Vestido pra Casar
Comédia protagonizada por Leandro Hassum fornece o que de mais raso e vazio o cinema pode produzir
Antes de qualquer coisa, é bem curioso perceber como os produtores e roteiristas estão desesperados para conseguir criar algum papel para o ator e humorista Leandro Hassum; ele, que é atualmente o grande nome da comédia nas bilheterias brasileiras, já teve personagens casados com grandes beldades da cena artística nacional, como Danielle Winits e agora Fernanda Rodrigues e Júlia Rabello. E não, não é uma questão relacionada à aparência, de forma alguma, mas sim ao tipo de personagem que ele sempre interpreta: um homem bobo sem capacidade alguma de enxergar o mundo como uma pessoa minimamente responsável. É este o tipo que vem arrasando corações nas comédias brasileiras.
Em Vestido pra Casar ele interpreta Fernando, um escritor de casamento marcado com uma garota do interior (Fernanda Rodrigues). Ele, ao buscar a noiva no Aeroporto, se vê envolvido em grande confusão com uma ex-BBB (a bela Renata Dominguez), e seu amante (Marcos Veras). Ela, que é casada com um político, acaba se abrigando na casa de Fernando, sendo perseguida por um paparazzo. Fernando então só tem a opção de fazer de um tudo para contornar a situação e poder casar em paz.
Bem, este resumo não chega a entregar nada importante da história, já que ao longo de pouco mais de 90 minutos uma quantidade grandiosa de acontecimentos estapafúrdios é despejada na telona. Coisas que envolvem confusões envolvendo a família mafiosa de sua noiva caipira, um marido deputado e traído, um estilista negro, gay e alcoólatra bem exótico, um obstinado paparazzi, alémde policiais saídos do circo. Sim, é com esta salada de frutas que o cineasta Gerson Sanginitto (do ousado Área Q) busca divertir o público. E por incrível que possa parecer, para muitos o filme realmente deve funcionar.
Não vale muito a pena falar do roteiro, pois a construção narrativa não possui fio condutor algum, não há nada interessante que faça a história andar. É simplesmente uma sucessão de esquetes que busca oferecer o que de melhor o filme acredita que possui: o humor de Leandro Hassum. Ele que, analisado isoladamente, é até um bom ator, com uma capacidade cômica incrível, e isto já merece aplausos. Agora olhando ele como parte de um todo, chega a ser constrangedor ver tanta gente bacana (Fernanda Rodrigues, Renata Domingues, Eliezer Motta…) se permitindo atuar em uma trama totalmente descabida.
Se o roteiro é ruim, a direção é preguiçosa demais, pois busca tão somente criar situações para Hassum brilhar, seja ele na cama com um mulherão dizendo ser gay, ou depois dizendo ser comediante, ou fugindo de brigas… são inúmeras as esquetes, e o nome utilizado aqui é exatamente este, por assemelhar-se à programas como Zorra Total ou A Praça é Nossa, fontes que o filme bebeu, não tenha dúvidas. É neste ponto que reside o grande problema de tais comédias: elas não se desgarram do estilo impregnado pela televisão; não há uma linguagem realmente cinematográfica, com um trabalho apurado de construção narrativa, de figurino, de fotografia, de nada. E para quem acha que este tipo de comédia não necessita de nada disto, então que simplesmente coloquem nos cinemas episódios inéditos destes programas.
Para não ser tachado de ranzinza ao extremo, os comentários sobre esta joia rara chamada Vestido pra Casar terminam por aqui. O filme busca certamente atingir um público que já consome quase que por osmose produções do tipo. É a famosa ida ao cinema para desanuviar a mente, para não pensar e somente se divertir. Este tipo de espectador não deve ser de forma alguma criticado, seria arrogante demais fazer algo do tipo. Porém, é inegável que falta elementos que qualifiquem o filme, que desde os primeiros segundos se mostrou mais um projeto caça níqueis que explora a capacidade de um ator em fazer rir somente com suas caras e bocas. É muito pouco e o espectador brasileiro merece bem mais que isso.