The Post: A Guerra Secreta
Dirigido por Steven Spielberg. Roteirizado por Liz Hannah, Josh Singer. Elenco: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Alison Brie, Bob Odenkirk, Bruce Greenwood
Por Gabriella Tomasi
Se tem algo da qual a cultura e história norte-americana sente orgulho e reverencia é a sua imprensa. Com respaldo na primeira emenda dos Estados Unidos, na qual garante a liberdade de expressão deste setor e dos seus indivíduos, muitas vezes observamos na vida real e na indústria cinematográfica personagens levantarem essa bandeira em nome da busca pela verdade, de denunciar casos importantes à sua população, principalmente quando se tratam de mentiras escondidas pelo poder público.
Spotlight: Segredos Revelados (2015) abordava essa temática de forma tão eficiente que foi agraciado com o Oscar de Melhor Filme em 2016. Neste ano, seguindo a mesma intenção, temos The Post: A Guerra Secreta, o qual revelou um momento do jornal The Washington Post, qual seja, uma batalha interna para revelar documentos confidenciais que denunciavam o verdadeiro papel dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã no final dos anos 60.
Haja vista que se tratava de dias intensos que precederam a responsabilidade imensa de vazar arquivos confidenciais que envolviam inúmeros ex-presidentes norte-americanos e também comprometia o mandato do então Chefe do Executivo, Richard Nixon, o roteiro de Josh Singer e Elizabeth Hannah habilmente trás uma história sob os olhos de Katharine Grahamm, ou Kay, (Streep), dona do jornal, que caiu de para quedas no ramo jornalístico que fora herdado de seu recém-falecido marido Phillip. Essa luta feminina então teve que lidar não somente com o futuro do empreendimento familiar, eis que o jornal passava por grandes dificuldades em se manter no mercado, mas também com as pressões oriundas do grande ceticismo e subjugação masculina. Notem como Kay percorre tantos aposentos sempre como a única mulher no lugar, rodeada de homens. O que se revela, gradualmente, é que suas ações e decisões foram cruciais para o prestígio e reputação que o Washington Post possui até hoje.
Dessa forma, Spielberg equilibra questões complexas ao longo da narrativa, todas válidas de serem discutidas atualmente, como empoderamento feminino, poder e o papel da imprensa na sociedade, crises políticas e abuso de poder contextualizado na década de 70. Assim sendo, Meryl Streep e Tom Hanks são colocados no centro da corrida contra o tempo e o risco de eles e toda a sua equipe serem criminalmente repreendidos, assim como o perigo do jornal decretar falência conduzem a narrativa e tentam justificar a existência deste filme o tempo todo. Além disso, a conexão que se faz com o longa Todos os Homens do Presidente (1976) em relação ao caso Watergate, assim como as rimas visuais executadas referenciando a ele, tentam segurá-lo, mas o desespero salta os olhos e The Post: A Guerra Secreta acaba desapontando em inúmeros aspectos.
The Post: A Guerra Secreta
Isso porque a concentração exagerada nos personagens de Streep e Hanks acaba ofuscando a relevância do papel dos demais na história, como por exemplo, Ben Bagdikian (Odenkirk) e o apressado e artificial arco dramático de Daniel Ellsberg (Rhys). Ademais, há o desperdício completo do papel da “dona de casa” de Tony, interpretada por Sarah Paulson. Chega quase a ser hipócrita um filme que levanta a bandeira feminina e ao mesmo tempo insere uma atriz de renome para se limitar a fazer sanduíches para homens com pouquíssima relevância no enredo até mesmo aos olhos do marido. Portanto, ao mesmo tempo em que o filme tenta inovar e tenta convencer o espectador de que ele está inovando, na realidade nunca sai da sua zona de conforto. Falta ousadia, falta sagacidade em um filme que tropeça constantemente e não consegue ao final almejar a dinâmica e o peso dos eventos históricos que Spotlight também possuía – tudo parece mais frívolo aqui.
Essa pressa que transparece no ritmo frenético da edição para intensificar os momentos antecedentes ao prazo de impressão dos jornais parece ser a maior preocupação de Spielberg a ponto de negligenciar todo o resto (como finalizar a discussão com as consequencias históricas ou então todo o risco judicial que enfrentaram) e nos concede pouquíssimos momentos de alívio para processar o que está acontecendo em tela. Isso é resultado também no fato de que a produção começou no mês de maio de 2017 e correu para terminar dentro do prazo final da Academia para entrar na sua lista de consideração aos candidatos do ano.
Uma oportunidade desperdiçada é o que melhor descreve The Post: A Guerra Secreta.