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How I met your mother: series finale deixa pergunta no ar: foi bom?

“Who Wants To Be A Godparent” Episódio de How I Met Your Mother

Segunda-feira passada, dia 31 de março, foi ao ar no canal americano CBS o último episódio da série How I Met Your Mother, comédia criada em 2005 por Carter Bays e Craig Thomas. A série, que mostra Ted Mosby (Josh Radnor) em 2030 narrando aos seus filhos a história de como conheceu a mãe deles, teve nove temporadas e um episódio duplo que mostrou finalmente o derradeiro momento em que os dois se conhecem e se falam pela primeira vez.

A cena, uma das mais bonitas e simbólicas de todos estes anos, antecedeu o grande momento de reviravolta da série, agradando uma parcela dos fãs, mas irritando profundamente outra grande parte destes mesmos fãs. As grandes questões resultantes de tudo que se viu são: o desfecho foi bom? O desfecho foi coerente? Talvez os dois? Ou nenhum dos dois?

How I Met Your Mother e seus melhores episódios

Respondendo: os últimos minutos de How I Met Your Mother, os grandes responsáveis por esta irritação geral, foram costurados há muito tempo, tanto que a cena principal foi gravada lá em 2006, quando a série estava saindo da primeira para a segunda temporada. Essa decisão teve dois objetivos: mostrar que o roteiro estava fechado, com início e final definidos, e aproveitar o fato dos então adolescentes filhos de Ted ainda serem… adolescentes. Assim, a resposta inicial diria que o desfecho foi coerente com tudo que a série apresentou ao longo de nove anos. Resta então responder a questão: mas foi bom?

Foi bom?

Esta pergunta é mais complexa e bastante subjetiva. Falar do episódio final (bastante corrido e com carga dramática bem inferior se comparado com outros muitos episódios) isoladamente talvez seja um erro, bastante comum e compreensível, mas ainda assim, um erro. Como diria aquela frase clichê, mas válida, o que vale não é o destino, a linha de chegada, mas sim a jornada, o percurso.

Vendo o quadro mais amplo, fica claro que How I Met Your Mother foi uma das séries mais bem construídas, desenvolvidas e finalizadas da história da televisão. Afinal, quantas comédias deste formato tiveram tanta atenção assim no seu episódio final? Provavelmente a resposta seja: uma somente, e seu nome é Friends. A comparação não é a toa, afinal são duas histórias próximas, que dialogaram bastante em suas jornadas, mas que tomaram decisões diferentes na sua parte final.

HYMYM x Friends

Enquanto Friends se utilizou da idealização da vida, das relações interpessoais, fazendo as escolhas mais confortáveis (para alegria de todos nós), HIMYM buscou ousar, trazer um tom de realidade que de fato já havia mostrado há bastante tempo. Afinal, quem não se lembra do episódio Bad News, um dos mais tristes (ou o mais triste) já vistos numa sitcom. Esta escolha – a do series finale – trouxe desconforto, irritação e raiva, pois deu a entender que o uso da personagem mother (seu nome é Tracy e foi interpretado por Cristin Milioti) teve uma função absurdamente menor do que o título da série indicava.

Os próprios roteiristas perceberam isso e jogaram na boca dos filhos de Ted essa constatação: foram eles que lá nos minutos finais disseram que a história não era sobre como Ted conheceu Tracy, mas sim como Ted se apaixonou em 2005 por Robin Scherbatsky (Cobie Smulders), e 25 anos depois, no ano de 2030, continuava apaixonado por Robin.

Essa constatação no final, que sepultou de vez as chances da mother ainda estar viva, causou certa estranheza, mas não desmereceu em nada o desenvolvimento dos nove anos da série. De fato, pensando bem, era mais que esperado que isso acontecesse, afinal, temporada após temporada, Ted estava lá, declarando seu amor à Robin. Até o penúltimo episódio da série havia esta tensão no ar, então tomar esta escolha do roteiro como reviravolta brusca e apelativa talvez seja demais.

Barney

Porém, com o desfecho dado, fica claro que alguns erros foram cometidos, sobretudo nesta nona temporada, focada exclusivamente no casamento da Robin e Barney (Neil Patrick Harris).

A reclamação, de caráter quase unânime, questiona o fato do roteiro se preocupar durante 22 episódios em construir um lendário e grandioso casamento e no episódio final, em alguns minutos (talvez nem isso) este mesmo casamento ser transformado num divórcio. É a vida, todos podem dizer isto. Porém, os roteiristas já sabiam disso, e por já conhecerem esta informação poderiam ter estruturado melhor toda a nona temporada, para que não soasse uma traição para com os fãs. Robin e Barney tiveram seu primeiro momento de amor lá no final da terceira temporada, ou seja, foram quase seis anos de idas e vindas, então houve no mínimo uma desatenção dos produtores em destruir toda a história dos dois em alguns segundos.

Ainda assim, numa reflexão mais profunda (talvez HIMYM seja a única comédia que algo deste tipo cabe) podemos ver que Barney foi jogado, literalmente, pro lugar que sempre foi dele: a solteirice eterna. Isto é um fato coerente com tudo que foi apresentado nos nove anos. Claro que o ser humano se desenvolve, cresce, amadurece, Barney passou por todo este processo. Mas no final, somos quem sempre somos e nossa essência comportamental vai caminhar conosco durante toda a nossa vida. Barney sempre terá no sangue o pedigree de galinha, mesmo agora sendo pai (o maior presente que a série lhe deu). Ellie, o nome de sua filhinha, provavelmente será a única mulher que conseguirá domá-lo e aqui vão os parabéns aos roteiristas, que lhe deram uma filhinha e não um filhinho. Pense: somente uma filha garota teria este poder de mudá-lo.

Nova Lost?

Voltando a visualizar o quadro ampliado, e trazendo a tona outra grande série que teve um final polêmico, é interessante perceber como o casal Marshall Eriksen (Jason Segel) e Lily Aldrin (Alyson Hannigan) foi a grande constante (alguém se lembrou do Desmond, de Lost?) da série. Em nove anos, mais de duzentos episódios e eles ficaram separados um do outro por apenas alguns momentos (início da segunda temporada). Enquanto que Ted, Robin e Barney passaram juntos por centenas de grandes acontecimentos e reviravoltas em suas vidas, Marshall e Lily sempre estiveram juntos, sendo possivelmente o mais adorável casal da televisão nestas últimas décadas.

Não conseguiria analisar How I Met Your Mother com base somente no episódio final, pois, além de não nos oferecer uma visão mais ampliada e completa do que foi a série, só nos fará sentir aquele agridoce sentimento de que algo saiu errado, de que o bolo passou do ponto. A série, em nove anos de grandiosos episódios (Spoiler Alert, Slap Bet, Something New, The Leap, The Pineapple Incident, Lucky Penny, The Final Page…) não merece isso. Sua jornada continua sendo uma das mais honestas e interessantes da televisão americana.

Ouso dizer ainda que foi mais criativa e instigante que a eterna Friends algum dia foi.

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