12 Homens e uma sentença
Coluna de Gabriella Tomasi sobre a sétima arte; uma análise mais aprofundada do cinema
Por Gabriella Tomasi
Doze Homens e Uma Sentença, na época em que estreou nas telas dos cinemas, não fez um grande sucesso de bilheteria e pela maneira como foi construída a narrativa e o tema que ela aborda realmente podemos notar que não são elementos que costumam possuir muito apelo comercial. Todavia, é incontestável que esta obra é simplesmente atemporal e comporta valores e conceitos extremamente atuais, muitas vezes baseadas no preconceito da própria ignorância humana.
Porque o que este longa dirigido por Sidney Lumet trata é uma premissa básica e simples, onde doze jurados devem decidir a vida de um homem, um menino de 18 anos, que é acusado por homicídio em primeiro grau por supostamente ter matado seu pai com uma faca encravada no peito. São doze jurados: doze personalidades, doze mentes, doze opiniões, doze experiências de vida diferentes, doze criações diferentes, doze empregos diferentes que naquele momento devem tomar uma decisão unânime, o que já é uma tarefa inicialmente árdua. Mas são baseadas nessas diferenças e opiniões que cada um aprenderá a ceder e a admitir seus próprios preconceitos e erros e, por meio disso, explorar o que “justiça” realmente significa.
Nos planos iniciais nos deparamos com um movimento de câmera executado apenas para nos familiarizar com o ambiente no qual estamos inserido: o mundo jurídico. Imagens do seu interior percorrem um plano sequencia onde se transmite um lugar limpo, quase sacro pela sua recriação clássica dos Tribunais, como normalmente o são nos Estados Unidos. Um prédio alto e quase majestoso, percebemos o sentimento que ela evoca em diferentes pessoas: algumas nervosas ou preocupadas com seus casos, outras incrivelmente felizes pelo sucesso de seus pleitos até chegarmos ao interior de uma das salas onde uma sessão está acontecendo; a sessão dos doze júris, os personagens principais da trama. Lá, o juiz que então a presidia dá uma lista de orientações a eles: todos ficarão confinados e não poderão sair da sala de onde deliberarão até que uma decisão completamente unânime seja feita. O profissional togado os adverte de que independentemente do resultado, todos deverão observar e se atentar para a responsabilidade que possuem para com o destino que eles darão à vida de outrem, já que eventual condenação seria aplicada a pena de morte em cadeira elétrica. Na sequencia, um travelling realizado com câmera que vai se deslocando da esquerda para direita encara todos os júris ali presentes, de modo a nos apresentar aos personagens, pois posteriormente iremos conhecê-los de perto. E se analisarmos bem, podemos perceber que Henry Fonda, o protagonista e herói da trama é o único vestido em um terno branco, sobressaindo sua figura em relação aos demais.
Mas quando eu digo “conhecer de perto” os jurados, curiosamente, nunca sabemos seus nomes, suas idades. No mínimo suas profissões. Todos são referidos por pronomes e possuem um tratamento informal normal com o uso do “você” ou no máximo referidos pelo número a que foram designados pela Corte: júri número um, dois, três e assim por diante. Essa abordagem se prestou para que não fixemos em nomes ou uma identidade superficial, mas para conhecer a intimidade de cada um, a personalidade, suas opiniões, valores e, principalmente o centro de tudo: seus preconceitos. Assim sendo, conforme trataremos adiante, podemos não saber o nome de tal júri, mas sabemos que ele já viveu em um cortiço, por exemplo, ou a motivação de resistência em admitir certos erros de outro júri nos minutos finais.
Outro elemento também engenhoso do diretor é a forma como Henry Fonda começa a se posicionar na mise-en-scène e como o seu protagonismo surge em tela por meio desse trabalho. Uma maneira que inclusive sou inclinada a defender que Ridley Scott empregou em Alien: O Oitavo Passageiro. Assim como neste filme de terror, Fonda se encontra nos planos iniciais como só “mais um” dos júris, nos quais ele não é o destaque principal mas, na realidade, é outro júri que assume a posição central para organizar os votos, os debates e define ainda quando todos fazem uma pausa ou não. É ele, e não Fonda que, por exemplo, pede e entrega documentos e provas para uma nova análise. A figura do protagonista, portanto, surge gradualmente e de forma tímida dando início ao calmamente levantar a sua mão, se opondo à condenação do acusado. E não porque ele acredita veemente que o réu seja inocente, mas porque ele possui dúvidas e deseja uma discussão com todos presentes.
