Siré Obá no Solar Boa Vista – Foto de Aldren Lincoln
É incontestável que, de modo geral, há uma falha bem acentuada na estrutura educacional brasileira. Várias, bem da verdade, mas aqui destaco uma especificamente, que é essa dissociação que existe entre educação e cultura. Os dois termos – chaves para o desenvolvimento de um bom projeto de nação – não podem ser jamais colocados em lugares separados, como se fossem estranhos uns aos outros, mas no Brasil, salvo raras exceções, é o que infelizmente acontece.
Assim, para tentar preencher esta lacuna, ONGs e projetos da iniciativa privada buscam meios para de alguma maneira estabelecer este importante diálogo entre educação e cultura. Em Salvador, o Projeto Mediação FIAC vem sendo o mais expressivo representante deste universo e por isso iremos conhecer um pouco mais dele agora.
O Mediação FIAC (Programa de formação em Artes Cênicas) é um programa de ações formativas desenvolvidas junto a educadores e estudantes de escolas estaduais e municipais, ONGs e associações comunitárias. Em 2013 ele passou a fazer parte do conjunto de ações em apoio ao teatro baiano, promovidas pela Braskem em comemoração aos 20 anos do Prêmio Braskem de Teatro (Confira nosso especial sobre a premiação clicando no link). O projeto tem a coordenação pedagógica de Rita Aquino, da Realejo Projetos.
Siré Obá no Solar Boa Vista – Foto de Aldren Lincoln
Na sexta-feira (19 de outubro de 2013) fomos convidados para mais um evento planejado pelo projeto, que consistia em uma visita guiada pela estrutura do Cine Teatro Solar Boa Vista, em Brotas, seguida da apresentação do Espetáculo Siré Obá e um bate papo com todo o elenco ao final da apresentação. Sobre o espetáculo, clique aqui e leia a nossa crítica.
O teatro estava cheio, com crianças e pré-adolescentes de algumas escolas publicas de Salvador. Inicialmente este é o foco do projeto, trabalhar com escolas publicas, ONGs e associações comunitárias. Entramos pouco antes da previsão de início da peça, que era 16 horas, mas ela acabou atrasando em alguns minutos. O que em tese seria motivo para uma dispersão total, acabou sendo um bom exemplo de como se comportar em um teatro. As crianças ficaram em sua grande maioria sentados, esperando pacientemente pelo começo do espetáculo. Houve também a interferência de um dos educadores, que então promoveu um primeiro bate papo entre eles. Bem interessante.
Esse comportamento exemplar, segundo Rita, é mais acentuado quando as turmas fazem antes do espetáculo a visita guiada, onde eles conhecem cada um dos componentes de um teatro, e percebem que lá há trabalhadores normais, como em qualquer outro local, além de perceberem que aqueles espaços – publicos – são deles também. Construir esse diálogo diferenciado entre as crianças e esses espaços publicos (ou não) acaba sendo uma interessante e produtiva maneira de incentivá-los a cada vez mais serem bons consumidores de cultura. Neste aspecto o projeto acerta em cheio.
Rita também destaca a importância estratégica dos professores-educadores das escolas envolvidas. Na verdade, será graças ao empenho destes professores que teremos – num futuro próximo – uma nova geração de espectadores/consumidores de arte em Salvador, na Bahia e no Brasil. Uma geração mais comprometida em vivenciar, contemplar e respeitar todas as manifestações artísticas, sem preconceitos e muito menos com a falta de educação que vemos em muitos de nossos espaços culturais. Essa é uma tarefa das mais árduas, mas também das mais necessárias.
Siré Obá no Solar Boa Vista – Foto de Aldren Lincoln
Essa relação entre projetos como o Mediação FIAC e os professores se mostrou, ao menos na experiência vivenciada na sexta-feira passada, muito benéfica. A equipe coordenada por Rita tinha bastante controle das situações, o que é um enorme elogio se levarmos em consideração que tomar conta de uma grande turma de crianças é trabalho dos mais complicados. Mas tudo saiu bem, e eles mostraram-se bastante capacitados para estas funções. Já os professores que estavam no Solar Boa Vista vestiram a camisa do projeto e foram bem participativos. Percebia-se que havia entre eles uma relação diferenciada com a arte, com a cultura, e seria muito bom que isso se transformasse em uma regra em nossa estrutura educacional.
Poderia ser assim, e somente não é por conta de uma ainda ineficiente política educacional publica. Por conta disso, precisamos – e muito – que projetos como o Mediação FIAC sobrevivam e ganhem cada vez mais fôlego e adeptos.
Então, se você é educador e ficou interessado em entrar para esse fundamental projeto visite o site e peça algum auxílio, certamente alguém da equipe irá retornar seu pedido e lhe ajudar em todo o processo.
E se você é um empresário, busque saber mais sobre o Mediação FIAC, e saiba que investir em educação e cultura não é somente um bom negócio, mas acima de tudo é um meio de ajudar no desenvolvimento de sua cidade, de seu Estado, de sua nação…
Visitem, conheçam e participem.