Literatura

Entrevista com o escritor Rubens Francisco Lucchetti

Rubens Francisco Lucchetti

“Todas as histórias que escrevo são meras ficções. Nada têm de real. Todo o meu universo é fictício, porque, como já falei inúmeras vezes, detesto a realidade.” (R.F.L.)

Por Elenilson Nascimento

O fim da utopia, da educação, da literatura? Prefiro dizer: o fim do determinismo histórico, da ideia de que o progresso é redentor. Eu, também como escritor, acho que não podemos mais falar em revoluções, no sentido clássico, pois fracassaram, todas elas tornaram-se ditaduras. Será exagero, talvez, rotular “Grande Sertão: Veredas” de romance comercial? Talvez. Mas estão nele os principais ingredientes da boa história do gênero: estilo, intriga, suspense, antagonismo e, especialmente, um final absolutamente inusitado. Mas se Guimarães Rosa fosse um autor-blogueiro desconhecido, será que hoje ele faria sucesso com esta obra? E se realmente a literatura de qualidade transcende o gênero, porque nunca se pensou em um Guimarães Rosa como autor policial, de terror ou comercial? Ou já se pensou e eu não sei?

A ficção, em qualquer forma que se apresente, sempre pretendeu ser realista. Só os críticos literários obcecados em agradar leitores rasos e donos de editoras não conseguem enxergar. Os meus autores mortos favoritos que agora se encontram fora de moda, em detrimento aos autores fofos que escrevem para adolescentes consumidores de literatura sobre anjos assassinos, vampiros bomzinhos e bruxos nerds, e que dão entrevistas bajuladoras no Programa do Jô, parecem empolados e artificiais demais a ponto de beirarem o burlesco, não pareciam assim às pessoas que primeiro os leram.

Alguns autores publicam apenas um ou dois livros em toda a sua vida e conseguem passaporte direto para o seleto grupo das cabeças imortais ou para o Inferno, assim como escreveu Oscar Wilde, na sua “A Balada do Cárcere de Reading”leia aqui  Mas, de alguma maneira, muitos outros conseguem fabricar dezenas deles em um verdadeiro tour de force criativo. Mesmo assim, estes livros mal chegam ao conhecimento dos leitores. Escritores como Fielding e Smollett conseguiam parecer realistas e comerciais, na moderna acepção da palavra, porque lidavam em grande parte com personagens desinibidas, muitas das quais estavam cerca de dois passos à frente da polícia, mas as crônicas de Jane Austen, sobre pessoas altamente inibidas e sexualmente frustradas colocadas dentro do cenário formador da nobreza rural, parecem suficientemente irreais em termos psicológicos, mas ainda vendem que nem água. Então, como explicar o sucesso e a perenidade de um autor?

Um caso bem interessante é do educadíssimo e talentoso autor Rubens Francisco Lucchetti, escritor com mais de 1.500 livros publicados, 300 HQs, 25 roteiros de cinema – inclusive “O Segredo da Múmia” (1982), de Ivan Cardoso, pelo qual recebeu um Kikito no Festival de Gramado -, além de incontáveis colaborações para revistas, jornais, blogs e sites. Morador de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, adepto da máquina de escrever, Lucchetti diz que nunca se interessou por computadores e acabou vencendo este bloqueio “por força de contrato”. Conta ainda que passou os últimos 20 anos batendo nas teclas de sua máquina (*eu também tenho a minha), tarde da noite, e guardando textos na gaveta porque não conseguia publicá-los. “Desde que eu me lembre, sempre tive vontade de escrever. Mesmo antes de saber escrever”, disse. Pensou que estivesse “esquecido”, mas soube que continuava na memória das pessoas ao receber o carinho de muitos fãs quando “descobriu”, via Facebook, que continuava sendo admirado por centenas deles. “Faz pouco mais de um ano e meio que tenho um perfil na rede. E no meio desses admiradores há leitores que conhecem profundamente o meu trabalho. Isso tem dado um novo alento à minha vida”, comentou.

