Literatura

Entrevista com o artista visual Marcelo Mendonça

Marcelo Mendonça – Foto de José Garcia Arroba

Salvador precisa oferecer mais estrutura, mais segurança e, sobretudo educação, sem essas premissas não dá para dar o passo seguinte que é investir em cultura de maneira que desejamos.” (M.M.)

Por Elenilson Nascimento e Anna Carvalho

O artista visual baiano Marcelo Mendonça, que atualmente reside em Roma, é um dos artistas plásticos mais interessantes dessa nova geração. Com várias exposições de sucesso, entre elas uma concorrida homenagem ao centenário de Jorge Amado e também “A Flor da Pele”, Marcelo que já fez trabalhos com nomes como o cantor Flávio Venturini, o ator espanhol Santi Senso, a jornalista Rita Batista, entre outros, mostra nessa entrevista a sua extrema criatividade, debatendo questões que vivemos diariamente, preconceito na sua área e problemas enfrentados em Salvador. A ousadia e beleza de seus trabalhos já o tornaram um baiano premiado no Concurso Internacional Ilustracíon Sky Gallery Arts em Barcelona, além de aclamado pela imprensa.

Marcelo, desde o início da sua trajetória profissional, tem mostrado uma inquietude, rebeldia e curiosidade, que faz do conhecimento a alavanca que o impulsionou para o seu sucesso atual. A beleza do seu trabalho também é fruto da incessante preocupação que o artista tem em aprimorar suas técnicas e a sua sensibilidade, para levar ao público uma obra que lhes toquem e os conectem sensorialmente de maneira ímpar. E é com esse artista promissor, que vamos bater um papo para saber mais do seu trabalho.

EN – Na sua opinião, como anda o mercado de artes plásticas no Brasil? Há alguma tendência a melhorar?

Marcelo Mendonça – Um país de economia aquecida tende a consumir mais arte e o Brasil, hoje, citado como um dos BRICS, ainda que com muitas debilidades, acredito que passa a ver arte visual também como um investimento. Está provado que investir e consumir arte é rentável e hoje existem colecionadores e caça-talentos que estão investindo em artistas, inclusive os ainda pouco conhecidos, para que no futuro tenham obras valorizadas. Acho que ainda falta mais incentivo no ramo de projetos, editais e patrocínios que possibilitem à produção do artista.

EN – Você já fez exposições em Barcelona, Roma, Viena e em vários outros lugares. De acordo com as suas experiências, já que você mantém uma posição também política enquanto artista, como funciona o projeto “ser artista” no campo efêmero das artes?

Marcelo Mendonça – A efemeridade esta no conceito de arte contemporânea e mesmo que um artista hoje não se preocupe com isso, acredito que seus espectadores buscarão qualquer conexão em suas leituras. A arte no corpo, técnica em que venho usando no meu último trabalho, está diretamente ligada a isso. A minha obra “A Flor da Pele” são simbologias desenhadas que duram o tempo de fazer, pois em seguida o modelo toma banho, tira a tinta, se veste e vai embora. O que ficou foi o registro fotográfico que também tem sua importância, pois a obra final é um retrato, em que o desenho que esta pessoa leva no corpo não é mais valioso do que por exemplo, o olhar daquele modelo, a expressão corporal e principalmente o sentimento que aquela matéria, ou seja o corpo, pretende passar ao espectador. A política entra no momento da escolha da simbologia e o que eu converso com o modelo, pois são os nossos posicionamentos políticos que vão estampar a imagem. Esta é a hora que vamos entrar em acordo sobre o sentimento em forma de imagem geral que queremos passar. Gostaria muito que os problemas sociais que transmito neste trabalho fossem tão efêmeros quanto a arte de realização. Acho que os artistas que convivo e admiro, assim como eu, buscam trazer à tona a crise do sujeito no mundo contemporâneo, com isso uma grande preocupação com o ser em comunidade e com este olhar vejo complementares as obras que circulam e nos envolvem. Para mim a performance, esta arte das mais efêmeras e interessante, vem traduzindo este sentimento do artista contemporâneo. Quando filmo e/ou fotografo para “A Flor da Pele”, não as deixo de ver como o registro de uma performance que na qual o sujeito foi convidado por mim, para a realização daquela obra.

EN – Em geral, como foi a receptividade da sua exposição “Quadrado em Preto e Branco”, em homenagem ao Jorge Amado, e também qual é o índice de participação dos brasileiros nesses eventos?