Uma posição, não coincidentemente, que incomoda e também irrita os demais, já que inclusive um deles afirma que possui ingressos para o jogo de beisebol mais tarde e nenhum deles tinha a perspectiva de que a deliberação fosse demorar, acreditando na culpabilidade do acusado.
12 Homens e uma sentença
Contando com um resultado inicial de 11 votos contra e 1 a favor, Henry Fonda – o jurado numero oito – que antes não tinha a atenção da câmera começa a ganhar espaço pelo trabalho da mise-en-scène pelo diretor, sendo o único disposto a realmente discutir sobre o assunto para ter certeza da condenação ou não do caso, pois a banalidade de uma eventual pena de morte tratada pelos outros, é tratada com mais seriedade por ele. Não que os demais sejam cruéis ou maus por natureza, mas muito deles são tão acostumados com a tarefa de ser um júri que não pararam para refletir nos detalhes ou na gravidade e o peso de suas decisões. Da mesma maneira, um deles ressalta não se importar postergar a decisão, pois já “não teria que trabalhar” no dia, apenas para reforçar de que o trabalho de ser um “jurado” não é vista com tanta responsabilidade como deveria ser.
Então pouco a pouco passamos a conhecer mais sobre os detalhes do caso e o que leva o protagonista a querer discutir sobre. Nós, espectadores, nunca vemos em flashback o que aconteceu durante a sessão de julgamento, sendo que nossa opinião será determinada a partir dos relatos dos próprios personagens, como um décimo terceiro jurado. Fonda então afirma que é preciso levar em consideração a origem pobre do réu, a mãe morreu quando tinha nove anos de idade e já passou em orfanatos por um período durante o qual seu pai estava preso. Sempre maltratado pela sociedade e pelo próprio pai, o acusado é apresentado portanto como um ser humano aparentemente inofensivo, o suficiente para criarmos certa empatia em relação a ele.
No entanto, os demais refutam, pois de acordo com eles os fatos são bastante claros: um vizinho do andar de baixo ouve do apartamento alguém falar: “eu vou te matar” e em seguida vê o menino correr pelo corredor e depois encontrar o corpo do pai e; outra vizinha do prédio ao lado testemunha o assassinato acontecer. Ainda, mesmo o rapaz ter afirmado estar no cinema durante este tempo, ele não conseguia dizer qual o nome do filme ou dos atores elencados. Sua situação piora quando nenhuma testemunha havia sido apresentada para confirmar sua localização.
Enquanto este relato ocorre por um dos jurados, um ângulo plongée capta o personagem dialogando com Fonda ao fundo, com sua figura engrandecida pela posição de baixo pra cima do aparato, a fim de diminuir e desqualificar os argumentos do protagonista. Mas conforme a narrativa progride, notamos que a realidade pode ser muito mais complicada do que imaginamos. Porque o fato de o réu ser pobre e viver em um bairro humilde também é um fato visto por outros como algo que contribui para seus antecedentes criminais, como suas origens fossem determinantes para desenvolver o comportamento criminoso e não o contrário. Esse preconceito revela-se bastante comum e intrínseco da nossa sociedade, mas que é rapidamente desconstituído por outro júri que afirma ter crescido em um cortiço. Mesmo agora bem-sucedido, ele se identifica com essa situação do réu. Na sequencia, a arma também é desqualificada. Tida pela acusação uma faca única que não possui outra igual no mercado, um dos elementos determinantes para incriminar o sujeito e colocá-lo na cena do crime, Fonda demonstra comprometimento e atenção com o caso ao surpreendentemente mostrar outra faca idêntica a todos, comprada por ele no bairro e no mesmo mercado onde supostamente fora adquirido pelo réu.
A partir daí, os primeiros fatos desconstituídos causam caos e incerteza em alguns dos personagens, o que acaba concedendo Fonda um espaço mais importante e de destaque na organização dos personagens no espaço, ainda que por vezes a câmera o posicione no seu lado esquerdo ainda, ou seja, uma posição mais inferior.
