Música

Entrevista: Giovani Cidreira e a boa música

Giovani Cidreira (foto de Isabela Maranhão)

Giovani lança novo trabalho no próximo dia 1º de fevereiro praça da Rua da Fonte do Boi no Rio Vermelho; apresentação é gratuita 

Cantor e compositor, Giovani Cidreira é mais um dos grandes talentos da cena musical baiana, seja como o vocalista da banda Velotroz, uma das boas de Salvador, seja com o seu trabalho solo, evidenciado principalmente após o lançamento de seu primeiro EP, no ano passado (pode ser escutado no site www.giovanicidreira.com). O álbum, produzido no Estúdio Caverna do Som, apresenta sete faixas, entre as quais Ancohuma, premiada como melhor música com letra pelo XII Festival de Música da Educadora FM.

E quem estiver em Salvador no próximo dia 1º de fevereiro pode – e deve – comparecer na praça da Rua da Fonte do Boi, no Rio Vermelho, para assistir ao show de lançamento de seu trabalho. A apresentação, que é gratuita, acontece ao ar livre a partir das 18 horas e conta com a participação bem bacana do grupo Retro_Visor.

A gente aproveitou o momento para conversar um pouco com o cantor; na pauta, o primeiro trabalho solo, influências e os planos para 2015.

Bate papo está bem legal.

Luis Fernando Pereira – Queria começar falando do processo que resultou no seu primeiro trabalho solo. Foram dois anos até o EP ficar pronto, não? Conta um pouco do que aconteceu neste período

Giovani Cidreira – Nossa cara… Durante esse período eu criei e reinventei essas músicas varias vezes, descobri “Catch a Fire”, um disco que mudou totalmente o meu modo de fazer música; Passei a criar arranjos mais simples, a ter preferência pelo som mais orgânico. Conheci pessoas maravilhosas, eles me deram outras informações pessoais e musicais. Me apaixonei, desapaixonei, decepcionei muita gente, e desisti de tudo algumas vezes também.

Giovani Cidreira (foto de Isabela Maranhão)

LF – O álbum possui uma atmosfera que me trouxe por vezes um sentimento de nostalgia, e ao mesmo tempo ele é bastante atual, contemporâneo. Como é que você vê essa junção de passado e presente no teu trabalho?

GC – O sentimento de nostalgia que você disse é fruto do meu reencontro com Santo Amaro, um lugar que me levou de volta à minha infância de menino que cresceu acordando 4 da manhã pra pegar aquele ônibus que levava as crianças da zona rural pro colégio. Isso esteve em minha cabeça durante o processo de feitura do cd. A sonoridade do disco é o resultado de muitas madrugadas ouvindo meus Lps e da decisão de gravar tudo da maneira mais crua que a gente pudesse. Isso também está relacionado a nossa condição. Era o jeito que tínhamos pra fazer e usamos a nosso favor. Eu sou jovem, portanto sou influenciado pelos novos, mesmo que eu não queira. Não penso em junção nenhuma, só vou fazendo minhas músicas aqui.

LF – O EP tem produção de Irmão Carlos, um dos nomes mais bacanas da cena baiana. Vocês já tinham alguma ideia do que queriam levar pro estúdio quando decidiram fazer essa parceria? Como é que foi o processo?

GC – Carlos me convidou pra gravar umas músicas minhas que ele tinha ouvido num blog daqui de Salvador. Eram gravações voz e violão que tinha feito na casa de um amigo. Ele achou que eu levaria aquelas músicas pro estúdio, mas não foi assim. Eu achei que elas não tinham mais sentido pra mim naquele momento e decidi partir do zero, escolher outras coisas pra tocar; a única musica daquelas que ele ouviu e que entrou no disco foi “Veleiro contra o mar”. Cheguei no Caverna do Som sem fazer ideia do que ia ser, nem sabia quantas músicas gravaria. Ele me deu muita liberdade pra criar e reinventar tudo lá no estúdio, eu ia e voltava com ideias totalmente diferentes para as músicas, foi caótico. Eu amo isso.

LF – Basta ouvir uma ou duas faixas do EP pra logo sentir influências tropicalistas, do Clube da Esquina, de Miltão… queria saber o que mais te influencia, não só na música, mas na arte.

GC – Eu gosto de deixar passando o “Zabriskie Point”, do Antonioni mesmo que eu não fique ligado na tela durante o filme todo (não precisamos assistir nem ouvir nada direito pra interagir com isso). Aquilo tem um som incrível, uma explosão maravilhosa, me deixa realmente inspirado. É uma sensação parecida com a que tenho enquanto leio Drummond ou Bandeira ou quando estou parado, calado ao lado de uma pessoa muito querida numa noite que foi bonita. Tudo isso me faz ir e voltar no tempo com umas asas de papel celofane. Uhhhhhhhhhhh!

LF – Dá para fazer algum paralelo entre o seu trabalho solo e o seu trabalho na Velotroz? Como é que fica essa divisão de tempo?

GC – A velotroz começou quando eu tinha 14 anos, eu me transformei com eles. Não dá pra fazer paralelo, quando uma coisa está existindo pra mim no modo prático a outra está morta.

Giovani Cidreira (foto de Isabela Maranhão)

LF – Agora você está na fase de divulgar o EP, já tem show agora em fevereiro. Como é vai ser tua agenda em 2015? Carnaval, shows em outras cidades, projetos…

GC – Além do show do domingo, lançamento do EP, vamos tocar dia 7 de fevereiro na Casa da mãe, também no Rio Vermelho com as bandas Escola Pública e Os Johnsons. Depois eu quero ir embora pra onde não exista esse barulho e iniciar o trabalho com músicas novas, já começo a pensar num próximo disco, sem pressa… Deixar rolar…

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