Marcelo Mendonça

Marcelo Mendonça – Neste projeto, que foi em 2012, eu estava estudando Direção de Arte, em Madri, e quando expus nesta cidade contei com alguns colegas do curso (muitos eram da América do Sul, mas não haviam brasileiros). Então, entre amigos brasileiros e outros que ficaram sabendo posso dizer que 20% dos presentes eram do meu país. Quando a expus em Roma, pensei que ali atrairia mais conterrâneos, mas o que ocorreu foi que os italianos aficionados pela obra de Jorge foram prestigiar a exposição, principalmente porque tive a honra de ter como madrinha a jornalista e brasilianista Antonella Rita Roscilli, que representa Zélia Gattai na Itália.

AC – Gosto da perspectiva de Foucault que julgava a sexualidade também sob uma plataforma de poder, de textos e de comunicação social, sem seus tabus ou partindo deles. Então, o que você, como artista, acha disso em se tratando de sua obra que também reúne várias possibilidades do amor, sexualidade sem dramas ou relações de incesto com seus tabus?

Marcelo Mendonça – A sexualidade em meu trabalho é evidente pelos questionamentos em que faço nas pinturas, mas as pessoas podem ser induzidas a isso pelos modelos posarem sem roupas, como no momento que pintei a transformista Mitta Lux, montada e ao mesmo tempo sem nenhuma roupa. Senti que esta obra chamou muita atenção no lançamento da exposição em Viena, causando espanto, sendo polêmica, assim como a foto em que Divina Valéria está nua da cintura para cima, pintada com uma fênix em seu corpo. A intenção da arte neste caso é exercer também um certo trauma, o que para meu projeto é importante por mobilizar o expectador em direção àquelas causas que lido na obra. Mas já percebi, com a primeira mostra, que o “A Flor da Pele” tem esta força. As várias leituras e possibilidades que procuro trazer neste projeto não têm a pretensão em desvelar verdades ocultas pelo fato delas serem muito claras, mas sim estabelecer visibilidades ao que já faz parte de nossas vidas e que a sociedade hipocritamente se aterroriza e muitas vezes desrespeita.

EN – Embora o cidadão comum não perceba, a sua arte, o nu, as pinturas, as fotografias estão presentes no nosso cotidiano. De que forma você acha que a “arte elitizada”, que fica restrita a uma determinada fatia da sociedade, pode ser disseminada a um público maior?

Marcelo Mendonça – Eu acho engraçado quando as pessoas olham para uma obra de arte visual e diz: “Eu não entendo nada de arte, mas na minha opinião este quadro é genial”. Ou seja, tem que estudar Belas Artes para lançar algum sentimento sob uma obra? Ninguém se refere assim à música popular brasileira, por exemplo, que aliás é muito sofisticada e nem por isso menos consumida e comentada pelo público. Outra coisa são os preconceitos com a nudez em imagens. Existem cidades com obras seculares, estátuas de nu em praças públicas, isso ainda assusta porque? Então, acho com isso que o próprio público tem “medo” de popularizar a arte visual, ou algum preconceito, talvez religioso, culposo ou algo que o valha. Acho que mais iniciativas como a Bienal de Arte, em Salvador, deveriam acontecer. A arte visual é um documento de história, cultura e comportamento de um povo e isso é importante ser compartilhado. Nesta veia de popularização das artes visuais, quem tem grande força é o grafite, que abriu portas e ganhou as ruas, multiplicando-se a cada dia.

Na exposição A Flor da Pele, em Viena

AC – A sociedade feia em paradigmas patriarcais e sendo exposta às diferenças em novelas, filmes, cultura está disposta a bancar, na sua opinião, esse deslocamento?

 Marcelo Mendonça – Estes paradigmas parecem que estão sendo quebrados, são momentos da história no Brasil, porém, claro que, neste processo isso dificulta a exibição de uma obra que quer discutir comportamento, cidadania, atualidade, sexualidade e por aí vai. Eu temo em que muitos locais de exposições tenham esta pressão social na hora em que deva escolher e exibir obras de artistas que trabalhem com temas mais “polêmicos” e que nisso, a cultura fique sempre à margem da mediocridade. Não que toda obra precise desnudar-se fisicamente mas acho que toda obra deve desnudar o autor, no mínimo.

EN – Qual foi o fator principal que o levou à abraçar as artes plásticas como projeto de vida?

