Música

Entrevista: Saulo fala sobre carnaval sem cordas e os 50 anos do TCA

Saulo no show TCA 50 anos – Foto: Thays Coelho

“Dono de um carisma e serenidade inconfundíveis, Saulo vem se destacando pela sua fervorosa defesa do carnaval sem cordas”

Saulo Fernandes, ou, simplesmente Saulo. O baiano de Barreiras, quarto filho de Dona Estela e Seu Jorge, começou a carreira cantando no carnaval de Vitória (ES) e foi eleito a revelação do Carnaval de Salvador, em 2001, quando comandava a Banda Chica Fé. Dois anos depois, foi convidado para assumir os vocais da Banda Eva, substituindo Emannuele Araújo, posto que ocupou durante 11 anos.

Hoje, em carreira solo desde 2013, é uma das maiores estrelas da música baiana. Dono de um carisma e serenidade inconfundíveis, Saulo vem se destacando pela sua fervorosa defesa do carnaval sem cordas e por sua eterna devoção à Bahia, tema sempre recorrente em suas canções.

No último sábado, 04/03, ele foi um dos convidados a subir no palco da Concha Acústica para celebrar os 50 anos do Teatro Castro Alves.

Nós estivemos lá e conversamos com o cantor. Confira!

– Como é para ti está fazendo parte das comemorações dos 50 anos do TCA, casa que já recebeu tantos shows históricos de artistas consagradíssimos, como Caetano, Gil, Bethânia e que recebe também as novas caras da música baiana, gente como você e como o BaianaSystem, por exemplo, que sempre estão inovando e mostrando a potencialidade da nossa música?

– Ó, Baiana System é melhor, viu? (risos)…. Adoro eles! Mas eu já falei pra muita gente aqui, eu sou um cara do interior, e sempre que surgem esses convites imensos, enormes, eu lembro que sou de Barreiras e penso na sorte que eu tenho de ter essa oportunidade, essa chance, e fico querendo fazer isso com o maior amor do mundo, o maior empenho. E poxa, além de dividir o palco com a maravilhosa OSBA (Orquestra Sinfônica da Bahia), com quem eu já tive outras experiências, ainda vou dividir com (Gilberto) Gil, meu amor, lindo, o maior de todos e Baby também, maravilhosa. O Maestro Carlos Prazeres é uma referência na música erudita, é o cara. Hoje é um dia para não ser esquecido. Eu só agradeço quem teve a ideia de me convidar e nos reunir todos aqui nesse dia. Eu me sinto cada vez mais pequeno, diante de tanta grandeza.

Saulo Fernandes

– Nós acabamos de sair do carnaval e você foi um dos artistas que tomou a frente do movimento que visa resgatar a pipoca, o carnaval popular, abaixar as cordas. Esse ano você fez 3 dias de pipoca, todas lotadas. Como você avalia o momento do carnaval soteropolitano?

– Eu gosto do movimento, gosto disso. Nunca gostei daquela frase “é o que temos” ou “só pode ser assim”, não bicho, eu ficava irritado com isso desde pequeno. Eu gosto de mexer nas engrenagens, mexer nas coisas. Acho que repensar o carnaval é o mais importante. E é visível a redução da violência nas pipocas, por exemplo. As questões sociais que no carnaval devem ser diluídas em igualdade. E cada vez que separamos algo não estamos contribuindo com isso. A discussão tá posta. Você falou de BaianaSystem, eu vi uma entrevista de Russo (Passapusso, vocalista da BaianaSystem) que eu achei foda. A função disso é fazer um carnaval sem violência, irmão. Sabe? Quando eu chego em casa e penso: porra, ninguém se machucou, vei! Todo mundo se abraçando, foi lindo! Todo mundo diferente, ninguém se conhecia, mas ficou todo mundo massa, numa boa. E eu posso lhe garantir, há 5 anos eu faço carnaval sem violência. Se você perguntar a Russo, ele vai falar a mesma coisa. No mais é discussão política, é ego, coisas que eu não tô afim. Meu lance é esse, são as pessoas libertas, felizes, é isso que quero!

Pedro Del Mar  baiano, 25 anos, repórter e colunista. Um curioso nato que procura enxergar o mundo sem as velhas e arranhadas lentes do estabilshment. Acredita que para todo padrão comportamental há interessantes exceções que podem render boas histórias.

Shares: