Una filme
“A protagonista título, seduzida por um homem mais velho, leva aquela cicatriz de forma solitária e conturbada até a fase adulta”
Por João Paulo Barreto
Há em Una, estreia no cinema do diretor Benedict Andrews, uma coragem semelhante à de Kubrick e a de Lars Von Trier. Enquanto o primeiro levou a obra de Nabokov ao cinema de modo a analisar o pedófilo Prof. Humbert adentrando em sua mente e observando suas fraquezas e tentações a partir de sua própria óptica (seja ela doentia ou não, definição que o filme não aprofunda), Von Trier inseriu na parte dois de sua obra essencial, Ninfomaníaca, uma cena na qual a protagonista disseca um também pedófilo através do sofrimento que ela acredita que o mesmo deva sentir na necessidade de dar vazão aos seus desejos criminosos.
Na obra de Andrews, cujo roteiro se baseia na peça escrita por David Harrower e adaptada aqui pelo próprio, tal julgamento, entretanto, é feito pelos dois lados. Não somente por uma óptica unilateral da vitima ou do perpetrador, ou de uma análise estritamente externa. Este acaba sendo o grande acerto da produção.
A proposta inicial de discussão do filme é analisar os traumas a partir da posição da vítima, que teve não somente seu corpo, mas sentimentos amorosos corrompidos aos 13 anos de idade. A protagonista título, seduzida por um homem mais velho, leva aquela cicatriz de forma solitária e conturbada até a fase adulta. É quando finalmente decide confrontá-lo para, ao menos, compartilhar todo o sofrimento e trauma psicológico que sofreu não somente pela sedução, mas por ter sido abandonada física e afetivamente por aquele por quem se apaixonara e com quem teve sua primeira experiência sexual.