Crítica

Crítica: vale a pena assistir Por Trás dos Seus Olhos, com Blake Lively?

Por Trás dos Seus Olhos

Dirigido pro Marc Forster. Roteirizado por Marc Forster, Sean Conway. Elenco: Blake Lively, Jason Clarke, Ahna O’Reilly, Yvonne Strahovski, Wes Chatham, Danny Huston

Por Gabriella Tomasi

A visão de nossos olhos é um instrumento de enxergar o mundo e, assim, interpretar e dar sentido à realidade em nossa volta. E para nós isso já não nos é novidade.

Neste contexto, se em Ensaio sobre a Cegueira (2008) essa mesma faculdade fisiológica denunciava um triste mundo em relação ao lado obscuro da humanidade, em Por Trás dos Seus Olhos podemos observar a mesma problemática, mas dentro de uma perspectiva bem mais íntima, dentro de um relacionamento supostamente sólido que vai se degradando. A história gira em torno do casamento de Gina (Lively) e James (Clarke) e sua vida em Bangkok na Tailândia em uma fase conturbada já que Gina, após perder sua visão em razão de um acidente quando criança, tem a oportunidade de recuperar a vista do olho direito, ao mesmo tempo em que ambos tentam ter um filho pela primeira vez sem muito sucesso. No entanto, quando Gina começa a ver novamente, ela também começa a enxergar a sua própria vida.

O diretor Forster tinha uma premissa muito interessante ao transpor a deficiência de sua protagonista como uma metáfora de nossas ilusões e, consequentemente, o “despertar” em relação à elas. Mas aqui o resultado é de um pobre roteiro com conteúdo nulo mascarado por uma boa e intrigante fotografia. A impressão que fica, pois, é que tanto se apostou nos elementos cinematográficos, que mal se deu conta de efetivamente apresentar uma história ao seu espectador.

Isso porque a fotografia de Matthias Koenigswieser traz um lindo e eficiente trabalho no qual podemos sentir a perspectiva da cegueira de Gina, mediante os jogos de luzes em tons diferentes, em que muitos possuem a tonalidade roxa para evocar e ressaltar sua debilidade, assim como os diferentes ângulos e espelhamentos para representar a imagem que toma conta da mente dela. Em uma grande referência a O Escafandro e a Borboleta (2007), podemos sentir o que ela mesma sente em determinados momentos pelo emprego da câmera subjetiva o que torna a experiência ainda mais palpável.  Da mesma forma,  Koenigswieser isola muitas vezes a protagonista em planos contemplativos de modo a simbolizar a solidão que isso traz à ela. Mas o mais interessante da produção, é a forma como o olho de Gina vai deteriorando e se tornando cada vez mais vermelho (o símbolo da violência e ameaça) na medida em que seu casamento vai tomando rumos cada vez mais obscuros.

Contudo, os elogios param por aí. Por mais que Forster tente aproximar sua audiência para a realidade do casal, ele a mantém ao mesmo tempo longe. Não há aprofundamento em relação à personalidade do casal, de cada um como indivíduo ou até mesmo a sua história. Não sabemos da onde se conheceram, como se conheceram e sequer a dinâmica de seu casamento ao longo dos anos. A preguiça é tamanha que nem se explica direito como dois norte-americanos vão parar em um país asiático cheio de pessoas brancas e nativas no inglês. Assim sendo, os impasses que surgem no relacionamento são mal explicados, não motivados, e, portanto, pouco críveis como, por exemplo, a obsessão de James ou os desejos sexuais de Gina.  É visível a tentativa do cineasta em tornar essa experiência mais sensorial, mas isso sequer preenche o vazio e a superficialidade de seu roteiro.

Para piorar a situação temos dois atores, Blake Lively e Jason Clarke, nos papéis principais que não trazem nenhuma empatia, nenhuma química e nenhuma complexidade mesmo pelo material raso que fora lhes dado, o que fica ainda mais difícil de entender ou no mínimo se importar com eles.  A distância do espectador para com eles fazem deles personagens odiáveis, inconsequentes e imaturos, como duas crianças que adoram se provocar e não possuem limites. Neste sentido, a abordagem psicológica pretendida para este drama se torna nada eficiente diante de um conteúdo vazio.

Por Trás de Seus Olhos, em suma, é um projeto que tinha boas intenções e uma premissa que foram completamente desperdiçadas.

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