Rubens Francisco Lucchetti

E para quem acha que ele é mais um na imensa fila de autores desconhecidos, Lucchetti tem tradição pulp fiction brasileira com extensa obra de horror e mistério, como “O Fantasma de Tio William”, lançado em 1992 pela Coleção Vagalume, além de uma parte de sua obra está representada no Prêmio Jabuti 2014, com “Fantasmagorias” (*eu tenho esse!), antologia de contos fantásticos de sua autoria, que foi indicada na categoria de ilustração com os desenhos de Emir Ribeiro. O autor já produziu nada menos que 1.547 livros ao longo de uma longa carreira, durante a qual utilizou inúmeros pseudônimos, incluindo Vincent Lugosi, Brian Stockler e Isadora Highsmith. “Esse gênero foi muito explorado pelos norte-americanos (…), mas no nosso País, ele pouco se desenvolveu. Eu fui um dos poucos que se dedicou a ele, colaborando, inclusive, em revistas que eram versões de magazines estadunidenses”, confessou.

Lucchetti, que vive em uma casa inacreditável e labiríntica – muito parecida com a casa da escritora baiana Aninha Franco – com mais de uma dúzia de quartos mal iluminados na praça central de Jardinópolis, cidadezinha no interior de São Paulo, escreveu de tudo: de contos de terror a histórias de crime e contos eróticos, com títulos como: “Os Vampiros Não Fazem Sexo”, “Confissões de Uma Morta” e “Fim de Semana com a Morte”. Mas também porque a crítica literária é burra e sempre torceu o nariz aos gêneros “menores”, tipo policial, ficção científica e poesias, além de crônica e biografia, talvez esta entrevista com Lucchetti seja um “tapa na cara” de muitos. Porém é muito bom não esquecer que “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, que disputa com “Grande Sertão…” e alguns poucos o título de melhor livro da literatura brasileira, nasceu de um punhado de reportagens (crônicas?) escritas para o jornal Estadão e também foram livros que um dia foram desacreditados. E não seria razoável inscrever “Memórias Póstumas de Brás Cubas” como ficção científica, pelo menos no início? Como se vê, os limites são tênues, as distinções não passam de caixotes formais para enquadrar autores e obras. Deixo fora da briga (ou futrica?) Rubem Fonseca e Graham Greene, que pertencem tanto à literatura “superior” quanto à “de entretenimento”.

E o caso de Lucchetti se repete com outros grandes nomes que acabam esquecidos pelo mercado de arte e entretenimento num País de analfabetos, mas obcecado por novidades rasas. “Temos uma falta de leitores. E os que existem, infelizmente, leem muito autores estrangeiros. Péssimos autores estrangeiros, diga-se de passagem. E as maiores culpadas disso são as grandes editoras, que não investem nos autores nacionais”, lamenta ele. Mas seria o triunfo da despolitização e da alienação, reino do conformismo, da resignação e mesmo do cinismo, se autores como Lucchetti fizessem parte da sexta básica dos brasileiros.

Elenilson – O senhor já disse em algum lugar que já nasceu com vontade de escrever, quando percebeu isso?

F. Lucchetti – Desde que eu me lembre, sempre tive vontade de escrever. Mesmo antes de saber escrever.

Elenilson – Como o senhor se sente com relação ao retorno que os leitores dão sobre seus livros?

F. Lucchetti – Estou admirado de ter encontrado, depois de muitos anos sem ter publicado nada, tantos admiradores do meu trabalho. E tudo graças ao Facebook. E faz pouco mais de um ano e meio que tenho um perfil na rede. E no meio desses admiradores há leitores que conhecem profundamente o meu trabalho. Isso tem dado um novo alento à minha vida.

Elenilson – O mundo ideal será feito quando cada escritor masoquista encontrar o seu perfeito leitor sádico?

F. Lucchetti – Todo autor tem de encontrar o seu público alvo. Sem o público, o autor não existe.

Rubens Francisco Lucchetti

Elenilson – Defina arte, se a arte foi feita em nome e pelos pares de uma elite…

F. Lucchetti – É a arte aquilo que nos faz ficar mais próximos de Deus. E ela está sempre ligada, queiramos ou não, a uma elite. Mas entenda bem: quando me refiro à elite, não é a elite endinheirada (na maioria das vezes, esses não têm sensibilidade. Estão interessados pura e simplesmente em seu progresso material. Já falei numa entrevista que é mais fácil você sensibilizar um porco, ao som do “Bolero” de Ravel, do que um burguês); é, sim a elite cultural.

Elenilson – O senhor é considerado o grande nome da pulp fiction da literatura brasileira, como se sente depois de já ter escrito mais de 1500 livros num país de poucos leitores?