Marcelo Mendonça – A criatividade sempre me impulsionou, pois esta faculdade é das que mais me movem em um atividade laboral. Então, acho que a arte esta em mim, está em você, está em tudo e meu interesse é levantar questões através de expressões que noto neste mundo ao redor. Então, posso dizer que minha escolha esta por uma necessidade de materializar questões que me afligem, ou me emocionam, ou me incomodam negativa ou positivamente.

AC – A sexualidade hoje em meninos e meninas de dezesseis anos está mais aflorada, eles fazem parte de uma geração mais experimentalista e que transcende aos tabus, dogmas, estruturas, são mais líquidos e capazes de se exporem mais. O que acha dessa afirmação, generalista ou fato?

Marcelo Mendonça – Concordo, acho que é um fato. A sexualidade tem referência e o mundo dos acessos possibilitam isso.

EN – Você já trabalhou ou tentou trabalhar com outras técnicas, assim como outros materiais e tendências como escultura, literatura e outros?

Marcelo Mendonça – Eu trabalho com ilustração vetorial, fotografia e pintura. Escrevo poesia para mim, para amores e amigos. Participei de performances e posei para obras de três artistas espanhóis. Já participei de uma banda de música em Salvador e foi uma época bem divertida em que tocávamos inclusive nossas próprias composições. Fui convidado para atuar pela primeira vez em um clipe da genial cantora Nalini Vasconcelos e estou me preparando para isso com ansiedade (risos).

AC – Eu e Elenilson fomos muito criticados diante da claustrofobia cáustica de personagens bem fálicos sexualmente no livro “Clandestinos”, ou seja, para alguns a sexualidade permanece em sua fixidez de parâmetros, o seu trabalho também vem para desregular isso em que paradigmas?

Marcelo Mendonça – Crédito de José Garcia Arroba

Marcelo Mendonça – A nudez está presente no meu projeto atual e a intenção, ainda que indireta, é desconstruir aquela figura humana e tornar todos iguais, nus, pele e tinta, à flor da pele. Então, o mesmo cara que está posando para mim e pode ser um artista conhecido, quando na disposição dos quadros em uma galeria, ele ficará ao lado de um outro cara bem anônimo que estampe outra questão social. Nesta situação eu já estou lidando também com a igualdade de classes, de maneira transversal. Então, a importância da nudez para mim neste projeto, é de equiparar imagens e não tem nada a ver com erotismo, embora entenda que a nudez por si só tem seu apelo e eu não posso esconder isso, nem que eu queira e não quero. Então, confesso, já rolou censura de imagens devido a nudez e já deixei de expor em lugares relevantes por conta disso. Assim como o livro “Clandestinos”, eu acredito ter minha parcela nessa luta da liberdade de expressão, o que é uma pena, porque “liberdade de expressão” soa muito antigo e já deveríamos ter superado os empecilhos para isso.

EN – Que tipo de preconceitos ainda existem com relação ao seu trabalho?

Marcelo Mendonça – O projeto que realizo hoje lida com muitas questões sociais e percebo diversos tipos de preconceitos, o que é normal e acaba sendo interessante esta provocação, pois todos nós temos preconceitos e isso faz parte do cotidiano. Na inauguração do “A Flor da Pele”, o mesmo cara que se identificou com a obra contra a desigualdade racial, torceu a cara para a obra que trata de homofobia. Isso pra mim é um excelente ponto de análise, em que em uma mesma expo, pode acontecer empatia ou repugnância. Este ano ouvi de uma artista baiana que eu já tinha oportunidades quanto ao meu trabalho por eu viver em outro país, o mesmo ouço às vezes na Espanha, quando sabem que sou do Brasil, ou seja, sentimento de xenofobia. Estar em dois lugares é muitas vezes parecer que não sou de nenhum deles. Isso me incomoda pois meu trabalho é muito baiano e acho que levo nossa cultura para ser mostrado fora.

AC – Wagner Moura lançou recentemente um filme “Praia do Futuro” em que a sexualidade aflora entre dois homens, e o impacto das cenas sexuais entre dois homens foi considerada por alguns interlocutores como descontextualizada e lasciva. O que acha disso em pleno séc. XXI?

