Coluna de Helena Prado sobre tudo que o universo pode oferecer; um espaço para contos, crônicas, textos, relatos…
Letras Irreverentes: Está faltando homem no mercado?
Juliana é uma mocinha de 22 anos, uma gracinha, muito fã do Facebook, apesar de viver outros prazeres muito mais legais. Mas viciou-se e não faz coisa alguma da sua ociosa vidinha, além de em determinadas temporadas frequentar uns lugares bem diferentes com outra turma.
Ela terminou neste ano a faculdade de MODA na FAAP. E adora criar seu próprio estilo, que, diga-se, tende a ser bem diferente da maioria das meninas que se vê por aí. Nada a ver com a meninada da idade dela. Futuramente pretende trabalhar com isso, que é o seu grande sonho. Mas por enquanto ainda não trabalhou em nenhum lugar.
E diz aos pais, quando é cobrada: calma, aê! Terminei agora e vocês já querem me botar na roda pra trabalhar?
Ela é muito descolada e seu jeito de ser e de se vestir não tem nada a ver com marcas famosas e conhecidíssimas. Consumismo também não faz a sua cabeça. Também não é chegada a cabeleireiros com frequência. Seu jeito é outro, mais à vontade, cabelos meio desarranjados, na dela…
Juliana é filha sanduíche de um casal ainda jovem, que, pra ela, está com o pé na cova.
Apesar de Ju estar com 22 anos, ela é bem amadurecida. Talvez porque goste muito de ler. E devora livros, uns atrás dos outros. Mas tem andado um pouco preguiçosa neste sentido, mesmo que não admita e tenha pavor de ouvir isso de sua mãe. A verdade é que quanto mais ela frequenta o Facebook, menos ela lê. E anda pra trás feito caranguejo. Separando alguns assuntos de interesses de certos grupos, o face emburrece e não perdoa mesmo. Além de viciar, as pessoas deixam de conversar, ir ao cinema assistir a um bom filme, ler um livro legal, ir ao teatro etc.
O assunto predileto de Ju e sua turma de face é o sexo oposto. E é também o que mais se fala, não só no face, como também nos bares, restaurantes, casas de amigos, salas de espera de espetáculos, quando elas se encontram fora daquela tela onde tudo acontece.
miau
Quando deixa o face de lado, lê muito e ouve sempre um vinil de sua banda predileta. Isso é imprescindível para ela.. E costuma encontrar-se com a outra turma que também adora. E às vezes sai por aí com sua Freitag “recheada” com seu MacBook e seu iPhone, vestida com seu jeans skinny e uma blusinha vintage estampada com um gatinho muito fofo e usando seu chapéu Fedora.
Nos pés, rolam os tênis AllStar.. Sim, para completar seu visual, põe no nariz os indispensáveis Ray Ban Wayfarer, de muitas cores. Uma para cada dia ou roupa.
Juliana é da paz. Vive de bem com a vida, é muito descolada e, como vários de sua turma, não permite nem dá abertura para que questionem o seu jeito de se vestir. Embora ela tenha cara de anjo, as pessoas não entendem, mas também não têm coragem de perguntar a que tribo ela pertence, se o jeito de ela se vestir tem algum significado etc. Ela é extravagante e ponto.
Como todo hipster que se preza, ela odeia tocar no assunto, prefere não falar nada a respeito. É um jeito de ser com o qual se identificou, curtiu e, quando se deu conta, já era uma hipster toda estilosinha.
Um dia seu cérebro deu um toque: tipo se liga, meu!
Juliana, então, resolveu ouvir o babado: dê um tempo no Facebook. Assim, despedindo-se das amigas que ficaram sem chão, ela saiu…
Fato é que Juliana é muito divertida, muito inteligente e nasceu líder por natureza. Interessa a ela ler sobre vários assuntos, menos política, “matéria” que ela não entende nada, e é de uma ignorância brutal, além de sentir verdadeira ojeriza.
Juliana
Reunir-se com amigos com o mesmo jeito dela, ouvir inúmeros vinis, descolar e trocar gadgets da hora, e saber para que servem, e conversar soltinha com os amigos é muito legal e faz bem a ela.
Claro que antes disso tudo, produzir-se é o ponto alto do programa. E mexe e remexe no seu armário, procurando novidades, vestidos da vovó que estejam inteiros, bem vintage, com detalhes de renda e lindinhos como ela. Nos pés umas botinhas e pronto. Um chapéu compõe o visual. Só faltam mesmo sua Freitag e tudo que carrega dentro. Desde o MacBook, seu iPhone e outras besteirinhas, além de seus maravilhosos Ray Ban Wayfarers. Passou uns dois ou três meses assim, até que voltou para o face. E suas amigas adoraram e fizeram a maior festa.
