Música

Festival 5 Minutos 2011 – Programa 4

5 Minutos

Mostra competitiva do Festival Nacional 5 Minutos. Comentários sobre o Programa 4 – 12 vídeos.

1. Saco de Pancadas, de Isaac Chueke (2010, Recife-PE).
O curta-documentário fala da vida de Mauro Shampoo, ex-jogador do IBIS Sport Club, considerado o pior time do mundo. Mauro fala de sua trajetória pelo time: nunca ganhou nada e o único título que tinha era o título de eleitor. Conta, inclusive, que já pediu para o time adversário não fazer gol em dias de campeonato. Em dez anos de profissão só havia feito um único gol, nesse dia o time dele perdeu de 8X1. O fato de ser fracassado é encarado de forma engraçada, ele parece ter feito disso seu motivo de humor. O curta se vai com a platéia de sorriso no rosto. Rápido e divertido.

2. A passagem, de Marc Dourdin (2011, São Paulo – SP).
O curta é um documentário sobre a vida de Itha Rocha, uma carpideira contratada para chorar em velórios. O mais interessante nesse trabalho é a forma como a Itha encara a morte: como uma coisa bonita. Mais ainda, encara a profissão como uma doação. A carpideira é uma “doadora de lágrimas” e “as lágrimas ajudam na passagem” dessa para outra vida. A mãe dela, além de parteira, tinha a mesma profissão que ela (sua paixão vem desde a barriga da mãe – conta ela). Para ela, o choro lava a alma e a morte é apenas uma das bandas de uma mesma laranja, vida e morte são a laranja inteira. Quando a gente morre as bandas se juntam e o ciclo da vida se completa. Um curta fantástico, além de suscitar sorrisos, faz refletir.

3. Essência, de Daniel Rabanéa (2011, São Paulo – SP).
Animação que fala de algo que pode ser escasso em pouco tempo e que é a essência de toda a vida: a água. Ele tenta em vários lugares encontrá-la e não consegue: no chuveiro, na torneira, na banheira, etc. Em todos os instantes de busca o desalento do personagem parece contaminar. É um apelo exagerado, mas talvez seu ponto forte seja exatamente esse.

4. Ekwapa, de Luiz Chaves (2010, Lençóis – BA).
Documentário que tenta mostrar supostamente como se formou um povoado localizado ao norte de Moçambique. “Viemos de onde o sol se põe”, e em caminhada longa o curta mostra, numa narrativa feita pelo chefe da tribo, como foi esse caminho. Ficaram em cavernas, comiam frutos e animais e seguiam para vencer mais uma guerra. Por fim, um assobio de suspiro, um suspiro de descanso depois da viagem e um finco de identidade, lá nasce seu povo, onde a bússola não mais será necessária. Hoje esse povoado se chama “Vila de Ancouabe”. Excelente documentário, sobretudo por seu poder histórico.

5. LTDN, de César Meneghetti (São Paulo – SP).
Com imagens de eventos históricos ao fundo, o curta segue como que numa espécie de movimentação de um poema. Esse poema serve como fundo sonoro para as imagens. Fala sobre terrorismo, ditadura, golpes, etc. É um bom trabalho, entretanto, extremamente seletivo, ou seja, atinge um número bem reduzido de pessoas, sobretudo por seu poder de abstração e compreensão. Os textos em várias línguas dificultam ainda mais esse entendimento, o português fica quase que esquecido no meio de todas essas frases.

6. O vermelho de Selarón, de Rafael Bacelar (2010, Rio de Janeiro – RJ).
O curta já ganha ponto desde os primeiros segundos pela boa fotografia. É um documentário que conta a história de um pintor chileno radicado na cidade do Rio de Janeiro chamado Jorge Selarón. Ele decorou uma escada nas proximidades da Lapa (Centro do Rio) com azulejos de vários lugares do mundo, também fala de sua relação com o vermelho, de como esse tom fez dessa escada uma celebridade. O mais interessante, sobretudo, é a relação de identidade que ele estabelece com o espaço como sendo sua melhor obra de arte. Ele apresenta, como pai orgulhoso, sua melhor criação. Tocante, agradável, belo!