O protagonista então começa a sofrer grande pressão dos demais que se tornam mais agressivos e intransigentes em relação à culpabilidade do menino, a ponto de ignorarem suas opiniões e imporem seu voto sem o mínimo interesse em avaliar atentamente a refutação do protagonista. Essa situação quase insustentável leva Fonda a exigir outra votação e afirma que se ele ainda for o único disposto a discutir a possível inocência do réu, ele mudaria seu voto e encerraria o caso, condenando-o. A votação é feita secretamente pela leitura dos papeis entregues ao júri organizador da deliberação e, ao final, contou-se 10 votos contra e 2 a favor, para o alívio de Fonda. Porém essa mudança em um dos júris provoca tumulto, no qual um deles acusa o outro de ter mudado o voto só porque possivelmente se sensibilizou com o fato de que ambos vieram de um cortiço. Tal percepção é rapidamente desmentida pelo júri numero 9, que revela ter mudado de opinião apenas por querer ouvir mais, já que Fonda tem se sustentado sozinho e enfrentado todos apenas para conseguir conversar sobre o assunto quando os demais simplesmente não dão o menor valor a isso. Esse é um dos sintomas maravilhosamente bem explorado aqui de uma sociedade que faz rápidos julgamentos e aponta dedos muito facilmente, e que constantemente ignora a opinião do outro.
Durante uma pausa na deliberação, passamos a conhecer um pouco mais dos demais presentes, e Fonda é posteriormente confrontado no banheiro por dois júris onde eles usam da intimidação para persuadi-lo a mudar seu voto; enquanto um tenta diminuir o protagonista, o outro afirma que não tem nenhuma dúvida e apesar de achar o réu culpado, não se importa postergar apenar por não ter que retornar para o trabalho. Neste instante, Fonda refuta com uma indagação moral: e se na verdade fosse ele, o júri, quem estava sob julgamento? Gostaria que seu julgamento fosse tratado com tanto descaso? O júri imediatamente responde: e se inocentamos ele e na verdade ele realmente matou seu pai?
Esse é um dilema moral muito interessante colocado, que apesar de não fornecer uma resposta concreta ao espectador, ainda assim planta uma dúvida na cabeça dele a fim de permitir a reflexão. Pois de fato esse trabalho, não somente do júri, mas do juiz também, revela-se um trabalho longe de ser classificado como uma ciência exata, o qual não comporta fórmulas para ficar inume aos erros e às condenações injustas. Qualquer resultado que se retirar dali pode ser o certo ou o errado, mas o importante é dar a devida atenção, por estarmos diante de uma decisão que muda a vida das pessoas completamente. É o motivo pelo qual Fonda se irrita quando, em meio à um discussão, outros júris jogam jogo da velha, entediados, como se estivesse perdendo o tempo ali. Devido à essa responsabilidade, percebemos o quão reprovável se torna a conduta desinteressada deles, por mais que havia sido antes repetido verbalmente inúmeras vezes o peso da decisão deles. “Isso não é um jogo”, diz Fonda. Ao tirar o papel dos júris onde eles jogavam, Fonda se torna mais “poderoso” e se impõe ainda mais perante os demais.
Em seguida, a câmera se concentra em Fonda e se aproxima de sua forma de raciocínio para desqualificar o depoimento das duas únicas testemunhas, tendo em vista que no momento do assassinato um trem passava pelo prédio e devido ao intenso barulho a que fica submetido a acústica do edifício, seria impossível ouvir o acontecido da forma detalhada como descreveram. Outro fator que poderia desqualificar um dos testemunhos foi observado pelo júri número 9 ao analisar o código ético e formal de se apresentar perante o tribunal, onde ele aponta uma possível confissão falsa apenas para que sua pessoa seja reconhecida em um lugar de importância, ainda que significasse prejudicar outrem.
Tal hipotética não convence certos júris, o que dá inicio a mais uma calorosa discussão, com sucessivas ironias sendo abordadas: a banalidade de qualquer pessoa falar “eu vou te matar” durante uma briga, assim como a brilhante inserção de uma fala de um dos júris que não acredita na inteligência do acusado: “He don’t even speak good english” (Em tradução literal: “ele nem fala bom inglês”) diz ele, apenas para a frase ser corrigida por outro, em razão der sido pronunciada incorretamente. Logo na sequencia, mais um muda seu voto para inocentar o réu (com o total de 9 x 3 em seu desfavor).
