“Tira-se máscaras, mas ainda contamos com o silêncio retumbante de um povo acostumado a ser essa entidade plastificada por um partido que sempre o usou para sustentar a sua burguesia fisiológica e intelectual…”
Por Elenilson Nascimento e Anna Carvalho
Findo o Carnaval (se é que acaba), enfim, o ano de 2015 promete começar. O Leão da Receita ruge à porta; convém estender tapete vermelho e oferecer-lhe postas de carne fresca. O governo, depois de tantas promessas na campanha mentirosa para a presidência da República, agora, mostrando a sua verdadeira face, cortou investimentos orçamentários na área social e pedagógica – o que nos deixa, se não chocados, ao menos atônitos.
Oscar Wilde tinha uma frase que ilustrava os dramas da verdade sobre os seus delatores, da mentira e dos jogos de conveniência suspensos no meio do poder (*vejam e leia “O Retrato de Dorin Gray”): “Dê uma máscara e o homem lhe dará a verdade”. E quando as máscaras caem? E um partido lida com a verdade trafegando na mentira mil vezes repetidas para e forjar uma verdade onisciente, política, populista?
É tão difícil digerir contingenciamentos na ciência, tecnologia, educação, saúde e inovação, onde o País assumiu compromissos rasos de aprimoramento nesses setores e onde seus incompetentes dirigentes ainda têm a cara de pau de falar em crescimento sustentável, mas, forçados a reduzir a monstruosa dívida interna, exacerbada numa gestão de incompetência e corrupção, se limitam a empunhar a caneta e cortar, cortar e cortar gastos, aparentemente movidos por critérios políticos.
Mas o brasileiro é tão exposto ao caos moral, jogam tanto com essa falta de verdade fabricada por tia Dilma, que justificam que sempre houve roubo no Brasil, falam bem das cotas raciais nos bancos decadentes das faculdades e que o aceso da pobreza ao poder seja ilustrado ou instituído em universidades públicas, mas hoje agem como um poleiro de fundamentalismo doutrinando jovens idealistas e minorias numa olaria de petistas subsequentes.
Estamos perplexos com os números negativos onde ditadores se mantêm incólumes sem consciência e com ego, onde escolhas absolutamente plausíveis em momentos de crise jamais serão verdades factuais nesse montante de dinheiro usado para a manutenção de uma eleição mandatária no poder – para pavimentar consciências para que o pai dos pobres volte. Um partido que prefere cooptar ministros menos enturmados, de presença discreta, ou aquele governador com foros de independência. Tudo em nome da sabotagem de novas ideias. Novas ideias são coisas perigosas!
Lula nunca foi de fato um grande líder. O PT se arrasta, hoje, em sua arrogância limitada; Dilma, em seu excesso egóico, se recusa a ver os números das urnas: metade de um País que disse não ao seu projeto megalômano. E o que ela fez até agora? Ministérios que, no ano passado, perderam verbas já minguadas, voltam ao regime de pão e águas. E a educação, esta placenta de clamorosa necessidade pública, perderá mais de 1,93 bi. E a saúde pública prosseguirá cega e muda rumo ao abismo do brejo.
O que dizer desse fundamentalismo esdrúxulo que sustenta Dilma e o seu projeto de poder, numa campanha que em um único mês foi comprovada como enganosa e covardemente mal intencionada. O que dizer da tal de Sininho comprovadamente terrorista e procurada como bandida e a Dilma sempre colocada nas manchetes como uma nobre e heróica Coração Valente? Que coerência é essa onde se busca o vexatório paradigma entre o que seja heróico e revolucionário para sustentar essa ditadura petista e o outro lado que luta por uma causa aparentemente divergente, e que seja tão criminoso quanto os criminosos pés e chinelos na penitenciária da Mata Escura.
Dá-se com uma mão, tira-se com a outra. Esse governo do PT é um governo de acenos, de propostas razoáveis que, no frigir dos ovos, se diluem. Tira-se máscaras, mas ainda contamos com o silêncio retumbante de um povo acostumado a ser essa entidade plastificada por partido que sempre o usou para sustentar a sua burguesia fisiológica e intelectual. Não basta tomar da caneta para gerir. Esse gesto é tão simples quanto o de Ernesto Guevara, ao baixar o polegar que fuzilou centenas no paredão em cuba, e ao assinar o papel-moeda revolucionário com um ático e provocante Che.
Mas para alguns crédulos ainda há burgueses sim no PT, seja de uma burguesia paulistana que fundou o partido, com Florestan Fernandes ao Lula ou a própria Dilma. Há burgueses sim no PT que bebem Filé e que tomam cachaça com os contínuos na Avenida Paulista para dizerem que são populares. Mas o fato é que para o PT alimentar o maniqueísmo repetitivo entre burguesia e proletariado, seja absolutamente indispensável, menos, bem menos.
O País paga o gigantismo da dívida interna, preocupado com uma outra, para gáudio dos agiotas internacionais, onde o mandatário anterior oficializou o calote interno. Mas o PT pavimentou consciências e seu grande legado acabou com a mobilização dos sindicatos, a maioria, cabos eleitorais do próprio PT. E o brasileiro, sempre vítima de um fosso moral, se recusa a visualizar o tamanho do assalto feito a Petrobrás que nos parece ser a ponta da ogiva no que possa vir, enquanto os laureados que ainda defendem Dilma em sua presunção ditadora repetem, feito naus errantes: “Roubo sempre houve”, “A Petrobrás sempre foi roubada desde FHC”, “Amo as cotas”.
E nesse véu burro de argumentos dissipados num mantra errante, incapaz de tapar o rompo até agora orçado em bilhões em propinas, não podemos radicar o pensamento de boa parte de um povo que se vira com um salário mínimo ridículo e que, dentre este, ainda haja quem doe parte do salário para o PT continuar roubando, o que se confirma num assalto emocional de um partido que se alimenta feito verme daquilo contra o qual dizia lutar.
Entre Dilma e Sininho, vãs diferenças, uma está no poder querendo superar a democracia, pois para o petista a Democracia e a República são apenas conceitos burgueses; e a outra, bem, a outra é uma criminosa que quebra bancos, embora não os roube ainda. Dilma deve estar torcendo para que o Momo que sempre, com sua inflexão dionisíaca, fabrica os mares de tolerância acima da média dos brasileiros que balançam suas bundas sujas no Carnaval, gritam gol porque são incapazes de se levantarem de seu sono atávico, em vez de conter a gula dos sindicalistas nas estatais, os cartões corporativos, a frota de automóveis blindados, as benesses a ditaduras, o despudor financeiro dos parlamentares e certos magistrados, desse governo que alarga as carências sociais, sufocando a criatividade científica.
E nós, clandestinos, que em pleno Carnaval, escancarando a nossa luta contra essa República de Bananas e torcendo para que não seja tarde e que a revolução realmente aconteça e tire esse engodo socialista do poder, pois o PT sucumbiu ao capital, heróico isso, não? Acordemos dessa discursidade racional onde ações afirmativas, não apenas para minorias, possam realmente tornarem um amalgama social mais justo. Isso seria o início de uma prática maniqueísta aceita.