Literatura

Eleições 2014: Carta Envergonhada ao Povo Brasileiro

Brasil

“O Brasil não se resume somente em partidos políticos, o Brasil é feito de gente! O povo não quer mais esse projeto de poder a qualquer custo do PT!”

Por Elenilson Nascimento e Anna Carvalho*

Durante os últimos 12 anos, nunca esse país foi tão desmoralizado, vilipendiado e surrupiado por essa classe política cada vez mais medíocre. E antes que as vaquinhas amestradas venham aqui gritar suas insanidades, deixamos bem claro: somos e continuaremos sendo oposição ao PT e/ou a qualquer outro partido político que tenha como princípio o enriquecimento ilícito. Mas entre fazer oposição ao governo do PT e fazer oposição ao PSDB e/ou qualquer outro do zoológico, preferimos fazer oposição ao PT. Motivo? Porque o PSDB, por exemplo, é, indiscutivelmente, mais incompetente do que o PT (sim, isso é possível).

O PT continua sendo uma mentira, a Dilma continua sendo uma vendida que comanda um governo homofóbico, fundamentalista e alinhado ao agronegócio. Mas o PSDB, além de mais incompetente, é menos acusado e menos punido do que o PT, logo, tem ligações escusas mais consistentes com os poderosos que mandam no país desde a época da Coroa de Dom João VI.

Depois dos resultados vergonhosos nas eleições 2014 (com denúncias via redes sociais de gente que não votou, mas que descobriu que já tinha votado) que provaram não passam de cabides de empregos para famílias descendentes das Capitanias Hereditárias e aliados políticos, o Brasil aponta para o novo-velho de novo. Um país sem cérebros atuantes em que o velho se mantém por longos anos no poder, onde o outrora partido trabalhista, hoje partido dos conchavos e ladainhas, em conluio com as suas velhas raposas coronelistas, com esse nepotismo ideológico, paternalista, filial de um Estado laico que se mantém com lampejos de fundamentalismo nazista, acabou por reeditar essa ditadura fascista que, num primeiro plano (com Lula), foi a nossa Tomada da Bastilha.

Lembramos quando o Lula fora eleito, o Lago Paranoá virou uma espécie de reduto popular emocionante – o Castelo de Castelo de Greyskull perderia em pompas e firulas. Mas como em todas as utopias acabam sendo defenestradas por uma realidade, Lula acabou por se vender ao poder, fazendo tudo o que antes condenava. O extraordinário político virou um ordinário que fabricou a Dilma. Na época, ficamos muito animados com aquele Dom Quixote com quatro dedos naquela mão pouco mercenária. Diz ter perdido o seu dedo no labor metalúrgico, mas o novo veio pelas mãos das cicatrizes dos trabalhadores nos quatro cantos desse país. Hoje, ele, as suas mãos, o seu dedo vazio, tudo representa essa consciência pequeno burguesa que tanto criticou. Vândalo das esperanças dos humildes, como as nossas, portanto, o novo de Collor, o novo de Lula, o novo de Dilma, são os velhos asquerosos de sempre. Mas, vamos votar no Aécio Neves, por total falta de quem votar nessa política do medo. E perante estes fatos, concluímos que o PT é um lixo, mas o PSDB é um lixo extraordinário, daqueles tóxicos que contaminam o lençol freático. E é indiscutivelmente mais fácil prender corruptos petistas do que corruptos tucanos. Já que seremos governados por bandidos de qualquer forma, que pelo menos sejam bandidos com as costas menos quentes e mais fáceis de controlar.

Eleições 2014

É bizarro ver gente falando que vai votar na Dilma – no segundo turno – para manter as conquistas do PT. Meu Deus do céu, Dilma por si é uma traidora dentro do próprio PT. Ela conseguiu não apenas quebrar o Brasil, mas também destruir todas as conquistas dos governos anteriores! A incompetência administrativa é visível não apenas na economia estagnada, mas em todos os outros setores. Quem defende a Dilma, de fato é um completo alienado, pessoas que se baseiam os seus votos nos noticiários do JN que, vale lembrar, não é referência para nada. Não é possível que não leiam jornais com mais credibilidades, não assistam outros noticiários, não vasculhem o Facebook, seja lá qual fonte for, pois praticamente todos mostram o caos em que se encontra nosso país! E o mais bizarro também é a forma com que se dirigem a Aécio, como se ele fosse o próprio FHC saído de um grêmio estudantil, fazendo comparações com um governo de quase vinte anos atrás.

