relata a vida de Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura), diplomata brasileiro da ONU que morreu em Bagdá, em 2003, durante um bombardeio à sede das Nações Unidas local.
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Sergio, a biografia do diplomata brasileiro e alto comissário da ONU – pode até não ser um primor do ponto de vista narrativo (falaremos mais adiante), mas a sua importância se sobressai perante pequenos incômodos narrativos. O filme é um tratado da natureza politica do ser humano, de como o homem pode mudar e melhorar o planeta utilizando-se tão somente da arte da diplomacia. Sergio foi talvez o maior diplomata das Nações Unidas, e a sua falta se nota em um mundo dominado cada vez mais por relações fundamentadas nas trevas.
E não precisamos usar o país de nascimento de Sergio, nosso Brasil, como exemplo. Sergio seria hoje uma figura fundamental em países como os Estados Unidos, Itália, México, Reino Unido, enfim, em boa parte do mundo liderado por representantes ora autoritários, ora arrogantes, ora ignorantes. É nesse contexto que sentimos a sua falta e que reafirmamos a sua importância na história política da ONU, e do Brasil.
Quanto ao filme, há elementos que incomodam, e não há como deixar passar os milhares de cortes que são feitos desde o início. Não significa que a decisão em contar uma história não linear, sem aquele início, meio e fim básicos, tenha sido errada. O filme lança logo mão do acontecimento mais importante da trajetória de Sergio, que foi o atentado sofrido pela ONU no Iraque, que o vitimou fatalmente. Começar deste ponto, e a partir de então navegar pelos momentos mais importantes de sua vida política, e entrelaçando com a sua vida amorosa (tão importante quanto aqui na trama) seria uma opção interessante caso não houvesse um exagero de cortes, um exagero tão grande que acaba atrapalhando a fluidez da história do ponto de vista narrativo.
Por sorte as atuações principais aqui, a de Sergio (Wagner Moura) e a de Carol, sua amada (Ana de Armas), acabam prevalecendo e ai os incômodos meio que se perdem perante uma relação intensa de cumplicidade dos dois personagens.
Sobre a escolha de Wagner Moura como protagonista, aqui vai um misto de opiniões. A primeira na verdade é de ordem prática, e o fato de Wagner também ser produtor do projeto deve ter ajudado na hora de bater o martelo. Do ponto de vista mais abrangente, colocar Wagner Moura como protagonista transforma de modo injusto o filme numa peça político partidária, onde o público partidário de um grupo político vai adorar e outro público vai odiar, talvez ambos façam isso pelas razões erradas.
Afirmar que o filme é relevante e que a atuação de Wagner Moura é convincente não vai transformar alguém em comunista, e vice versa. O atual estágio da sociedade brasileira talvez não seja o ideal para o lançamento de um projeto assim, tal como Marighella, outro filme político bastante interessante que sofre do mesmo problema (por coincidência Wagner Moura também está neste).
Sergio é um personagem histórico dos mais relevantes para o Brasil, é motivo de orgulho e muito provavelmente ele estaria hoje dialogando com todos os atores políticos do Brasil, mesmo que ninguém conseguisse entender este fenômeno, que é a base da democracia: o diálogo com todos e a diplomacia como arma.
Cabe aqui um destaque adicional para Ana de Armas, que além de linda, é por demais talentosa, e que se mostra cada vez mais como uma futura grande estrela de Hollywood, o que será de um simbolismo gigante para uma atriz nascida em Cuba.
Sergio, o filme, tem dessas coisas.