Coluna da jornalista Úrsula Neves sobre tudo que acontece no universo da cultura pop
O Voo da bailarina
Quem vê a bailarina Michaela DePrince no álbum visual Lemonade, da cantora Beyoncé, na faixa Freedom, que fala sobre a igualdade racial, não imagina os percalços que a jovem passou para chegar até ali. Quando nasceu, seu tio falou para seu pai: “É uma pena que o Hamarttan tenha lhe trazido uma menina… Uma menina manchada e inútil que não vai nem conseguir um bom dote para você”. O ódio do tio contra a sobrinha que, além de mulher, nasceu com vitiligo, gerando o apelido de “menina demônio”, contrasta com a bondade dos pais. Desde cedo, Mabinty, nome de batismo de Michaela DePrince, foi incentivada a aprender a ler e a escrever, o que era incomum na aldeia.
Nascida em uma Serra Leoa devastada pela guerra civil, Mabinty teve que aprender a superar a dor da perda de seus pais. A mãe morreu de febre de Lassa, enquanto o pai foi brutalmente assassinado pelos jovens rebeldes da Frente Revolucionária Unida. Sem a família, o tio Abdullah a vendeu para um orfanato. Foi lá que os rebeldes cruzaram novamente o caminho da futura bailarina, na época com apenas quatro anos. Os debils, como eram chamados, invadiram o local para transformá-lo na nova sede do grupo.
Transferida para um campo de refugiados, tudo mudou quando Mabinty e sua melhor amiga foram adotadas pela família americana DePrince. A partir daí, novas oportunidades se abriram para as meninas. Como Michaela relata no livro: “(Emma) havia me defendido, protegido, assim como minha mãe africana teria feito. Ela era minha mãe a partir de então. Fazia muito tempo que não me sentia protegida”.
A vida nos Estados Unidos era totalmente diferente da que deixou em Serra Leoa. E foi lá que Mabinty, agora Michaela DePrince, pôde investir em sua paixão pelo balé. O que antes era apenas um sonho estampado em uma revista, tornou-se realidade quando sua professora de dança a inscreveu para um curso de verão no Dance Theatre of Harlem, conceituada academia de balé de Nova York. E este foi apenas o começo. Michaela também tem passagem pelo American Ballet Theatre, Jacqueline Kennedy Onassis School, South African Ballet Theatre’s. Desde 2013, Michaela integra a Dutch National Ballet, em Amsterdam.
Michaela DePrince estudou com bolsa integral na Rock School for Dance Education e na Jaqueline Kennedy Onassis School do American Ballet Theatre. Atualmente, Michaela é bailarina profissional e dança na Dutch National Ballet, uma das melhores companhias de ballet do mundo. Michaela estrelou o documentário First Position, indicado ao NAACP Image Award. Em 2012, foi incluída na lista dos 18 jovens mais surpreendentes do ano do Huffington Post.
Elaine DePrince é mãe adotiva de Michaela e coautora deste livro. É também autora de Cry Bloody Murder: A Tale of Tained Blood, além de compositora e proprietária da gravadora independente: Sweet Mocha Music LLC. Formada na Universidade Rutgers e ex-professora de educação especial, Elaine, após criar cinco filhos, tirou licença da faculdade de direito em 1999 para adotar uma criança africana. Ela costuma dizer que a necessidade era tão grande que acabou adotando seis crianças. Elaine mora em Nova York, mora com o marido e as cinco filhas mais novas.
Serviço
O Voo da bailarina Taking flight
Michaela DePrince
Páginas: 272 Preço: R$ 39,90 Tradução: Sandra Martha Dolinsky
Editora: BestSeller | Grupo Editorial Record