R&J de Shakespeare – Juventude Interrompida
O espetáculo foi parte da programação do FIAC e teve, como vários outros, todas as apresentações com ingressos esgotados.
Por Cristiana de Oliveira
No espetáculo o cenário é simples e projetado para arena. Cadeiras dispostas em círculos, uma mesa ao centro e quadros negros pendurados ao fundo, dos lados direito e esquerdo, marcam o início da encenação. A disposição dos objetos nos remete a uma escola de padres, onde o rigor, a doutrina e o estudo são seguidos e cumpridos à risca. O toque de Sirene que marca o início e o fim das aulas te leva a crer que todas as cenas são feitas nos intervalos e em sala.
O espetáculo é encenado por quatro atores. O texto de Shakespeare está presente, tornando o espetáculo, assim, especialmente agradável, entretanto, o que se tem não é um cumprimento rigoroso do clássico que vive por vários séculos. É como se eles estivessem num grande ensaio, numa grande brincadeira de jovem estudante, por isso, o termo ADAPTAÇÃO deve ser bem marcado quando se fala dessa releitura de Romeu e Julieta. O texto clássico é apenas um grande pretexto para a comédia que usa músicas contemporâneas para marcar algumas falas e fica por isso mesmo mais engraçado.
A impressão que se tem é a de que todo o espetáculo é um grande momento de diversão para os atores, e isso é em algum sentido contagiante. Eles interpretam as falas com uma espécie de transposição moderna de partes do texto, sem preocupação se vão ou não parecer real. Câmara lenta, cadeiras que são cavalos, gola alta e ama coxa…fazem o riso correr sem nenhum esforço. Essa vivacidade dos atores merece destaque, mesmo que alguns, em vários momentos, pareçam bem mecanizados.
Para ver R&J de Shakespeare: juventude interrompida tem que ir sem nenhum tipo de preconceito. Julieta é interpretada por um homem, nesse caso, o beijo entre os dois atores, Rodrigo Pandolfo (que faz Julieta) e João Gabriel Vasconcelos (que faz Romeu) ocorre em vários momentos do espetáculo, podendo mesmo causar algum desconforto para quem não está acostumado.
O espetáculo foi parte da programação do FIAC e teve, como vários outros, todas as apresentações com ingressos esgotados. Uma pena!! Já que a sensação que se tem ao sair do teatro é aquela de pensamento discreto que parece dizer: como eu queria que várias outras pessoas vissem. Vale muito à pena!
Texto: Joe Calarco (tradução de Geraldo Carneiro)
Direção: João Fonseca
Elenco: Pablo Sanábio, Felipe Lima, Rodrigo Pandolfo e João Gabriel Vasconcellos.
* Espetáculo visto na quarta edição do FIAC (Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia). ** O texto original é uma adaptação de Joe Calarco (Prêmio Lucille Lortel).
***Fotografia Luiz Paulo Nenen
Cristiana de Oliveira
Cristiana de Oliveira é professora universitária, crítica cultural e editora do site