Salmo 91
“Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido”. É com essa expressão da oração do Salmo 91 que é encerrado de forma sensacional, o espetáculo, que leva o mesmo nome – Salmo 91 – um texto de Dib Carneiro Neto, que nada tem a ver com religiosidade, mas tem como tema central o massacre do Carandiru – 1992 – baseado no romance de Dráuzio Varela, Estação Carandiru.*
Uma peça dirigida por Djalma Thürler, dramaturgo e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que conta em seu elenco, com cinco talentosíssimos atores: Fabio Vidal, Rafael Medrado, Lucas Lacerda, Duda Woyda e Lucio Tranchesi Rubio interpretando dez personagens (cada ator – dois) e que traz reflexões e indagações interessantes que vão além das grades do presídio.
Salmo 91
Um texto com tanta intensidade e ao mesmo tempo, leveza. Que conta uma história – real – tensa, triste, trágica, mas com pitadas reflexivas, cômicas e da vida como ela realmente é – dentro e fora das penitenciárias.
No palco pode-se observar, em cada personagem, os contrastes sociais, as indagações e os conflitos ético-morais, os reflexos de uma criminalidade formada pelas carências sociais, e quão falho e destruidor pode ser o sistema social e penal. Levando o espectador, com certeza, a refletir de forma ainda mais politizada, não só, por remeter ao massacre no Carandiru e vivenciar – junto com as personagens – as angústias e pressões de tudo que ocorreu naquele pavilhão, bem como, retratar uma realidade estereotipada por negros, gays, que são marginalizados pela sociedade, mas que também, lutam por voz ativa, dentro e fora das cadeias e, que estando nelas, não sentem o peso de seus atos ou tem arrependimentos, talvez por fazer parte da sua rotina, fora delas.
Um espetáculo extasiante, com um cenário criativo e instigante, atores bem preparados e viscerais, uma perfeita luz, sonoplastia, direção, enfim, com todos os aparatos necessários para conduzir a plateia ao frisson e delírio, como pude presenciar no Teatro Moliére, na apresentação da peça, no FILTE 2012 (Festival Latino Americano de Teatro) ao qual estava presente não como crítica teatral, pois não sou, mas apenas como uma boa amante do bom teatro, uma espectadora que vibra e torce, e que acima de tudo, sente-se imensamente feliz em saber que aqui, em Salvador, se produz sim, espetáculos memoráveis.
Angel Marques é atriz e escritora. Seus textos podem ser lidos no blog O Exercicio do Amor Próprio.