F. Lucchetti – Esses 1.547 livros que escrevi num espaço de 36 anos (1968-2004) foram escritos por encomenda. Não tenho nenhuma relação com eles. Foi um trabalho mercenário, para poder ajudar no orçamento doméstico. Quanto à pulp fiction, nunca contei exatamente quantos livros e contos escrevi. Sei que são muitos. Alguns assinados com meu nome, outros tantos assinados com heterônimos e pseudônimos. Agora, com relação à sua pergunta, é perturbante saber que sou, hoje, um dos últimos (senão o último) autores de pulp fiction não só no Brasil como no mundo. Esse gênero foi muito explorado pelos norte-americanos, sobretudo entre as décadas de 1920 e 1940. No nosso país, ele pouco se desenvolveu. Eu fui um dos poucos que se dedicou a ele, colaborando, inclusive, em revistas que eram versões de magazines estadunidenses.

Elenilson – Os títulos dos seus livros são bem atípicos – “Os Vampiros Não Fazem Sexo”, “Confissões de Uma Morta” e “Fim de Semana com a Morte”. “Eu Detestava Faroestes”. Fale um pouco sobre este processo de escolha dos títulos.

F. Lucchetti – Eu não sei escrever, se não tenho como referência um título, nem que seja provisório. Não gosto de títulos banais. Procuro, sempre que possível, títulos que sejam originais. Uma correção: você colocou entre os títulos de meus livros “Eu Detestava Faroestes”. Não é o título de um livro. Sempre disse que nunca gostei de faroestes (sejam filmes ou livros), devido à sua violência gratuita. Apesar disso, escrevi cerca de sessenta livros de faroeste, por força de contrato.

Elenilson – Por que o senhor acha que no Brasil nunca se investe em inteligência?

F. Lucchetti – Porque para esse tipo de Governo que nós temos não se interessa que o povo pense. Porque, a partir do momento em que o povo começar a pensar, não elegerá políticos como estes que estão aí para cuidar exclusivamente de seus interesses e que sempre criam leis que prejudicam o povo.

Elenilson – O senhor se considera um autor marginalizado?

F. Lucchetti – Perfeitamente. Mas estou satisfeito e plenamente realizado porque tenho a possibilidade de escrever, quando posso, aquilo que eu quero.

Elenilson – As editoras preferem publicar livros para adolescentes acéfalos. Será que a falta de bons livros no mercado é um indício do fim – em câmera lenta – na nossa literatura?

F. Lucchetti – Essas editoras a que você se refere são as grandes. Mas há um grande número de pequenas editoras que estão investindo em novos autores. E há muita gente talentosa, muito acima de “autores consagrados”. Então, a literatura nunca irá acabar, mesmo que ela seja cultivada por uma minoria.

Elenilson – Embora muitos de seus livros se passem em lugares como Los Angeles, Nova York ou Londres, o escritor nunca viajou para fora do Brasil. Isto parece não ter sido um impecílho. Comenta.

F. Lucchetti – Eu tenho mapas das principais cidades do mundo. Tenho mapas rodoviários, além de horários de trens, metrôs, ônibus e aviões. Tenho também livros culinários de países, europeus e americanos. Também tenho por hábito, ao ver um filme, anotar nomes de restaurantes, cruzamentos de ruas com semáforos; enfim, todas as curiosidades e detalhes que podem me auxiliar na construção de uma história. Por esse motivo, nunca tive dificuldade em colocar meus personagens em qualquer país do mundo, apesar de eu mesmo nunca ter saído do Brasil. Além do mais, o mundo retratado em minhas histórias não é o mundo real, é o meu Universo.

Elenilson – O senhor escreveu um texto-desabafo recentemente sobre “o boicote editorial e o preconceito contra o autor nacional” e sobre o seu livro “Confissões de uma Morta”, publicado no ano de 1972, pela Editora Bruguera, totalmente mutilado, sem o preâmbulo, com trechos da história cortados para que o livro pudesse se encaixar nas 160 páginas do paperback. E, à sua revelia, modificaram até o final. Como isso foi acontecer?

F. Lucchetti – A coleção em que o livro “Confissões de uma Morta” foi publicado tinha uma quantidade certa de páginas (160 páginas, no formato paperback). E a história ultrapassava esse número de páginas. Que fizeram? Cortaram as páginas excedentes. O que foi errado. Porque uma história policial é um problema matemático, um enigma. Você não pode ir cortando aleatoriamente. Tem de condensar o texto. Porém, condensar é uma arte. Nem todos os copidesques estão preparados para isso. Tem de ser feito por um escritor, alguém que conheça profundamente a arte da escrita.