12 Homens e uma sentença
Outro ponto que é logo discutido é a cultura do mundo jurídico norte-americano. Normalmente, uma vitória em tribunal contribui muito para a carreira dos causídicos, o que é um dos fatores inclusive que determina o grau de interesse e investimento que se coloca em um cliente e seu caso. No presente caso, o advogado do réu, devido à sua impossibilidade financeira, fora designado pelo próprio tribunal, e o que é refutado por Fonda já que o trabalho do profissional às vezes é afetado por essa pequena possibilidade que se deduz para ganhar a causa, especialmente por aquele em início de sua carreira; um elemento, por conseguinte que não quer dizer que o réu seja menos ou mais culpado por isso. Outra votação acontece posteriormente e termina em 8 x 4 a favor de sua condenação.
O júri número 3, um empresário, que mais defende a acusação do menino, torna-se interessante de ver seu comportamento durante o logo como ele afirma repetidamente que os “fatos” são irrefutáveis, porém, sem querer refletir e pensar seriamente sobre o que ouviu e fazer um julgamento de opinião a partir disso. Inclusive, brinca-se com essa ignorância no momento em que ele pega a faca e afirma novamente que ela foi usada para assassinar um homem e portanto ele deve ser condenado, quando é prontamente interrompido por outro dizendo que aquela faca em sua mão na verdade era a réplica comprada por Fonda e não a verdadeira. É um modo de o roteiro querer expor para o espectador que a informação superficial que se dá às pessoas não é inteiramente confiável, repetindo sempre a mesma argumentação defendida inicialmente apenas porque fora dita por outros sem realmente refletir sobre essas informações, o que não pode ser mais aplicável ao mundo tecnológico em que vivemos. Outro sintoma desse problema é a mudança constante de opinião transparecida no júri número 12, cuja indecisão acaba tomando partido daquele mais influenciável. E o mais fascinante é que tudo isso fora trabalhado lá na década de 50 e continua sendo aplicável à nossa realidade.
Posteriormente à votação, a conversa se dirige para o estudo do depoimento de outra testemunha, o idoso que viu o menino correr para fora do apartamento após o horário em que o pai fora assassinado. A planta do apartamento é analisada e os passos são recriados dentro da sala. Já com a câmera posicionada sempre a favor de Fonda, de forma centralizada e fechada em seu rosto, o protagonista demonstra ora autoridade e liderança. Depois de desqualificar completamente a veracidade do depoimento da testemunha apenas pela simples reconstituição de seus passos na fatídica noite, uma provocação de Fonda por outro júri reaviva o fato de que as pessoas nem sempre realmente dizem o que pensam de forma literal, criando com um isso uma duvida razoável a respeito do caso. O júri número 3 diz: “vou te matar” seguida da pronta resposta pelo protagonista: “mas você não quer realmente me matar, certo?”. No momento em que a briga é acalmada, uma das cenas mais icônicas é executada por um excelente trabalho de profundidade de campo. O júri irritado se afasta dos demais, enquanto todos ao fundo apenas o observam de longe em forma repreensiva.
O calor do dia já nesse momento é intensificado, não somente por todos estarem sem seus paletós, pelos rostos e roupas suados, mas a situação e as discussões criam uma claustrofobia naquela sala também parecem ter esse efeito e contribuir para essa sensação do confinamento agonizante.
Outra votação é realizada e agora está empatado em 6 x 6.
Todos já exaustos pelo calor e pelo trabalho que se revela mais difícil do que se esperava, por sinal, o debate é retomado por Fonda para avaliar o álibi do menino que não lembra em seu depoimento qual filme tinha visto ou ao menos os atores deste. Curioso notar que o protagonista agora que conduz a deliberação e os argumentos de uma forma tão natural que sua posição central já está totalmente consolidada em tela. E neste instante, um diálogo entre ele e outro júri – de número 4 – o qual, arrogantemente, não acreditava que o réu poderia se esquecer facilmente do que havia feito no dia, é uma hipótese que dinamicamente é desconstituída por Fonda que comprova que nossa memória não é tão confiável, apenas por tentar fazer o júri número 4 lembrar o que ele havia feito, em detalhes, alguns dias anteriores aquele.
