Crítica

Crítica – “Tenet” alinha forças universais e intimistas

Tenet

“Nolan alinha em “Tenet” forças universais e grandiloquentes a um extrato intimista do chamado cavaleiro solitário, o homem que engendra o perigo e a renúncia para fazer a máquina do nosso imaginário narrativo girar”

Adolfo Gomes

Conviver com a eminência da catástrofe, as ameaças planetárias, como quem vive um amor velado e sempre em paralelo ao objeto de desejo – constantemente sob risco. Todo filme de espionagem é também uma meditação sobre a dissimulação, mas em “Tenet”, Christopher Nolan constrói uma espécie de “vestígios do dia” de cariz aventuresco.

Seu protagonista, o metonímico John David Washington, guarda com o mordomo vivido por Anthony Hopkins no drama de James Ivory (baseado na obra de Kazuo Ishiguro),  o mesmo senso de retidão e sacrifício.

São insularidades que se aproximam não apenas por compartilharem o denominador comum britânico – o homem contido, imbuído de um compromisso quase fatalista do dever, ou seria mais apropriado dizer do devir poético da aventura interior (e aqui também entrópica).

Esses Ulisses da discrição, que vagam pelo mundo para que ele continue a existir, têm como vínculo “o olhar a cada dia”, ou seja, a consciência de que, a despeito das promessas e expectativas de uma Penélope empoderada (Elizabeth Debicki agora, Emma Thompson no filme de 1993), a jornada nunca termina.

Então, se o novelo que liga o “herói” à espiã involuntária é intrincado como o conceito de reversão da matéria por trás de “Tenet”, resta a Nolan, para nos oferecer entre outras âncoras indispensáveis para a lógica da aventura, recorrer ao princípio hawksiano da amizade/cumplicidade entre homens.

É aí que desponta a personagem de Robert Pattinson, um viajante no tempo de outra ordem, divertido e leve como uma pluma, porém sempre eficaz em qualquer demanda, literalmente, de gravidade.

Nolan alinha em “Tenet” forças universais e grandiloquentes a um extrato intimista do chamado cavaleiro solitário, o homem que engendra o perigo e a renúncia para fazer a máquina do nosso imaginário narrativo girar. Não é um pião como em ” A Origem”, mas balas que regressam às armas, como o cinema de ação volta às suas origens, aos velhos tempos ( românticos tempos) em que um homem (  ou, no máximo, dois ou três, que o seja) salva(m) a  humanidade.

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