Elenilson – Quais os seus autores preferidos?

F. Lucchetti – Meus autores favoritos: Robert Louis Stevenson, Edgar Allan Poe, sir Arthur Conan Doyle, Giovanni Papini, Alphonse Daudet, Knut Hamsun, H. G. Wells, S. S. Van Dine, James Hilton, Erle Stanley Gardner, John Dickson Carr, Mark Twain, Paolo Mantegazza, Rabindranath Tagore, e outros mais que não me ocorrem no momento. Quanto aos autores brasileiros de minha predileção, eles são: Érico Veríssimo, Dyonélio Machado, Josué Guimarães e Menotti Del Picchia, Humberto de Campos e Malba Tahan.

Elenilson – Tem algum autor que te inspirou no início de sua carreira?

F. Lucchetti – E há um autor cuja leitura acho imprescindível para todos os jovens: o holandês Hendrik Van Loon.

Rubens Francisco Lucchetti

Elenilson – Deixa eu te confessar uma coisa: me sinto triste em morar em Salvador. Acho que estamos vivemos a época da desinteligência, onde até o meio acadêmico aliena, época onde estamos rodando em círculos e sem nenhuma perspectiva. O meu inconformismo é a minha solidão. Prefiro mil vezes permanecer com meus amigos mortos (*agora lendo “Mrs. Dalloway” e a negatividade de Bernardo Guimarães) do que ter a companhia dos vivos. Nesse período de Lava Jato, Congresso Nacional falido, presidenta sem discurso, povo brigando nas ruas por causa de partidos e bandeiras, para onde, provavelmente, até os terreiros vão ter que deixar de receber os santos porque a Fifa e/ou a Igreja Universal também vai proibir, como o senhor faz para ser abduzido dessa terrinha medíocre?

F. Lucchetti – Como já disse inúmeras vezes, refugio-me em meu Universo, um Universo forjado por mim mesmo, onde sou um deus criador, com poder sobre a Vida e a Morte. Isso é um perfeito antídoto para a solidão. Quanto à convivência com os vivos, é muito problemático. Já tive várias experiências traumáticas. Mas também tenho alguns bons amigos, raríssimos, que, infelizmente, em sua maioria, já partiram para o mundo espiritual (eu teria imenso prazer em revê-los um dia). Com relação aos políticos, há muito tempo que os aboli da minha vida. Eles só estão preocupados com seus interesses. Só trabalham para eles mesmos.

Elenilson – Falando mais e mal da política, depois que o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, e agora, o juiz Sérgio Moro, tornaram-se alvos de uma série de constrangimentos orquestrados por seguidores petistas condenados por envolvimentos no maior escândalo de corrupção da história desse país, agora os escolhidos para Cristo são os blogs e sites excluídos pelo Google, o pessoal da TV Revolta ou qualquer um que tenha um discurso diferente da grande massa de bitolados. Gostaria de saber do senhor o por que os formadores de opinião, artistas, jornalistas, escritores, professores e etc. nunca se manifestam sobre assuntos ligados à política?

F. Lucchetti – Simplesmente porque não é a política. O que os nossos políticos costumam fazer é politicagem da pior espécie. Não merece comentário algum daqueles que têm sensibilidade e que, certamente, os repudiam.

Elenilson – Como mobilizar a Literatura em camadas que geralmente não têm acesso, mesmo entendendo a arte numa plataforma de comunicação mais abrangente e necessária?

F. Lucchetti – Num País em que as pessoas não têm o hábito da leitura, a Literatura e a Arte em geral são menosprezadas. O primeiro passo é formar leitores. E isso começa na infância. Se a criança não se habituar a ler, depois de adulto nem jornal ela irá ler.

Elenilson – Como você explicaria a fragilidade das bibliotecas, dos livros, da educação, do teatro, do cinema em geral?

F. Lucchetti – Vivemos num país em que a cultura, as artes e tudo o que forma, digamos, o caráter de uma pessoa não são valorizados. Os governos se sucedem e mantêm o povo na mais completa ignorância. Porque no dia em que o povo pensar essa classe política estará extinta. No nosso País, há uma escassez de bibliotecas (as poucas que existem estão às traças), livrarias, cineclubes, etc. E o teatro só atende às classes mais favorecidas que podem pagar ingressos que custam um absurdo (o que não dá para atender é que muitos espetáculos são subvencionados por leis de incentivo. Portanto, não deveria ser cobrado ingresso algum).