Na sequencia, o filme traz novamente o conhecimento de comunidade, violência das ruas, e do ambiente pobre do cortiço que um dos júris já mencionados possui como uma contribuição definitiva para a deliberação, apenas pela forma como, em testes, se avaliava se era possível o menino causar o tipo de ferimento causado no pai, o que prova não ser possível. Momento este que também visa acabar com o preconceito destas experiências anteriores como muitos vêem, e engrandece seu papel na elucidação dos fatos.
Além disso, a moralidade desse julgamento novamente retorna à discussão, pelo fato de um dos júris, já cansado, muda seu voto a favor do acusado apenas para encerrar de forma mais rápida a sessão, o que é rapidamente criticado pelos demais, pela importância e a gravidade de sua posição, que não é egoisticamente levado em consideração, e também pelo fato de que a vida de outra pessoa está em suas mãos. E o mais genial, é quando outro júri – o de número 11 – provoca-o para argumentar o porquê acredita na inocência ou na culpa do réu e ao ver que a sua ignorância não permite defender nem de um lado ou outro, ele sai de plano em forma de indignação. Outras situações também são demonstradas o quão egocêntrico e quão os interesses pessoais prevalecem sobre os valores sociais: pequenos comentários entre os homens neste filme possuem um valor intrínseco e dizem algo sobre a pessoa, não somente pela piada religiosa que segue a cena, mas também pela rápida resposta a uma pergunta na sequencia feita por um dos júris: “você não sua nunca?”, momento em que sua negativa demonstra egoísmo, poder e indiferença em relação aos demais.
Subsequentemente, outra votação é proposta por Fonda e o resultado é contado pela câmera fixada nas mãos levantadas isoladas no plano, como uma demonstração maravilhosa da voz de cada um. Em uma surpreendente reviravolta, contou-se 9 x 3 em favor da inocência do réu.
Mas exaustão e a indiferença pela arrogância do homem continuam mais intensas e é então representada de forma incrível em seguida quando um júri – de número 10 – não aceita que a maioria possa defender o acusado, proferindo como sustentação de seus argumentos, comentários racistas e preconceituosos. Em um trabalho de mise-en-scène maravilhoso tal rechaça sobre essas características reprováveis e intoleráveis é identificada pelo isolamento dos nove em relação aos três oponentes que permanecem na mesa. Silenciosos, cada um se posiciona em um canto da sala em forma de protesto, sem sequer dizer uma palavra, até que isso cale o próprio júri enfurecido e o faça enxergar seu próprio erro.
Fonda em um monólogo tocante em seguida reafirma de fato que nunca se saberá se o acusado é culpado ou não, ele mesmo não tem a certeza, mas pelo dever ético, e os valores institucionais deve se considerar a existência de uma dúvida razoável dos fatos que deve ser decidido em favor do réu e não contra ele por qualquer tipo de valores pessoais. Ele, por conseguinte, propõe então que os três apresentem seus argumentos para ainda defender a condenação do menino. Um deles inicia o último debate, o último elemento a ser discutido acerca do que falou uma das testemunhas que supostamente vira o crime ser cometido pelo garoto. Vale notar que quem desmente novamente tal argumento é a sabedoria, observação e ponderação incorporados na figura do mais idoso júri – de número 9 – que o traz novamente de forma bastante imparcial e racional.
Finalmente, os votos já contam 11 x 1 em favor do réu, e o único que rejeita – o júri número 3 – se dá conta que não consegue trazer novos argumentos em desfavor do garoto, já que vemos no desfecho, que suas opiniões e experiências pessoais o estavam cegando o tempo todo. Assim, doze jurados inocentam o acusado e, posteriormente, cada um segue o rumo de sua vida separadamente.
Como se pode perceber, o longa-metragem parece simples por se passar em apenas em um ambiente, mas possui muito conteúdo não somente pelos seus diálogos afiados que fazem uma crítica à sociedade e trabalha profundamente o conceito de justiça, mas também pelo trabalho de mise-en-scène quase teatral, o qual faz um jogo com a organização dos personagens em cena, e ainda utiliza os movimentos de câmera para trazer a claustrofobia e a sensação mais íntima que temos ao nos aproximar de cada um dos personagens.
É uma obra que apesar de se passar há mais de 60 anos atrás consegue ser tão atual ao abordar os preconceitos que carrega os conceitos de justiça pela sociedade e o que isso pode significar também intrinsecamente para cada indivíduo.