7. Fotobiotridimensionalidade, de Henrique Monteiro (2011, Duque de Caxias – RJ).
Montagem feita a partir de fotografias feitas de um mesmo personagem em vários momentos do dia: dormindo, na janela, ao celular, lendo, fazendo tarefa de casa, etc. preso numa rotina que o entendia. Nada parece interessar. É um bom trabalho. Talvez o que mais choque no filme seja esse tédio como parte do cotidiano de um pré-adolescente que deveria se encantar por computadores e vídeos-game. Um pouco diferente dos já vistos, por se tratar de uma sobreposição de imagens que num primeiro momento seriam fixas, entretanto, o curta merece elogio pela ousadia.

8. Jardim das Delícias, de Leonardo Minosso Bassotto e Gustavo Brazzalle (2010, Florianópolis – SC).
Um vídeo clipe em animação da música que dá título ao curta. Um trabalho que pode ser bom enquanto animação, mas que não sugere nenhuma história ou seqüência lógica.

9. Remoto controle remoto, de Rodrigo Olaio e Bruno Bask (2011, São Paulo – SP).
Animação prodigiosa que sugere uma reflexão sobre o papel da família, do contato, do diálogo. Um personagem à frente de uma televisão é indiferente ao  a presença do irmãozinho, da mãe e do pai.  O tempo inteiro está ligado aos vários canais porque passa, até que por fim, ao ouvir a família conversando e sorrindo num outro cômodo da casa, ele percebe que as risadas artificiais do aparelho de TV são menos interessantes do que essa troca com as pessoas que o cercam. Crítica indireta e de uma delicadeza incrível. O caráter didático, por se tratar de uma animação com um belo tema para discussão, faz do curta um trabalho bem promissor.

10. Indigesto, de Fabiano Passos (2010, Salvador – BA).
O nome do curta já sugere uma refeição que não cai bem. Essa refeição feita em total silêncio celebra o final de uma relação. As imagens de souvenir de vários lugares parece indicar que a relação de outrora não fora ruim. As falas ao fundo, como se os objetos e não o casal conversassem, é uma espécie de leitura de pensamentos. Uma maçã partida em dois pedaços indica o fim. A ousadia da forma merece algum elogio.

11. Soterópolis de Ruy, de Caó Cruz Alves (2011, Salvador – BA).
Animação com cenas reais dos pontos turísticos de Salvador: as gordinhas de Ondina, uma sereia cibernética, um homem que usa o Forte de São Marcelo como bóia, o Elevador Lacerda vestido de Gandy e que em seguida vira uma guitarra elétrica com som de carnaval, Castro Alves tocando Berimbau, os Orixás num barquinho no Dique do Tororó, explosão da Fonte Nova e o novo modelo do Estádio sobreposto nas ruínas, Vinícius de Morais vendo o suposto Metrô, o Forte da Barra disparando mísseis. A animação é fantástica, entretanto, o tom regionalizado faz dela algo bem particular. Impedindo, portanto, quem não é de Salvador ou não a conhece compreender o vídeo de todo. É uma espécie de “piada interna”. Mesmo sendo de muito bom gosto isso traz ao curta um distanciamento que talvez se fosse evitado agradaria bem mais.

12. The end, de Helio Ishii (2011, São Paulo – SP).
O curta é parte de uma web série chamada “amores reais”. Um homem narra a história de um filme para sua namorada cega. A história da tela toma um rumo que ele distorce para não contar algo ruim para ela. No meio dessa narrativa ele parece se cansar de todo esse trabalho de invenção/imaginação. Começa a dizer frases do tipo: não posso mais ficar com você, não dá mais, etc. Ela pensa que as frases são a continuação da história do filme e pede para ele continuar. Ele a deixa sozinha e vai embora sugerindo assim um ponto final na relação. Razoável.

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