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Letras Irreverentes: Mulé

Coluna de Helena Prado sobre tudo que o universo pode oferecer; um espaço para contos, crônicas, textos, relatos…

Mulé

Tu tá brincando com fogo, hómi… Se o teu coração tá gelo, o meu tá cru, tá nu em pelo.

Não pude sonhar contigo.

Quando comecei a dormir e a ouvir tua voz me chamando mulé, achei  conveniente acordar e tomar um banho gelado.

Aí voltei pra cama, essa camona e eu sozinha, e ensaiei um outro sono.

Eta mundo bão

E a voz voltou a me atormentar: mulé, mulé, posso te falar uma coisa? Eu disse inebriada: fala aí, hómi, mas fale com cuidado porque sou meio tresloucada. Fale alto e de onde está. Nem chegue perto pra não me atormentar, daí mesmo, bem de longe, cumpádi.

A voz fez pouco de mim, não me levando a sério. E junto apresentou sua mão, pura provocação. Veio vindo, vindo, encostou no meu ouvido, afastou os meus cabelos, fez com que eu ficasse arrupiada… Ai!

E disse-me bem baixinho: chega mais, mulé. Vem, mulé. Mulé, é, mulé, é…

Dei-lhe um tapa e pensei: êta, mão abusada!

Não bastasse a voz, surge do nada essa mão safada. Que segura na minha nuca e me torna arrevesada.

Gritei alto: socorro, te afasta, safada! Ocê num sabe com quem tá mexendo, sou de fato afogueada. Depois tu num reclama de mim…

O que é mesmo que tu qué, hómi? Perguntei para a voz, já interessada.

Lampião e Maria Bonita

Respondeu a voz, direto no meu ouvido: quero ter tu, mulé. Mulé, é…

Porque sei que tu também me quer, mulé retada.

E nóis se amou como se ama de verdade. Ele em mim…., e eu louca, adorava. Ele me disse: tu é bardosa, muito  dengosa!….

De repente, meus olhos abriu e vi que tava toda encharcada.

Mais suei, que suei, e disse: cadê tu, hómi? Por que tu sumiu?

Porque foi um sonho, mulé levada.  Tu disse que num podia sonhar comigo, lá no início, tá lembrada?

Assim terminou o amor, sem eu saber se amei ou fui amada.

Aos 17 anos publicava minhas crônicas no extinto jornal Diário Popular. Foi assim e enquanto eu era redatora do extinto Banco Auxiliar, um porre! Depois me dediquei às filhas. Tenho duas, Paola e Isabella. Fiz comunicação social. Mas acho mesmo que sou autodidata. Meu nome é Helena e escreverei aqui às quartas-feiras.

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