Mylena Araújo
“É uma perda de tempo fingir ser quem não é para ganhar o apresso das pessoas.” (M.A.)
Por Elenilson Nascimento
Visto a importância da literatura como formadora do homem, ainda pela visão de Antônio Candido, ela tem também a função social, que diz respeito à identificação do leitor e de seu universo vivencial representados na obra literária. Literatura como transfiguração do real, é nela que estão retratados os sentimentos humanos e as diversas formas de relação do homem com aquilo o que sente.
Dessa forma, a entrevista de hoje é com a jovem escritora de ficção/sobrenatural e fantasia Mylena Araújo. Natural de Fortaleza, nascida no ano de 1991, diz que seu gosto pela leitura começou com os livros da saga Harry Potter, desde então passou a escrever fanfics inspiradas no famoso bruxinho. Publicou seu primeiro livro “O Mundo de Marguerite Sülever”, em 2013, posteriormente mais dois volumes da quadrilogia “Elyse Dark”. Recentemente lançou a sua primeira trilogia fantástica, estreando na 23º Bienal Internacional de São Paulo, com o “Vol. 1 – A Herdeira de Ótavos”, da trilogia “Valera”, pela Editora Tribo das Letras, que traz aventura e ação.
E, como diz Peter Pan: “Pensamentos felizes te fazem voar”, assim a nossa literatura está às verdades de uma mesma condição humana, o que possibilita ao homem, ao ver seus costumes retratados, uma reavaliação da postura que assume. Ler é criar consciência do que somos, é examinar o mundo em que vivemos para transformá-lo no mundo em que gostaríamos de viver…
Elenilson – Como surgiu o desejo de lançar um livro? E como ocorreu a escolha do tema?
Mylena Araújo – Vamos lá… Escrevo desde os meus 15 anos e sempre desejei lançar algo de minha própria autoria. Logo, surgiu a ideia de escrever “O Mundo de Marguerite Sülever”, meu primeiro romance. A inspiração para o título se deu a partir de uma jovenzinha que sempre pedia dinheiro em frente ao meu antigo colégio. Ela vestia as mesmas roupas, todos os dias, mas nunca largava seu exemplar de “O Jardim Secreto”. Aquilo me comoveu e decidi investigar a respeito. Dessa forma, surgiu a querida Marguerite no ano de 2010/2012. Depois não parei mais e, em 2014, lancei na Bienal do Livro de São Paulo, meu novo projeto “Trilogia Valera”, uma história de fantasia e aventura.
Elenilson – Com sente-se com a receptividade das pessoas que leram a obra?
Mylena Araújo – É uma sensação ótima, saber que você conseguiu atrair a curiosidade do público. Não tem comparação. É muito orgulho.
Elenilson – Fale-nos um pouco sobre a sua obra “A Herdeira de Ótavos”.
Mylena Araújo – Então… “A Herdeira de Ótavos” é o primeiro livro da trilogia “Valera”. Conta a história de uma jovem que não conhece seu verdadeiro passado, e após a perda dos pais, ela se vê em meio a atribulações. Do nada, a menina descobre que é a herdeira de uma profecia e futura rainha de um reino lendário, mágico e poderoso. O Livro 1 traz muita ação, aventura e muitos, muitos vilões perigosos.
Elenilson – Qual a maior dificuldade para um autor sem a máquina de uma grande editora hoje em dia?
Mylena Araújo
Mylena Araújo – Para um autor se virar sem uma editora existem inúmeros obstáculos que ele precisa ultrapassar para chegar ao nível final do jogo. Afinal, mesmo que a literatura nacional esteja crescendo muito, e temos as bienais como incentivo, mesmo assim, ainda existe a falta de valorização. É uma etapa difícil, mas não impossível.
Elenilson – O Pisa é um indicador da UNESCO que tem como objetivo comparar a educação em diversos países do mundo. Na última avaliação, em 2006, o Brasil teve uma classificação ruim quanto à leitura. Ficou em 46º lugar, num ranking de 56 países. Como você acha que podemos reverter esse quadro e incentivar o jovem a ler mais?
Mylena Araújo – Temos que ajudar os jovens a descobrirem temas pelos quais eles demonstram interesse. Pois, jovens que apreciam a leitura tem mais facilidades para aprender. É preciso uma interação entre escola e família, principalmente.
Elenilson – Como a tecnologia, as redes sociais, em especial o Facebook, podem contribuir para estimular o hábito de leitura? Você acha que isso tudo é também uma forma de alienação?
Mylena Araújo – As redes sociais vêm ganhando a atenção de muitos para serem usadas como uma plataforma de leitura, é um elemento facilitador e amplificador. Hoje em dia, as pessoas procuram acessibilidade e tempo. Digamos que “alienação” resume-se aos tempos atuais, afinal, é raro alguém não entrar no facebook, twittar… Enfim, a tecnologia faz parte do nosso cotidiano. É uma conspiração, no bom sentido.
Elenilson – Você pode compartilhar com a gente alguma lembrança da época da juventude com um livro importante/impactante para você?
Mylena Araújo – Nossa, tenho tantos! Mais vamos ao que despertou em mim o interesse pela literatura. “O Anel dos Nibelungos”, uma adaptação teatral. Um livro de aventura, mitologia e fantasia, repleto de surpresas e que fascinou minha atenção do início ao fim. E se você encontrar o exemplar dele, por favor, me dê de presente. (risos). Esse sem dúvida foi um dia belo e renovador para a minha pessoa.