Chega a ser engraçado! Quem tirou milhões de pessoas da miséria foi o plano real, quando derrubou para níveis mínimos a inflação de 700%, e não o falso discurso do Bolsa Miséria, que aliás, também foi criado no governo FHC. Aécio tem que se orgulhar da comparação, porém ela não se encaixa, uma vez que ele representa uma nova forma de política, como ele mesmo disse, sua candidatura não representa apenas partido ou a coligação, representa o DESEJO DE MUDANÇA do povo brasileiro! Não aceite as comparações que andam fazendo do Aécio, porque ele NUNCA FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ainda. É preciso entender que a vida real é bem diferente da propaganda linda do governo, e essas eleições demonstraram isso, onde mesmo com o forte aparelhamento das empresas estatais e duros golpes do PT contra a democracia, a oposição ao governo Dilma foi maioria absoluta, dividida entre Aécio e Marina Silva.

Não dá para perpetuar no poder um projeto político que se provou fracassado com o tempo. Um projeto político que beneficia um partido em detrimento do povo! Não dá para aceitar mais a Petrobrás sendo utilizada como fonte inesgotável de dinheiro para sustentar um partido! O Brasil não se resume somente em partidos políticos, o Brasil é feito de gente! O povo não quer mais esse projeto de poder a qualquer custo do PT! O povo quer MUDANÇAS urgentes! O povo quer deixar de ser fantoche enganado com falsas promessas! Está na hora de fazer valer os protestos do ano passado (*onde o gigante que nunca existiu dormiu novamente) e olhar para o futuro com uma candidatura nova, um novo modelo de administração!

MARINA, UM RISCO – Mesmo de pessoas mais sensatas, ouvi argumentos toscos que tomavam a Marina como um risco de fundamentalismo. Nós mesmos também tivemos esse pensamento. Marina poderia ter tido mais clareza e firmeza do que todos os outros postulantes, falado sobre o sentido do Estado laico, mas com uma carreira política em que se veem as discussões que se passam na mente da militante, da vereadora, da ministra, da senadora, da excluída pelo PT, da candidata incrédula – sem que se perdesse a certeza da coerência íntima da pessoa.

Faz sentido querer-se reafirmar a gratidão pelos conseguimentos do PT no poder, como também é certo ter esperanças na sensatez do candidato do PSDB, com o economista indicado para a pasta da Fazenda apresentando, em entrevistas, planos sensatos de superação do que parece ser o beco-sem-saída em que entrou a política econômica petista. Mas nada disso dá o direito a ninguém de desconsiderar a seriedade com que Marina, por exemplo, se comportou durante toda a campanha – e desde sempre. Apesar de termos sérias desconfianças com relação ao seu lado evangélico – misturar política e religião é um erro – Marina não é um Collor de Melo de saia. Nem um novo Jânio. Marina é o esboço de um novo Lula. É o organismo Brasil movendo-se internamente para metabolizar novos conteúdos. E esses novos conteúdos têm relação com os velhos mandamentos – às vezes sentidos como eternos problemas brasileiros: a desigualdade social, a sociedade hierárquica, o atraso, a violência, a corrupção, o fundamentalismo que cresce assustadoramente, a educação de mentira.

Eleições 2014

Entendemos completamente a reação do Jean Willys ao recuo, no programa de Marina, quanto a temas cruciais dos grupos LGBTs. Devemos, mais do que nunca, ficar atentos quanto aos grupos das bancadas evangélicas e preconceituosas que infestam o Congresso (graças exclusivamente a ignorância de eleitores). Sempre nos sentimos mais identificado com os gays, prostitutas, drogados, perdidos e todos aqueles que vivem às margens desse sistema capitalista e excludente, muito mais do que com os caretas engomados, mas nem de longe isso nos abalou em nossas decisões de não votar na Marina. Jamais votaríamos numa projeto de fundamentalista ou em qualquer semelhante dessa corja. Ficamos envergonhados com o povo brasileiro quando esse é capaz de eleger Bolsonaros, INFelicianos e afins. Marina poderia ter sido a maior promessa de mudanças desse país! Mas graças a ignorância dos nossos políticos – cada vez mais medíocres – coisas vergonhosas como recentemente um estupro corretivo de uma jovem estudante de 25 anos, lésbica, em plena via pública em SP, por dois homens que a teriam a abordado na região da Consolação e a forçado a ter relações sexuais com ambos pelo simples fato de ser homossexual, e/ou como o peladaço, na Universidade de Brasília, em apoio a um jovem que fazia uma performance artística em favor da liberdade de expressão e foi impedido por seguranças de ficar sem roupas na parte externa do local, vão continuar acontecendo no Brasil.

Não é absoluto, não é absurdo, é inter-relacionado com outro princípio: o direito de escolha. Usamos isso agora, nessa semana pós-eleição, porque nele essa inter-relação de direitos e deveres num país tido democrático é mais evidente. Então, do mesmo modo quando um pastor evangélico no seu púlpito ou o que é pior, na TV aberta, diz que pessoas gays são uma aberração ele está excedendo sua liberdade de expressão (errônea, preconceituosa, burra e repugnante), que como o direito de ir e vir não é absoluto e encontra limite em outro princípio constitucional que é o da dignidade humana. Mas como respeito ao ser humano é uma coisa que anda fora de moda, então, achamos que vamos jogar novamente palavras ao vento… Andamos meio cansados de muita gente dando palpite, muita gente dando opinião, pois essa coisa às vezes nos deixa tonto!