Elenilson – O senhor já confessou, via Facebook, que quando vê um artista, obra de arte, acha que a humanidade tem jeito. O que não tem jeito para o senhor, nesta tua fase Poliana, se considerarmos a falta de direção e de projeto num País que se entende como “pátria de chuteiras”?

F. Lucchetti – O homem nasce bom, ele é corrompido pela sociedade. O que precisamos é deixar de ser essa “pátria de chuteiras” e ser uma “pátria educadora” (no sentido real e não como mero slogan político). Isso vai demorar para acontecer, mas um dia acontecerá. Por força das circunstâncias.

Elenilson – Recentemente eu fui criticado num jornaleco de Salvador por ter dito que assim como a Copa do Mundo, as Olimpíadas será muito melhor com um pouco menos de patriotadas, sem intoxicação publicitária, além da carência de identificação dos torcedores com os atletas milionários. O senhor concorda que pior do que o vexame nos estádios será o eventual vexame do despreparo para o evento e falta de educação do nosso povo?

F. Lucchetti – Falta de educação é sempre pior do que qualquer outra coisa. Não estamos preparados para sediar Olimpíadas. O dinheiro que foi gasto na Copa da Mundo e nas Olimpíadas daria para fazer muita coisa em prol da Cultura e da Educação. Infelizmente, foi um dinheiro jogado na lata do lixo. Vários estádios estão jogados às moscas. O que irão fazer com essas construções feitas especialmente para os Jogos Olímpicos? Infelizmente, a nossa imprensa está comprometida e não fala nada a respeito disso e só sabe imbecializar ainda mais o povo.

Elenilson – Para um autor que já escreve há tantos anos, o que fazer para que as histórias novas não acabem se tornando iguais as que já foram escritas?

F. Lucchetti – Todas as histórias já foram escritas. Tudo depende da maneira de como recontá-las. Aí é que reside o talento do escritor.

Elenilson – Quem seria hoje a voz dessa geração conectada o tempo todo?

F. Lucchetti – Não sei responder a essa pergunta. Ainda é muito cedo para sabermos quem será o autor representativo da nossa época. Por enquanto, não vi ninguém.

Elenilson – Como o senhor enxerga a não abertura do campo profissional para escritores no Brasil?

F. Lucchetti – Temos uma falta de leitores. E os que existem, infelizmente, leem muito autores estrangeiros. Péssimos autores estrangeiros, diga-se de passagem. E as maiores culpadas disso são as grandes editoras, que não investem nos autores nacionais. E a maior parte das grandes editoras brasileiras está na mão de multinacionais. Para eles, a cultura brasileira pouco interessa.

Elenilson – Seus textos me lembra muito o personagem Noturno, dos X-Mens. O senhor tem simpatia por algum personagem da ficção?

F. Lucchetti – Na literatura, simpatizo com Sherlock Holmes. Nos quadrinhos, Li’l Abner (do Al Capp), Rip Kirby (do Alex Raymond), Príncipe Valente (do Hal Foster) e Corto Maltese (do Hugo Pratt).

Elenilson – Que dica o senhor daria para as pessoas que estão iniciando carreira como escritor?

F. Lucchetti – É ler, ler, ler (a pessoa tem de ter o hábito e a curiosidade de ler tudo quanto lhe cair nas mãos). Se a pessoa não ler, ela nunca irá escrever. E, depois, exercitar diariamente a escrita: imaginar uma história e procurar contá-la de uma forma inteligível. O principal numa história é ela ter ritmo. E deve-se sempre evitar os lugares-comuns.

Elenilson – Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação, muito bom conhecer mais um escritor bacana. Que mensagem o senhor deixa para nossos leitores?

F. Lucchetti – Eu agradeço a você, Elenilson, esta oportunidade que me deu para me dirigir a seus leitores. No meu trabalho solitário de ficcionista, não me sinto mais sozinho, como antes. Sei que tenho vocês. Obrigado a todos.

Elenilson Nascimento – dentre outras coisas – é escritor, colaborador do Cabine Cultural e possui o excelente blog Literatura Clandestina

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