Marcelo Mendonça – “Praia do Futuro” é um filme muito interessante em que a temática gay não é o lema do filme, a sexualidade dos personagens está ali apenas por uma questão cotidiana normal na vida de qualquer pessoa e no caso daqueles personagens, eles são gays. Não há nada de descontextualizado por o personagem ser gay e nem isso faz do filme uma obra gay. Quando se trata de cultura e educação é preciso refletir o que é melhor para que seu filho veja e aprenda, é esta a questão: o que será mais educativo para o futuro dos meus filhos? Como estou preparando-os e fazendo-os consumir o que verdadeiramente eles precisam? Eu lembro que em minha infância assisti a várias novelas em que predominava a cultura do homem “bem sucedido” que tinha muitas mulheres apaixonadas e sofrendo por ele. Será que é isso que as mães querem que seus filhos sejam e vejam? Ou é mais importante que eles vejam a realidade humana e tenham a opção de desmistificar as relações, sejam elas hetero ou homo-afetivas?

EN – Já dá para imaginar – num futuro onde os gêneros e papéis sexuais estarão abolidos?

Marcelo Mendonça – Eu acredito que em algumas culturas isso já é diferente e chegará o dia em que vamos conviver, em modo geral, respeitando melhor uns aos outros. Em Berlim, por exemplo, uma cidade que passou por tantos desafios sociais, tiveram um muro que os separavam sem escolhas, hoje vive a abolição de muitas amarras, ou seja guardado as devidas proporções, este futuro ali já existe.

AC – Você como agitador cultural, um dos poucos que ainda provoca, como percebe Salvador anacronicamente sendo uma cidade cosmopolita, favelada e extremamente pouco vanguardista em relação aos seus costumes, valores consumíveis, olhares de transposição?

Marcelo Mendonça – Salvador precisa oferecer mais estrutura, mais segurança e sobretudo educação, sem essas premissas não dá para dar o passo seguinte que é investir em cultura de maneira que desejamos. Lamentável a desigualdade social que existe, a falta de acesso para muita gente. Temos tanta riqueza e diversidade, mistura de povos, artistas de primeira qualidade e gente a fim de realizar, que é triste que certas coisas não aconteçam e que podem alavancar boas iniciativas. Eu admiro muito os artistas visuais de minha cidade, muitos deles meus amigos, que estão produzindo e valorizando nossa cultura.

O ator Santi Senso posa para obra A Flor da Pele

EN – Com foi trocar Salvador por Madri?

Marcelo Mendonça – Eu sigo vivendo nas duas cidades, pois costumo passar pelo menos três meses do ano no Brasil e acredito que estarei mais presente ainda no próximo ano, devido aos projetos que sonho em realizar. O público espanhol tem muito interesse por arte visual e isso me faz aprender muito em conviver com esta cultura. Busco aprender o melhor das duas cidades em que vivo, Salvador e Madri.

AC – Como você se descreveria, já que cabem em você facetas aparentemente tão antitéticas, alguém que comunga da arte como algo libertário?

Marcelo Mendonça – Libertário, poético e militante é o que mais procuro ser. Embora eu trabalhe com imagem há muito tempo, desenhando capas de discos e ilustrando, eu sou recente no mundo das galerias e exposições, ainda quero aprender muito.

EN – Fui criticado num jornaleco de Salvador por ter dito que a Copa do Mundo seria muito melhor com um pouco menos de patriotadas, sem intoxicação publicitária, além da carência de identificação dos torcedores com os jogadores milionários. Você concorda que pior do que o vexame que demos no campo é o eterno vexame do despreparo para fazer do Brasil um lugar realmente digno para os seus cidadãos?

Marcelo Mendonça – Sou a favor das manifestações e me orgulhei quando vi o jornal “El País” colocar o Brasil como exemplo de país politizado quanto ao conceito de um mundial de futebol. Não sou a favor do vandalismo, mas acredito que havia muita gente bem intencionada no movimento. Gostei das rupturas e o fortalecimento da internet como meio de comunicação. O que temo é que uma Copa, uma Olimpíada, nem sempre transformam positivamente um lugar, como aconteceu com a cidade de Barcelona. Torço para que continuemos lutando por melhorias no Brasil e que em Salvador, construam um sistema de metrô verdadeiro e utilitário.

EN e AC – Você não está entre os artistas massivamente citados em redes sociais. Nem sequer tem a autoria de suas frases atribuídas a outros nomes, como acontece frequentemente no meio virtual. Mas sentimos tanto a falta de gente que tem o que dizer num canal como o IRDEB – que parece que parou no tempo, mesmo em HD (*mas a novelinha “Deu a Louca na Copa” foi massa!) – pois, as emissoras de Salvador parecem um emaranhado de gente retardada que não sabe o que dizer e tenta ser legal. Então, para alguém que é cosmopolita, já conseguiu estabelecer uma premissa ou entender a América Latina ou um sentido de uma Pan América?

