Literatura

Elisa Lucinda apresenta A Paixão Segundo Adélia Prado na reabertura do Teatro Laura Alvim

A Paixão Segundo Adélia Prado

Sem tratar do tema na obviedade e sem pretender discursos panfletários, nesta peça, por meio de seus inúmeros elementos cotidiano e femininos

Por Úrsula Neves

Comemorando 30 anos de carreira, a atriz e poetisa Elisa Lucinda se joga num profundo mergulho poético em A Paixão Segundo Adélia Prado e traduz a poeta mineira num roteiro criado para revelar sua noção pagã e sacra do pecado e desnudá-la por obra de sua própria palavra.

O momento também celebra a reabertura do Teatro Laura Alvim, no Centro do Rio de Janeiro, um espaço da Secretaria de Estado de Cultura/FUNARJ. As sessões acontecem às quintas, sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h, até o dia 12 de fevereiro.

Na montagem, sob a direção de Geovana Pires, é revelada uma Adélia que muitas vezes não se mostra logo à primeira olhada, mas está essencialmente presente na sua poesia de carne e de sangue. Por conta do sacro véu que parece cobrir a marca de sua obra, não se vê seu particular e escancarado erotismo, seu desejo e muito menos sua disponibilidade amorosa, seu romance, seu olhar por debaixo da própria saia e das da sua geração, regida pela imagem da Virgem e o extremo desejo reprimido.

Sem tratar do tema na obviedade e sem pretender discursos panfletários, nesta peça, por meio de seus inúmeros elementos cotidiano e femininos, é mostrada a sexualidade desta mulher que traz dentro dela a religiosa pecadora a quem Elisa Lucinda dá vida, com a música de Carlos Malta, a luz de Djalma Amaral, figurino de Madu Penido, cenário de Bia Junqueira e expressão corporal de Duda Maia.

 Sobre Adélia Prado
Considerada a maior poeta viva da literatura moderna brasileira, Adélia Prado, com elegância e sofisticada linguagem, traça um tear misterioso sobre o simples cotidiano e nos devolve o conteúdo dos dias enriquecidos pelo seu olhar. E assim nos traduz. Pelos seus versos vamos à missa e dela voltamos com mesma fé e a mesma safadeza de tantos seres humanos. Sua noção de pecado é inescapável. Atua em nossa contradição, nos põe diante de nós e muitas vezes, produz alegrias no que seria punição. No entanto sua loucura lúcida, traz a verdade humana, seus segredos, o recato de sua época, a moralidade de uma cidade do interior que tanto fotografa um interior de Minas Gerais, com suas fofocas e vizinhos, como no nosso interior, nossa alma cheia de medos e coragens em volta da própria sorte.

Sobre Elisa Lucinda
Elisa Lucinda é uma cantora com um timbre muito peculiar, grave, e devido à sua intimidade com as palavras tornou-se uma excelente intérprete. Na peça A Paixão Segundo Adélia Prado é feita uma abordagem da música religiosa e regional de Minas Gerais tão presentes na obra de Adélia Prado, tanto pelas citações nos poemas quanto pela musicalidade de sua poética.

A direção musical e arranjo estão sob o comando de Carlos Malta, o músico dos sopros conhecido como O Escultor do Vento. Em cena o músico multi-instrumentista André Ramos toca sax, flauta transversa, piano, pífano e instrumentos de percussão. A música ajuda a contar a história e alguns poemas são musicados por Carlos Malta.

No espetáculo, o delicado mosaico, cenicamente ancorado na produção de imagem que uma palavra provoca, interage também com as imagens audiovisuais que compõem parte do cenário real e subjetivo onde desfilam o desejo e a fé dessa senhora híbrida. Da mesma maneira em que no palco se expõe em suas profundezas a mulher desejante dentro do fundamento sacro, do mesmo modo, a plateia se vê retratada nos seus bastidores, naquilo que não se conta.

SERVIÇO
A Paixão Segundo Adélia Prado
Temporada: de 17 de novembro de 2016 a 12 de fevereiro de 2017 Teatro Laura Alvim  (190 lugares) Av. Vieira Souto, nº 176, Ipanema, Rio de Janeiro Informações: (21) 2332-2015 Dias e horários: Quinta, sexta e sábado – 21h / Domingo – 20h Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

Vendas: www.ingressorapido.com.br

Classificação etária: 12 anos

Duração: 1h20m

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