Um dia bateu um gato à sua porta, digo no seu face, solicitando amizade. Como ele era muito gatinho, ela, mais do que depressa, correu pra liberar a amizade, sem nem ao menos verificar no face dele quem era ele, seus amigos, pra que “time” ele torcia, essas coisas ou cuidados que todos devem ter. E que, mesmo que não impeçam bandidos de circularem livremente pela sua vida – sim, no caso de Juliana, seu face era sua vida – se não for de sua turma sei lá, Moda, por exemplo, você vai peneirando e se livrando de alguns que nada têm a ver com você. Pra no futuro não ter o constrangimento de ter que bloquear a pessoa.
E daí, junto com Eduardo, o nome do Miau, vieram muitos outros gatinhos e gatões ou não, mas vieram. Todos amigos dele. E Juliana descobriu que o assunto predileto do Miau e de sua turma era política. Assunto do qual ela não entendia chongas, mas que resolveu estudar rapidinho, tipo fazendo um “curso intensivo”, como, por exemplo, ler “um” jornal “inteirinho” por semana e ficar ligada e fissurada em todos os posts dele e dos amigos, nas respostas que todos eles davam e nos nomes dos políticos.
Numa quarta-feira, mais precisamente no dia 19/10/2016, o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, a bruxa sórdida do Congresso Nacional, foi preso pela Polícia Federal.
Torcidas de todas colorações deliraram. O cara tinha em suas mãos a República inteira. Logo, ninguém conseguia tirá-lo do cargo que ocupava. Ele vivia de chantagens. Até que finalmente renunciou para não ser cassado. E Miau explicou pra Juliana: embora os vermelhos estejam na bacia das almas, acusavam outras colorações de serem partidárias do rato que foi preso no susto e sem alarde. Tudo mentira.
Aliás, disse Miau para Juliana, os vermelhos estão tão desesperados e são tão indecentes, que chegaram a ponto de votar contra a liberação de R$ 1,1 bilhão para o FIES e ENEM, ignorando que os mais pobres, para quem eles sempre disseram que iam governar, recebessem esta verba para poder estudar. Mas, bem feito!, não conseguiram atrapalhar, falava Miau exacerbado. E a verba foi liberada. Seria o cúmulo da maldade com os pobres, que não têm como estudar. Por que fizeram isso, Miau? Porque quem liberou a verba foi o Temer. Para Juliana era tudo grego, mas ela ficava calada tentando entender. O Miau valia o sacrifício. Ora, Juliana, que importa se foi Temer, se foi Dilma ou Tiririca? Eu jamais votaria em Michel Temer. Mas é o que temos para o momento. Então, vamos ajudar os menos favorecidos, pô!, dizia cada vez mais inflamado o Miau.
Entre aulas de política, homens e mais homens com as amigas, e moda também com as amigas e amigos, Juliana ouviu um certo blablablá, acerca de uma escolta de um tal de Eduardo Cunha.
Correu para o Google pra saber quem era o cara. E teve tempo suficiente pra saber tudo que precisava pelo menos naquele momento, até encontrar o Miau.
E ficou enlouque……… , sem querer, gritou para o computador: o que é isso, meninas? Rapidinho, foi ao face e digitou: Eduardo Cunha foi preso e escoltado por um Hipster muito gato…. Desesperadas, todas as suas trezentas seguidoras de 25, 30, 40, 50, 60, etc, nenhuma surda, “ouviram” o recado de Juliana, imediatamente.
E aí foi uma loucura, porque todas tiveram a mesma ideia: descobrir quem era o cara. Juntaram-se num mesmo propósito. E fizeram um trabalho de “gente grande”, uma varredura no face.
Ju e amigas
Mestras em descobertas, pareciam ter sido alunas de Hercule Poirot.
Em apenas 1h, descobriram o cara no Facebook, a vida inteira do jovem que, junto com outros policiais federais, havia feito a escolta do miserável e, se possível e correto fosse falar, hediondo Eduardo Cunha.
Completamente sem noção e abusadas, e muito pior e alarmante, sem um pingo de amor próprio, um tanto ou quanto vagabundinhas também, com zero de auto estima, dando a impressão de que qualquer poste barbudo que vissem pela frente, com um coque samurai na cabeça e um corpo saradão, diriam o mesmo que deixaram escrito no face do rapaz.