Elenilson – Você é, atualmente, ao lado de Thalita Rebouças, Paula Pimenta, Tammy Luciano e Raphael Montes, a “queridinha” dos jovens. A que atribui o sucesso que faz com a garotada?
Mylena Araújo – Uauuuu! Fico feliz que meu nome esteja ao lado desses feras, mas ainda estou no caminho e me esforço ao máximo. Durante esses quatro anos de publicações, jamais recebi qualquer mensagem negativa por parte dos meus leitores. Para mim é um grande alívio. Significa que estou indo bem. Eu escrevo fantasia, horror, romance, de tudo um pouco, pesquiso as tendências atuais do mundo literário, o que a garotada gosta. É claro que crio meus próprios mundos, minha própria história, sem repetir algo existente. Não gosto de clichês.
Elenilson – As editoras e o público ainda têm preconceito com o livro nacional. Para eles, é mais seguro traduzirem um best-seller de fora do que apostar em alguém que ninguém nunca ouviu falar. Como você encara isso?
Mylena Araújo – Isso é uma realidade, sem dúvida. Encaro como um obstáculo… e esse obstáculo será ultrapassado por todos nós. Pois a união faz a força. Imagina se todos os escritores nacionais se unissem em prol desse tema. #seriafantástico
Elenilson – Como foi o processo para de ser publicada?
Mylena Araújo – Como iniciei a minha carreira aos 15 anos, foi bem difícil. Recebi vários nãos. É frustrante. Felizmente, projetei esse empecilho como uma nova etapa da minha vida que seria em breve, ganha. Afinal, com o tempo adquiri mais maturidade na escrita e quando consegui uma editora que valorizasse meu trabalho… eu estava pronta. Todos os dias eu procuro melhorar ainda mais.
Elenilson – E para segurar a ansiedade?
Mylena Araújo – Só Deus! Sou virginiana, então já deu para imaginar o quanto sou ansiosa e impaciente.
Elenilson – Em algum momento de sua vida, alguém te disse que é preciso se impor sobre os outros para marcar seu território? Reforçar sua opinião? Se fazer ser ouvida, escutada, notada para ter sucesso?
Mylena Araújo v
Mylena Araújo – Muitas vezes, mas eu não dou ouvidos. Eu não procuro ser melhor do que ninguém, não quero me impor sobre os outros. Eu quero simplesmente o que todo escritor deseja… que valorizem meu trabalho.
Elenilson – Perguntei isso, porque estou percebendo muita grosseria, arrogância e burrice de editores e autores que só são zen quando as coisas estão na primeira esfera da convivência, onde nada é profundo. Existem hoje, como diria Raul, muitas estrelas nas estantes para poucas constelações. Ando reparando muita prepotência e poucos livros realmente bons. Eu mesmo nem aceito grosseria, e se o colega autor e/ou editor for tosco comigo eu continuo agindo com ela como se ela estivesse arremessando brigadeiros na minha cara. Como você se comporta nesses casos?
Mylena Araújo – Uma palavra que detesto: arrogância. Acho que humildade é o bem maior para tudo que você realiza… É uma perda de tempo fingir ser quem não é para ganhar o apresso das pessoas.
Elenilson – Já dei muitas palestras em escolas falando do hábito da leitura e dos meus livros também. Além disso, dou autógrafos, tiro fotos e é sempre muito divertido. Mas sinto que muitos professores se colocam num patamar onde encaram autores como concorrentes, além de serem muito desinformados com relação à nova literatura. Como você encara essa situação?
Mylena Araújo – Meus professores do fundamental e médio tornaram-se meus fiéis amigos e agradeço a cada um deles por tudo que fizeram por mim. Já participei de palestras em escolas, agora em faculdades, mas ainda não presenciei esse fato. Espero que jamais precise. Logo não posso te dizer com eu agiria numa situação dessas.
Elenilson – Como é o contato com os leitores-fãs dos seus livros?
Mylena Araújo – Maravilho!! A hospitalidade que eles te recebem é reconfortante, eu me sinto como se os conhecesse a anos; Recentemente, participei de uma palestra ao lado do meu amigo escritor, Alexandre de Almeira, na Faculdade Estácio do Ceará. Nunca imaginei que o auditório lotaria em menos de segundos. Foi uma surpresa pra mim. Adorei cada momento, cada pergunta… e no final das contas ganhei novos leitores/amigos.
Elenilson – Já tem outra ideia de livro em mente?
Mylena Araújo – Não há um dia que eu fique sem ideias! Sim, claro. Tenho mais dois projetos para 2016, ainda é surpresa. Sábado, dia 08, postei no wattpad minha nova história de ficção cientifica “não-humanos”, cada semana teremos dois capítulos. Vale apena conferir. E no inicio do próximo ano, teremos a continuação da trilogia Valera. Preparem-se, pois surpresas estão a caminho.
Elenilson – Algum conselho para quem quer ser escritor?
Mylena Araújo – Não desista do seu sonho. Se você quer seguir esse caminho, continue nele, pois é realmente gratificante e não irá se arrepender. Quero agradecer pela oportunidade de participar dessa entrevista super legal, obrigada mesmo. De coração. Até a próxima pessoal!
Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Culturale possui o excelente blog Literatura Clandestina