Marcelo Mendonça – Dizer entender a América Latina seria muito pretensioso de minha parte. Também me achar mais cosmopolita seria arrogante, inclusive porque minha vida hoje é muito mais simples da que eu vivo quando estou em Salvador. Em Madri ando sempre de transporte coletivo, caminho por ruas aos destinos que preciso e faço amigos nas quitandas de frutas. Este tipo de vida soa inferior ou no mínimo caipira para o Brasil. Essa é a grande perda que sofre a América do Sul e a que Europa valoriza. Hoje convivendo fora e com muitos sul-americanos, sei que nosso maior ponto de intersecção é a desigualdade social de nossos países que desencadeia em um montão de reflexos em nosso comportamento. A cultura do “levar vantagem” por exemplo, é para mim a maior consequência negativa de nossas debilidades, o que faz um país não compartilhar e não lutar por igualdade e por isso ousar em um projeto de cultura se torna secundário. A cultura de um povo fica a deriva disso, dessa imagem mais comercial e pouco criativa. Para se vender mais tem que comunicar de maneira superficial para “agradar” a uma grande maioria. Só que isso pode afetar diretamente em uma evolução cultural.

EN – Como foi trabalhar com o Flávio Venturini?

Capa do CD de Flavio Venturini, a qual Marcelo assinou a arte

Marcelo Mendonça – Flávio é um grande artista e amigo que admiro muito! Fiquei muito feliz quando ele escolheu uma obra minha, premiada em um concurso em Barcelona, para ser capa do CD “Venturini”, que é belíssimo e inclusive fala de Salvador. Na verdade, a ilustração que inscrevi no concurso foi inspirado nas músicas que tive a oportunidade de ouvir antes de ser lançado o CD, em uma visita que ele me fez em Madri enquanto fazia turnê na Europa. Nesta ocasião ele também posou para minha exposição “A Flor da Pele”.

EN – Qual será o seu próximo projeto?

Marcelo Mendonça – Tenho muitas ideias a fim de por em prática. Estou com um projeto dissidente do “A Flor da Pele” que se chama “Demasiado Corazón” que são os esboços desenhados para o “A Flor da Pele”, porém com uma investigação do que é viver fora do país, na Espanha, sentir as diferenças, lidar com a xenofobia e calor sentimental de um outro povo. Este projeto terá um pocket na Bahiacloset, de Salvador, em que estarão lançando um espaço Marcelo Mendonça, ainda este ano.

EN – Como funciona e de que forma seus projetos contribuem para democratização das artes plásticas e das liberdades de expressões?

Marcelo Mendonça – Meu projeto é apenas um detalhe para a complexidade da democratização das artes plásticas. Eu gosto de arte que pretende mudar o mundo e me sinto neste motor com o “A Flor da Pele”, pois falar de problemas sociais é levantar a bola para muita discussão positiva. Em Viena eu dei uma palestra sobre arte sustentável à raiz do meu projeto e houve um bom retorno disso. Fui convidado para uma workshop e também para levar esta palestra para escolas. Arte e educação tem uma combinação boa e pretendo levar a diante estas palestras. Acho que é pouco a pouco que se constrói e eu acredito que estou contribuindo com minha humilde parcela.

EN – O que ainda podemos esperar do Marcelo Mendonça?

Marcelo Mendonça – Estou focado no meu projeto “A Flor da Pele”, quero expor ainda em algumas cidades fora do Brasil e tenho o objetivo de expor em minha cidade natal, Salvador, e outras cidades brasileiras. Desde fevereiro deste ano o diretor de arte, Zunk Ramos, e o produtor Lucas Arcanjo me convidaram para produzir um documentário sobre meu projeto e assim ganhamos estrada, viajando de ponta a ponta na Bahia e pintando, fotografando e filmando ativistas de regiões em que sofrem graves problemas sociais. Conseguimos abranger no projeto da seca na caatinga em Teofilândia ao descuido com os corais no sul da Bahia, com o projeto “Maraú Social”. Então, quero me dedicar a fechar até próximo ano este documentário e, além disso, estarei editando meu primeiro livro fotográfico “A Flor da Pele”.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Culturale possui o excelente blog Literatura Clandestina *Anna Carvalho é professora e escritora.

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