Foram montanhas de mensagens impublicáveis, junto com milhões de outras tantas que chegavam ininterruptamente, nos mesmos moldes das que a turma de Juliana deixou. A mais fraquinha delas, escreveu no face do rapaz: “Gente, e esse hipster da Federal? Me prende, me delata, me usa.”
Pelos jornais sabia-se que havia uma multidão de mulheres imbecis, cretinas e sem o menor senso de ridículo, quanto mais crítico, que queriam porque queriam entrar à força na delegacia. E mais e mais mulheres iam chegando e gritando: me prenda, vou cometer um crime, me segura, eu vou desmaiar…Se você não me prender, vou me matar.
E mais uma montanha de aberrações que agora enjoei de falar.
Só sei dizer que foi uma noite de horrores naquela delegacia, para nunca mais ninguém esquecer. Sendo que a escolta foi feita de dia. Absurdo!
E o policial, que nada fez além do seu trabalho, teve de ir para outro setor da Polícia Federal.
Com sua vida vasculhada, vieram à tona até suas preferências políticas. E os vermelhos, que ali estavam para elogiar e falar as mesmas coisas que todos falaram, passaram para a agressão, chamando-o de fascista, de ser a favor de Bolsonaro (que é o que há de pior na extrema direita, se é que possível haver alguma coisa boa em algum extremo) e todos os xingamentos padrões, que já não incomodam mais ninguém. Tudo porque, como diria nosso mais “puro” político (mais puro até que Jesus Cristo, segundo o próprio), foram “futucar” a vida do policial e descobriram que ele não votou em Dilma e não gosta do PT .
O Miau ficou procurando um tempão por Juliana. Telefonou pra ela várias vezes e mandou várias mensagens pelo WhatsApp. Como não recebeu nenhum retorno, cansado, desistiu..
Juliana tinha ido comemorar a grande palhaçada e o ridículo que aprontou com suas amigas de Facebook. Todas elas se nivelaram pela baixeza e pela idade, digo 22 anos. As amigas de 60 e tantos junto com as de 50, 40 30 e 20, enfim, todas elas, viraram “enfants terribles”.
Já alteradas pra caramba e falando muito alto pra quem quisesse ouvir, o assunto homem tomou um rumo indecentemente inesperado. Começaram a dizer quais as melhores posições para transar, onde gostavam de ser tocadas, em que lugar preferiam “amar”, que no chão e no elevador era o máximo. Que no banho, disse uma delas, era erótico mas machucava para o pênis entrar. Questionada por quê, ela respondeu: não escorrega, é difícil de entrar, sai aquele “creminho” natural. Juliana falou: não é creminho, Teresa. É lubrificação. Enfim, o assunto “homem” foi esmiuçado, em alto e bom som, até elas mesmas enjoarem. Ou estarem completamente bêbadas o suficiente para irem cambaleantes embora. Um verdadeiro horror, um nojo!
Juliana, que é uma verdadeira gracinha, tornou-se absolutamente vulgar. Se ela, que tem somente 22 aninhos ficou vulgar, imagine como ficou uma velhota de sessenta ou cinquenta “aninhos”? Uma coisa indecente, pavorosa, horrorosa, ridícula, sem noção, sem critério, bah!
Hipster da Federal
Depois de agirem assim, ouvir dizer que não tem homem no mercado dá vontade de descer o cacete em cada uma daquelas mulheres que algum dia falou esta frase.
Eu duvido que algum homem goste de saber que uma paquera sua, ou que alguma namorada aja dessa maneira na sua ausência e que depois fica tudo bem quando se encontram.
Eu tenho a ligeira impressão de que o que falta no mercado é batata, tomate, alho, cebola, chuchu ou qualquer outro produto.
Homem é que não é. Homem tem de montão. Basta que você não seja vulgar, basta que você não se atire pra cima de nenhum deles, basta que você não seja desesperada e saiba esperar. Basta que, acima de tudo, você saiba se gostar. Que em seguida e juntinho logo vêm a sutileza, a delicadeza, a autocrítica, a sensibilidade e a beleza interior.
Barbudo e com coque samurai, Lucas Valença é policial federal, desde 2012, pela 2ª classe da PF. Paraquedista, é membro da Federação de Paraquedismo do Distrito Federal. O agente está solteiro. Mas não vai ser assim, não, que ele vai deixar de ser, “meninas”.
Sosseguem o facho!
Aos 17 anos publicava minhas crônicas no extinto jornal Diário Popular. Foi assim e enquanto eu era redatora do extinto Banco Auxiliar, um porre! Depois me dediquei às filhas. Tenho duas, Paola e Isabella. Fiz comunicação social. Mas acho mesmo que sou autodidata. Meu nome é Helena e escreverei aqui aos domingos.