Whiplash
Um dos grandes filmes de 2015 estreia nos cinemas trazendo o que de melhor uma história pode entregar: muita emoção e atuações magníficas
Por Luis Fernando Pereira
Podemos aqui afirmar categoricamente que Whiplash – Em Busca da Perfeição (de Damien Chazelle) é uma experiência cinematográfica das mais poderosas dos últimos anos. E não somente para quem de alguma maneira se relaciona intimamente com música, mesmo sabendo que, para estes, a experiência é ainda mais inesquecível. Porém Whiplash é mais que isso; o filme é a representação quase que perfeita do quão o ser humano pode lutar para conseguir alcançar algo que ele considere como meta, objetivo ou até mesmo sonho.
Na história, acompanhamos a vida de Andrew Neiman, um jovem e ambicioso baterista de jazz, cujo único objetivo na vida é chegar ao topo do seu conservatório de música de elite na costa leste dos EUA. Atormentado pela carreira fracassada do pai como escritor, Andrew almeja dia e noite por se equiparar aos grandes gênios da música.
Em outro ponto da trama conhecemos Terence Fletcher, um professor reconhecido tanto por sua capacidade como instrutor quanto por seus métodos terríveis, é o regente da melhor banda de jazz da escola. Fletcher descobre Andrew e transfere o aspirante a baterista para a sua banda, mudando para sempre a vida do rapaz. A paixão de Andrew por atingir a perfeição rapidamente se converte em uma obsessão.
É neste momento, quando o roteiro joga para o espectador esta relação explosiva, quase que esquizofrênica, entre Andrew e Fletcher, que o filme ganha força, provando que todos os prêmios e indicações foram mais que merecidos. De um lado um professor que busca tirar o máximo possível, e o impossível, de seus alunos, e do outro alguém que de fato deseja ser levado ao extremo para chegar à perfeição, chegar ao número um na lista de grandes bateristas. Esta combustão é o elemento que faz de Whiplash um filme arrebatador.
E para que o resultado seja realmente grandioso era necessário que houvesse ao menos uma atuação poderosa. Era obrigatório que ao menos um dos atores desta relação tivesse uma atuação digna de aplausos. Por sorte, o que vemos na trama são dois atores em suas melhores atuações, entregando o que de mais cru, visceral e incrível uma atuação pode entregar.
Whiplash
Miles Teller (Andrew) e J.K. Simmons (Fletcher) conseguem transpor para as telas todos os sentimentos possíveis de seus personagens: determinação, perseverança, ambição, obstinação e tudo o mais que seus personagens exigem. Miles neste sentido é a mais que agradável surpresa, pois até aqui não havia brilhado tanto nos cinemas, mesmo tendo já participado de dois belos filmes, como Habbit Hole e The Spectacular Now.
Já J.K. Simmons dá uma aula de interpretação em um de seus momentos mais mágicos de sua vida profissional. Ele, que tem uma carreira mais voltada para a televisão (seu personagem em The Closer é bastante lembrado pelos fãs) conseguiu impor um ritmo e uma intensidade à Fletcher que só merece elogios. Seu personagem é cínico, sarcástico e arrogante, mas por trás deste comportamento se esconde um amante, em sua acepção mais verdadeira, da música.
O que o move é o desejo de ver nascer um novo ícone, um novo super herói da música, com o poder de fazer gerações continuarem sonhando em ser estrelas.
Damien Chazelle faz um trabalho dos mais competentes como diretor e se sobressai ainda mais como o roteirista do filme. Whiplash possui uma estrutura narrativa que permite que a história cresça com o passar dos minutos, e acabe em uma das sequências mais espetaculares dos últimos anos. A cena final, absurdamente catártica, só teve aquele peso por conta de todo o desenvolvimento da história, que fez daquele desfecho algo realmente crível e emocionante.
A edição, bastante ágil, é outro ponto forte do filme. O universo do jazz já foi por muitas vezes retratado nos cinemas, então era necessário uma abordagem que não fosse tão comum, clichê. O que vimos foi uma atmosfera jovem, confusa, mas excitante. Estes termos acabaram inundando a história com ação, agilidade e ainda assim dando espaço para que os arcos dramáticos fossem desenvolvidos.
Whiplash – Em Busca da Perfeição chega ao Oscar como um representante digno. J.K. Simmons já pode preparar o discurso, pois dificilmente perderá o troféu de ator coadjuvante. O filme merece. Uma obra enriquecedora, para amantes da música… para amantes do bom cinema… Para amantes da vida.
Luis Fernando Pereira é crítico cultural e editor/administrador do site