Crítica

Crítica Um Milhão de maneiras de Pegar na Pistola

A Million Ways to Die in the West

Segundo longa-metragem de Seth MacFarlane aposta ao fazer do gênero faroeste uma mistura de comédia, besteirol e romance

Sem muita conversa fiada, vamos logo para o primeiro incômodo do mais recente projeto do diretor, produtor, humorista e roteirista americano Seth MacFarlane (Family Guy, Ted): que tradução é essa? Tradução que transforma uma ideia simples de filme faroeste (Um milhão de maneiras de morrer no oeste) em uma produção que tranquilamente se passaria por um filme pornô. Talvez fosse esta a ideia, mas que foi de um tremendo gosto duvidoso, ah, isto foi. Claro que o incômodo não é com o filme (ainda), mas sim com os criativos marqueteiros brasileiros responsáveis por este dispendioso trabalho.

Sobre a história de Um Milhão de maneiras de Pegar na Pistola, nada de muito original: o século é XIX e Albert (Seth MacFarlane) é um pobre criador de ovelhas que perde sua namorada, a bela Louise (Amanda Seyfried) para o arrogante e dono de loja de bigodes Foy (Neil Patrick Harris). Paralelo a isso conhecemos Ana (Charlize Theron) uma linda e oprimida mulher casada com o maior atirador do Oeste americano (Liam Neesson). Albert e Ana acabam se conhecendo e a partir de então suas vidas tomam outras perspectivas.

Fazendo uma homenagem aos filmes de faroeste, muito famosos nos Estados Unidos, Seth MacFarlane junta todos os seus atributos criativos, que podem ser vistos em Family Guy e Ted, e constrói uma história centrada inicialmente na comédia romântica, mas com um pé bem dentro do humor ácido, muitas vezes escatológico. Em uma das cenas da segunda parte do filme, quando Albert está prestes a duelar com Foy, vemos o viés escatológico do roteiro de MacFarlane tomar forma. Não há dúvida que existe um público que adora este lado mais sujo do roteirista, mas definitivamente, em termos narrativos, tais cenas são descartáveis.

O elenco, dos mais interessantes, parece se divertir com o projeto e não o leva a sério: as atuações são caricaturais, como a ideia do filme invoca, e muitas das falas mais parecem sair de um stand up americano (e olha que o filme é de época, ambientado no século XIX). Com piadas jogadas a todo instante, o filme consegue acertar em algumas, mas erra na maioria, principalmente por se repetir. Por exemplo, a cada dez minutos víamos uma tirada cômica sobre a relação de um dos casais do filme, composto por um rapaz virgem e sua noiva prostituta. As primeiras eram interessantes e acertavam em cheio no fato deles não terem feito sexo ainda, mesmo ela sendo uma prostituta, mas as seguintes eram cópias mal acabadas de si mesmas.

Seth MacFarlane é dono de um humor bem típico dos americanos: tiradas rápidas, ácidas, sem ter medo de atingir qualquer grupo racial, social… e isso em um primeiro momento é muito bom. Quando ele acerta, as gags são garantidas. Em Um Milhão de maneiras de Pegar na Pistola isso acontece em alguns momentos, sobretudo na primeira parte da história. Depois, quando o viés romântico toma conta, o filme se perde, não apresentando identidade alguma. Não sabemos se é um faroeste, uma comédia, um romance… e a junção de tudo isto é bastante falha.

O filme, entretanto, possui um público alvo bem definido: os jovens que gostam do chamado humor politicamente incorreto. Para eles o filme foi produzido. Foi para eles que Seth escreveu cenas escatológicas, com flatulências sendo soltadas a vontade ou personagens se cagando – literalmente – nas calças. Mas se ele acertou em cheio com Ted, em Um Milhão de maneiras de Pegar na Pistola sua criatividade não foi utilizada no potencial máximo.

Com algumas cenas engraçadas, duas lindas atrizes em cena e uma série de sequências de gosto duvidoso, o mais novo filme de Seth MacFarlane tem tudo para – ao mesmo tempo – divertir muitos fãs de seus trabalhos, mas também ser incluído nas listas de piores filmes do ano.

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