Two and a half men
Doze anos depois de ter estreado a série imortalizada pelo ator Charlie Sheen e continuada por mais 4 anos por Ashton Kutcher enfim acaba
O ano é 2003 e a televisão americana passa por um de seus melhores momentos de toda sua história. Friends ainda existia, mas já estava prestes a acabar. Um ano mais tarde, Lost, um dos maiores fenômenos da cultura pop estreia na rede ABC, junto com outra série que entraria para a história: Desesperate Housewives. E enquanto Friends se despedia e Lost se apresentava para o mundo, Two and a Half Men, série criada por Chuck Lorre e Lee Aronsohn começava a tomar conta da audiência nos Estados Unidos.
Sem um roteiro engenhoso como o de Lost, e nem uma turma de amigos simpáticos, como a de Friends, Two and a Half Men apostava todas as suas fichas no humor politicamente incorreto e na figura de Charlie Sheen. E deu mais que certo. Todas as tiradas sarcásticas de Charlie (o Harper, não o Sheen), as piadas de cunho sexual e as frases depreciativas, sobretudo na sua relação com o irmão, Alan (Jon Crier) deram à série um status de subversiva e foi assim que a audiência americana foi conquistada.
Por muitos anos Two and a Half Men foi a série mais popular dos Estados Unidos (excluindo ai os realitys shows como o American Idol), e muitos creditavam isso somente à participação de Charlie Sheen. Mas o fato é que todo o elenco da série era ótimo, desde Jake (Angus T. Jones) peça fundamental até mesmo para o título da série, passando por Berta (Conchata Ferrel) e chegando em Evelyn, mãe de Charlie e Alan (Holland Taylor). Todos eram importantes para o funcionamento da engrenagem.
Outra personagem, não muito falada, mas tão relevante quanto todos estes, é Rose, interpretada pela bela e talentosa Melanie Lynskey. Ela talvez tenha sido durante todos estes anos a única personagem que de fato se igualou com Charlie no quesito loucuras. Ainda tínhamos Judith, depois veio Herb, e mais adiante Lindsey, que continua até hoje.
Um elenco talentoso, um roteiro estapafúrdio, mas engraçado e um conjunto de situações que muitas vezes nos dava certo nojo, mas ainda assim não dava para negar que era divertido. Essa foi a Two and a Half Men durante oito anos, durante oito temporadas que deram à série o título de mais popular da televisão americana. Se ela tivesse acabado no final da oitava temporada, quando Charlie Sheen foi oficialmente afastado, por problemas com o criador da série Chuck Lorre, nós estaríamos aqui provavelmente lamentado o desfecho de uma das melhores comédias dos últimos anos.
Two and a half men
Porém não foi este o caminho escolhido por Chuck. Com a série sendo uma das maiores receitas da televisão, seria quase impossível pensar em cancelamento. Foi então que a produção resolveu contratar Ashton Kutcher, famoso por ter interpretado Michael Kelso na saudosa That 70’s Show. A série deu tanta fama para Ashton que lhe abriu inúmeras portas, inclusive para o cinema, onde ele é até hoje chamado para viver mocinhos em comédias românticas.
Ashton é talentoso, mas chamá-lo para substituir Charlie Sheen foi um tremendo tiro no pé em termos de criatividade e de identidade da série, que deixou de ser subversiva e passou a ser patética. Seu personagem, Walden Smith, um bilionário que compra a casa do falecido (será?) Charlie, mas tem que conviver com Alan, que não tem para onde ir, não traz nem 10% do carisma e da força narrativa de Charlie Sheen (Harper).
E foi ai que tudo degringolou de vez. A história passou a ser, por muitos momentos, um drama romântico, onde Walden buscava encontrar o amor de sua vida. Já tinha na bagagem uma ex-mulher, fato responsável por uma primeira conexão com Alan. Mas a química não era a mesma, Alan e Walden nunca chegaram aos pés de Alan e Charlie. A relação deixou de ser de desprezo fraternal cômico e passou a ser de compaixão patética desleixada. Eram, estranhamente, dois perdedores, mesmo que um desses tivesse mais de 1 bilhão de dólares na conta.
Personagens foram criados (uma filha de Charlie e por fim, um filho adotivo para Walden), outros retornaram para participações especiais (Rose, em alguns episódios, mas sem a mesma força). Nomes grandiosos, como a da namorada de Ashton, Mila Kunis, fizeram participações especiais, mas o fato é que, desde a oitava temporada que Two And a Half Men não entrega um conjunto de episódios ótimos, nem sequer bons.
Assim chegamos à conclusão: se a série tivesse nos deixado lá no fim da oitava temporada, ela provavelmente estaria hoje colocada num grupo junto com Friends, Will & Grace, How I Met Your Mother e mais algumas que lideram a lista de comédias que deixaram saudades. Mas nos deixando quatro temporadas depois, e com inúmeros episódios odiosos, Two And a Hal Men sai de cena deixando o sentimento de alívio no público, de ver finalmente acabar algo que já não possuía nem 20% da força que possuía antes.
Um final melancólico para uma série subversiva.