De Canção em Canção
“Com A Árvore da Vida, de 2011, o também roteirista elevou os padrões para o que se pode chamar de cinema contemplativo”
Por João Paulo Barreto
Terrence Malick possui ao seu redor uma áurea de mistério. Pouco fotografado ou visto em público, já é notório o fato de que, após dois filmaços dirigidos na década de 1970 (Terra de Ninguém e Cinzas no Paraíso), o realizador entrou em um exílio cinematográfico. Só voltou a dirigir vinte anos depois, em 1998, com Além da Linha Vermelha, uma poética e brilhante, porém não muito unânime, visão da Segunda Guerra Mundial. Após isso, um novo hiato, dessa vez mais breve (sete anos) e o diretor trouxe, em 2005, O Novo Mundo, sua versão live action da lenda de Pocahontas, que a Disney já havia popularizado nos anos 1990.
Percebia-se, no entanto, que apesar de certo tom aventureiro na adaptação, os vinte anos passados entre Days of Heaven e The Thin Red Line haviam mexido com o modo do diretor fazer cinema. As questões existencialistas inseridas no filme bélico passaram a fazer parte de suas narrativas com cada vez mais presença. Após o teor histórico da exploração branca para com o povo nativo americano (filme que já trazia certo tom existencial em sua proposta), Malick levou seis anos para criar sua mais simbólica obra após o drama de guerra do final do século passado. Com A Árvore da Vida, de 2011, o também roteirista elevou os padrões para o que se pode chamar de cinema contemplativo, criando uma profunda reflexão acerca da perda e sua relação com o que podemos chamar evolução humana. Um trabalho que exige bastante do espectador, mas que, ao seu final, sabe trazer uma pertinente reflexão.