INUTILIDADE DE INFORMAÇÕES – Como se não bastasse, os meios de comunicação digital incentivaram a aparição de um gigantesco coral de bilhões de vozes anônimas e covardes. O Twitter é o maior transmissor de opiniões e notícias irrelevantes, falsas e/ou fofoqueiras jamais cogitado. Mas o Facebook (apesar de gostarmos muito) forneceu identidade e deu eco a muita gente que, felizmente, prefere ficar nos games da rede social. Antigamente evitava-se dar voz ao imbecil. Hoje, imbecis ou não, todos possuem um meio de expressão e de autopromoção. O imbecil é o herói emergente da autoralidade… O resultado disso tudo foi as eleições de candidatos sem nenhuma proposta efetiva nessas eleições medíocres de 2014.

Concordamos muito com os aecistas de plantão no que se diz respeito ao fato de que a alternância de poder é importante na democracia! E por isso gostaríamos de entender por que em São Paulo o PSDB está há 20 anos sem sair do poder. Alternância nesse caso é de 24 em 24 anos? Os debates nas TVs processam candidatos numa eleição em que os votos serão disputados diante desse novo-velho que deve emergir, claro que com a morte de Eduardo Campos num cenário político para um país em seu estoicismo generalizado, Marina ficou no meio do caminho e continua sendo uma líder seringueira, ex-pobre, parceira de Chico Mendes, mulher a quem o tom soa como de uma democracia forçada, mais humano, ao contrário da Dilma que vem, paradoxalmente, de um alinhamento com elites, populismo assistencialista, corrupção generalizada, mãos de ferro e com uma espada ninja iminente apontada para a inspeção seletiva da imprensa que o partido dela insiste em querer com gana.

Enfim… Esse dilema entre quem votar, PT ou PSDB, a nós pelo menos não fica muito claro para decidir se o quesito a ser considerado for corrupção, pois ambos são da mesma estirpe nesse sentido. Em termos de destino, vamos atribuir essa morte de liberdade aos acidentes de percursos, as redes de conchavos que a Marina quis montar – vetada autoritariamente por Dilma e seus esforços de ideologização do Estado. Mesmo assim, não aconteceu, Marina, agora, se alia a Aécio e quis o destino que o neto de Tancredo enfrentasse, em franco front, a pupila do Lula. Marina, então, surge agora como um troco, a berlinda, o silêncio que precede o esporro, a mão, a pedra e a vidraça.

Eleições no Brasil – Charge Latuff

A diferença é que uns são julgados e o outros ainda não! O que é sintomático. É com muito mais perguntas do que certezas que seguimos nossos estudos dessa vidinha suburbana de burros metidos a importantes. Votos de eleitores só servem para mostrar o poder do Estado. Aécio chega, com as bênçãos do avô, mas com uma legenda que ainda se afirma como um desdobramento de elite, sem muito tráfego ou alinhamento com o popular. E o fato é que o Brasil de hoje não é o Brasil de julho do ano passado, que saiu de uma espécie de limbo imediato e se posicionou muito incrédulo diante do que seja velho e paternal.

Mas, de fato, surge ainda a esperança de um país com uma ação temerária diante de um poder, de um Estado paralisado, todo dominado diante de uma ideologia de mãos de ferro, de um desserviço ao espaço democrático que se faz, em tese, pela divergência instituída. Contudo, não temos mais isso no Brasil, pois o povo brasileiro é burro e inoperante, os spots da divergência, tudo único, perde-se a ribalta do país, onde alguns candidatos não apresentam nada como projeto, se atacam, se defendem, embora nas urnas possam se apresentar como uma espécie de “troco”, de protesto, de uma cólera santa e legítima.

Drummond, certa vez, disse que o convívio das letras não cria amigos, mas sim cúmplices. Na política, essa entidade chamada povo, acorda (de vez em quando) e exige um pouco mais do que caricaturas de assistencialismo, pedindo projetos a longo prazo que, ao final, das participações, louvamos a aparição surpresa de alguém com um discurso mais coerente. Confessamos aqui que tínhamos certos receios pelo fundamentalismo religioso da Marina, mas perguntada sobre o criacionismo deu um show colocando em gavetas distintas poder e evangelização.

Mas, agora, por que Aécio? Que essa pergunta ingênua se responda ou se corresponda pelo novo que o velho poder clássico de uma esquerda que frauda ideologias como quem paga por ela, nos responda ou perca sozinha tudo o que ela ,megalomanamente, deixou de conquistar. PT, tudo isso é culpa sua. Hoje é quarta-feira, 08/10, mas considerando a margem de erro do IBOPE, pode ser o começo do Amargedom ou Dia de Natal. Depende só de você!

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina

*Anna Carvalho é professora e escritora.

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